[Michelson Borges] Recentemente recebi
e-mail de um irmão músico que se mostrou preocupado com certos tipos de
produções musicais que têm se tornado comuns no meio adventista. Antes de
entrar no assunto, gostaria de reafirmar que admiro muito os cantores e músicos
de nossa igreja; apoio tanto quanto possível o ministério deles e oro por eles,
pois reconheço a importância da música juntamente com a pregação da Palavra e
outros ministérios importantes da igreja. No entanto, não podemos tapar os
olhos – ou os ouvidos – e fazer de conta que não há problemas.
Assim como são criticados maus sermões
– como os sermões humanistas desprovidos de conteúdo bíblico que de vez em
quando são proferidos de nossos púlpitos – ou mesmo um artigo publicado em
alguma revista ou um livro com conteúdo duvidoso, entendo que podemos e devemos
avaliar a música de louvor que vem sendo produzida por músicos da igreja. E
assim como o pregador e o autor de um livro/artigo devem estar abertos a ouvir
as críticas e observações e ter maturidade para aprender e crescer com elas,
essa deveria ser também a postura dos músicos, afinal, quando o assunto é
louvor, minha vontade não deve prevalecer, mas, sim, as balizas providas pela
Bíblia e pelos livros de Ellen White (como o ótimo livro Música,
da CPB), que contêm princípios mais do que suficientes para reger a boa música
adventista de louvor.
O irmão me disse estar muito triste ao ver o crescimento de uma
tendência. “Como músico, não consigo definir a maioria das nossas músicas
recém-lançadas como além de música gospel-adventista”, define. “Já pedi para
colegas não adventistas escutarem essas músicas e darem sua opinião
‘imparcial’; eles sempre definem como um gênero próximo ao pop-rock ou
simplesmente música gospel.”
Ele diz que, atualmente, o que lhe preocupa e parece paradoxal é
o incentivo à dança presente em muitas músicas. “Tocamos em nossas igrejas
estilos musicais dançantes e esperamos que nossos irmãos não dancem, que fiquem
apenas no nível auditivo. Mas até quando isso durará? Não estamos criando um
paradoxo?”, ele questiona.
Segundo ele, os jovens da igreja não têm tido a oportunidade de
conhecer a estética e a maneira de transmitir as verdades bíblicas por meio da
música sacra. Para o músico, “as várias estéticas presentes na música sacra das
diversas épocas nunca comunicaram a dança; ao contrário, o dançar via de regra
sempre esteve ligado à música popular, secular ou profana” – especialmente em
nosso tempo e em nossa cultura, os quais devemos, como igreja, sempre levar em
consideração.
O irmão que me enviou o e-mail acredita que a próxima questão a
ser discutida não será mais sobre o uso da bateria no louvor, mas, sim, se a
dança é ou não aceitável para os cristãos em nossa cultura e em nosso tempo,
especificamente no Brasil.
Em seguida, ele propôs dois casos fictícios, mas possíveis:
Caso 1: Imagine um homem de cerca de 27 anos, professor
universitário, batista, fez seus estudos de piano clássico, fez mestrado em
educação musical e doutorado em regência com foco em música sacra. Em certo
momento ele conhece a mensagem adventista e decide ser batizado. Ele começa a
rever sua vida e sua cosmovisão e inicia em sua vida um processo de
santificação com a ajuda do Espírito Santo. Depois disso ele
decide dedicar boa parte de seu tempo livre, que é um tempo razoável, a
algum projeto da igreja. Ele acharia em nossas igrejas um campo fértil
para o ensino da música sacra?
Caso 2: Imagine um homem de cerca de 28 anos, guitarrista de uma
grande banda de rock,
compositor e um músico muito bem realizado que sempre faz masterclass sobre
música popular e estilo rock para jovens
músicos que pretendem seguir essa carreira. Certo dia ele é apresentado à
verdade e decide entregar a vida a Jesus. Depois de batizado, ele decide se
santificar e pede também ajuda ao Espírito Santo. Tendo em vista os
estilos musicais predominantes e diariamente oferecidos à nossa igreja, e
considerando que a música erudita e a estética sacra tradicional, que embora
existam em nossas universidades não são apresentada à grande maioria dos
membros, qual dos dois músicos encontraria mais rapidamente um campo de
atuação?
O músico cita Ariano Suassuna: “O cachorro só come osso porque
só lhe damos osso”, para perguntar: “Quem vai gostar de música sacra, se só
oferecemos como opção música gospel? Quem deveria divulgar a música sacra, o
mundo secular? Como alguém poderia gostar de comida vegetariana se nunca
teve a oportunidade de comer uma boa comida feita por vegetarianos?”
Por esse e outros motivos fiquei feliz com a notícia de que o
Hinário Adventista passará por uma atualização a fim de ser mais relevante para
a atual geração (confira
aqui a notícia). Nele haverá a inclusão de novos hinos e a
retirada de hinos em desuso, cujas letras não mais comunicam aos adoradores
desta época. Mas o que marcará todas as canções serão as melodias adequadas ao
louvor (e não dançantes) e as letras com conteúdo teológico sólido, que
ajudarão a fixar verdades eternas na mente dos que as cantarem.
Um dos aspectos mais importantes envolvidos no grande conflito
entre o bem e o mal é exatamente a adoração. Por isso, esse assunto deve ser
levado muito a sério e ser alvo de nossas mais fervorosas orações. Oremos pela
nossa igreja, pelos nossos músicos, pela nossa gravadora, pela comissão do novo
hinário e por nós mesmos, a fim de que Deus promova a unidade na diversidade e
Se agrade do que Lhe oferecemos em termos de louvor. [MB]
Nota 1: Fica terminantemente proibido o uso deste texto para fins
de ataque ou de crítica pela crítica. Não foi com esse espírito que ele foi
escrito e postado. Amo profundamente minha igreja e nunca fui nem nunca serei
adepto do “fogo amigo”. Quero vê-la cumprir seu papel neste mundo perdido e
ajudá-la no que me for possível.
Nota
2: “O fato é que muitos
gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos
encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os
homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando
a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa
que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na
falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem
avidamente pelo caminho da tolice”
(Charles H. Spurgeon, citado por John
F. MacArthur, “Another Word Concerning the Down-Grade”, The
Sword and the Trowel [agosto, 1887], p. 398).