Deve o Cristão participar de
protestos?
Se alguns cristãos acreditam que
poderão revolucionar o mundo, melhorar o país, ou, no mínimo, baixar o preço do
transporte público, fiquem a vontade. Todos são livres pra usar sua liberdade
como lhe apraz, no entanto, forçar a Bíblia a dizer que devemos ir para as ruas
fazer protestos, isto ultrapassa o pícaro do ridículo. Observei alguns
comentários que andaram postando pela internet incentivando os cristãos irem às
ruas, e o que posso dizer com muita segurança é que, os textos bíblicos
utilizados e o exemplo dos profetas para tal fim foram muito mal aplicados. Nenhum
de nós é profeta e nem sequer recebemos revelação sobrenatural com o incentivo
de fazer protestos nas ruas.
Lamentavelmente, muitos cristãos
ainda não aprenderam ter visão espiritual das coisas e, com muita força, são
ainda guiados por suas paixões e inflamações. São alvos fáceis de tudo quanto é
persuasão, basta estar de acordo com seus sentimentos e estão prontos a se
renderem. É assim que sempre acontece, quando alguém deseja muito fazer algo,
nem a Bíblia escapa das falsas interpretações. Pra quem não conhece um pouco de
história de Israel, vai ai uma dica de alguns livros "A história de
Israel" de Samuel J. Schultz; "A história da religião de
Israel", de Georg Fohrer; "O mundo do antigo israel", e até
algumas obras de Flávio Josefo, historiador Judeu que nos oferece um pouco do
contexto político daquele tempo. Assim, através de outras literaturas mais, o
pesquisador descobrirá que os Judeus ansiavam por uma libertação terrestre,
pois, estavam cansados da opressão, da injustiça social, da falta de direitos,
da escravidão, e outras coisas mais.
Estes desprazeres contagiaram e
inflamaram o povo. Por este motivo passaram, gradativamente, a desejar que o
messias os libertasse de todo o infortúnio causado pelos políticos (reino) de
seu tempo. Estes problemas de cunho político/social fizeram que eles perdessem
de vista as promessas já estabelecidas no Antigo Testamento de restauração e
remissão originalmente espiritual. Jesus, nosso maior exemplo, se esquivou de tais
movimentos que tentavam incutir este tipo de propósito no coração do público
inflamado. Interessante observar que, em nossos dias, esta mesma aberração está
por acontecer. Há muitos cristãos que estão perdendo o foco das promessas de
Deus. Estão se esquecendo que Jesus declarou enfaticamente que "o seu
reino não é aqui" (João 18:36), e que não devemos amar nada que pertença a
este mundo (1 João 2 :15), e que, o "o homem irá de mal a pior, enganando
e sendo enganado" (II Timóteo 3:13). Com sinceridade, tentar salvar este
mundo através de protestos é o mesmo que tentar pescar em um rio sem peixe.
Historicamente, nosso mundo não é
muito diferente dos tempos de Cristo. Não existe opressão exatamente como nos
dias de Israel, mas, ela não pode ser negada nos dias atuais. Por exemplo, hoje,
as pessoas que trabalham por um ou dois salários mínimos enquanto seus patrões
ganham milhões ou bilhões é uma clara demonstração da opressão vigente. A
diferença é que, nós aceitamos ser escravos mediante um sistema legal de troca.
Como no passado, as injustiças sociais acontecem a todo o vapor, impostos
exagerados, leis que funcionam apenas para uma determinada classe de pessoas,
imensas filas para pobres, além de educação e saúde que somente os ricos têm
condições de pagar, são algumas das mazelas que assolam nosso planeta. Corrupção,
injustiça social e descaso com os mais necessitados sempre existiram. Portanto,
eu poderia citar inúmeras outras situações que constroem com exatidão um
paralelo de acontecimentos que nos ligam ao passado de Jesus como sendo
politicamente/socialmente semelhante aos nossos dias, e mesmo assim, não há em
nenhuma parte dos ensinamentos de Cristo algum tipo de incentivo pra fazer
protestos pelas ruas.
Assim como Israel, será que todos nós
também não estamos inflamados de indignação? Como os césares do império antigo,
será que os césares de nosso tempo não se utilizam da mesma política, da
mentira, opressão, prática da injustiça e de descaso com os mais necessitados?
Sim, todos nós estamos insatisfeitos, mas, não devemos incorrer no mesmo erro
do povo de Israel, em querer lutar por um direito que jamais teremos, em
protestar por melhorias que jamais virão, pois, na medida em que nos envolvermos
com tais protestos, mais decepcionados e frustrados nos tornaremos por não
vermos resultados grandiosos e mais inflamados nos sentiremos. É por este
motivo que Deus prometeu julgar o mundo com justiça (Atos 17:31), mas,
tem gente que anda tão ansioso que demonstra não ter paciência para esperar.
Jesus, através de Seu exemplo, nos ensina que a inflamação que deve
ocorrer em nossas vidas é a de pregar Sua palavra aos que ainda permanecem no
erro e de nos preparar para o reino eterno de Deus, o único que de fato será
diferente e justo.
No entanto, muitos, assim como Israel
do passado, se esqueceram das promessas de Deus, e motivados por esta falta de
percepção espiritual, pela ansiedade e pela influência da inflamação externa,
estão se deixando levar por este barco furado que, mais cedo ou mais tarde
naufragará. O texto do Desejado é claro, observe: "O governo sob que Jesus
viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos — extorsões,
intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma
reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da
nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se
achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos
governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas
porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser
eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o
coração. — O Desejado de Todas as Nações, 509.
Portanto, cabe aqui ainda mais um
verso bíblico que deve ser associado a esta citação: "Aquele que diz
estar Nele, também deve andar como Ele andou" (1 João 2:6). Mas, como já
disse anteriormente, as inclinações e falta de visão espiritual de alguns
cristãos não os permitirá enxergar outra coisa, a não ser o que muitos judeus
fizeram no passado e que lhes serviu de ruína espiritual, "VAMOS PARA AS
RUAS". Mas, devemos ser omissos diante de tudo isto? Minha resposta é
simples: "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim,
contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas
deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares
celestiais." (Efésios 6:12), ou seja, nossa luta neste mundo é contra as
forças invisíveis do mal, então, não é indo às ruas que tornaremos o mundo
melhor, mas, pregando o evangelho e orando persistentemente com pranto e jejum
pelas pessoas.
Foi desta maneira que Daniel venceu o
conflito registrado em Daniel 10, conflito de âmbito político/social/ e
ao mesmo tempo espiritual, em seu prolongado jejum e oração de 21 dias, para
que a opressão vivenciada pelo povo, quanto ao decreto do rei e as perseguições
mentirosas dos samaritanos cessassem definitivamente. Daniel, mediante a oração
persistente, possibilitou a intervenção divina em favor da reconstrução do
templo e o fim da opressão. Portanto, minha sugestão para os cristãos é que, ao
invés de fazer barulho nas ruas, o que não mudará em nada a essência do
problema, que tal fazermos barulho espiritual congestionando o céu com nossas
súplicas em orações? Esta é nossa mais poderosa arma e eu acredito nela. No
entanto, não nos esqueçamos que, o príncipe deste mundo é Satanás (João 14:30),
e que não haverá melhorias significativas e nem direitos plenamente justos
neste mundo de pecado (II Timóteo 3:13, Isaías 24:4-7), por isto, Deus faz
apelos para que não conformemos com este século, mas, que sejamos transformados
em nosso entendimento, para que experimenteis a boa e agradável vontade de Deus
(Romanos 12:2), que se reflete em nossa preparação para o verdadeiro reino que
ainda está por vir.
Pr. Gilberto Theiss - Bacharel em
Teologia pelo (SALT) e Especialização em Filosofia pela (UCM) é pastor
adventista do sétimo no dia no Ceará.
Nota adicional em resposta a um comentário:
Olá anônimo, em meu singelo artigo, não disse que você não deve lutar pelos seus direitos, mas claro, existe uma larga diferença entre lutar pelos direitos e participar de um protesto tão confuso, frenético, estranho e gigantesco como este associado a pessoas que você não conhece e que não possuem as mesmas ideologias que você. Acho interessante a igreja sair nas ruas com faixas (não pra protestar) pra CHAMAR A ATENÇÃO da população sobre os abusos contra a mulher e as crianças como a campanha quebrando o silêncio ou alertando a comunidade dos perigos das drogas, etc, mas o que está ocorrendo no Brasil é uma revolução perigosa, populista e inflamatória. Sempre há meios mais modestos, inteligentes e sábios pra lidar com determinados problemas, e, o que está ocorrendo agora não me parece inteligente. Os protestos que estão se avolumando pelo país, não trarão nenhum benefício a longo alcance, pelo contrário, pode trazer crise social e vexame. Até a MPL se retirou das passeatas, pois, entenderam que o movimento se escambou para o ridículo. Se realmente este tipo de movimento resolve-se problemas e trouxe-se dignidade, me diga com sinceridade, o que conseguiram com as passeatas contra a corrupção que levou a cabo o Impeachment do Collor? O Collor caiu, mas acabaram com a corrupção? Lembrando que eu participei deste movimento e confesso que foi pura decepção e desilusão. A corrupção de lá pra cá não diminuiu, se tornou mais vergonhosa. Me desculpe, você tem sua liberdade e se quiser fazer uso dela pra se misturar com pessoas que não aguardam um "novo céu e uma nova terra", e que lutam por um mundo melhor quando sabemos CLARAMENTE que não haverá fique a vontade. Estou apenas exercendo o que, por enquanto, tenho direito, minha liberdade de expressar. Vá as ruas se isto o fizer mais feliz, mas, a minha felicidade está ancorada em algo que está por vir, "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça." (2 Pedro 3:13). Assim, meu coração fica protegido e escudado de qualquer tipo de inflamação terrena capaz de ofuscar minha visão espiritual e de diluir meu sedento e profundo desejo por um mundo melhor que virá somente das mãos do meu criador.
Ass: Pr. Gilberto Theiss
Nota adicional em resposta a um comentário:
Olá anônimo, em meu singelo artigo, não disse que você não deve lutar pelos seus direitos, mas claro, existe uma larga diferença entre lutar pelos direitos e participar de um protesto tão confuso, frenético, estranho e gigantesco como este associado a pessoas que você não conhece e que não possuem as mesmas ideologias que você. Acho interessante a igreja sair nas ruas com faixas (não pra protestar) pra CHAMAR A ATENÇÃO da população sobre os abusos contra a mulher e as crianças como a campanha quebrando o silêncio ou alertando a comunidade dos perigos das drogas, etc, mas o que está ocorrendo no Brasil é uma revolução perigosa, populista e inflamatória. Sempre há meios mais modestos, inteligentes e sábios pra lidar com determinados problemas, e, o que está ocorrendo agora não me parece inteligente. Os protestos que estão se avolumando pelo país, não trarão nenhum benefício a longo alcance, pelo contrário, pode trazer crise social e vexame. Até a MPL se retirou das passeatas, pois, entenderam que o movimento se escambou para o ridículo. Se realmente este tipo de movimento resolve-se problemas e trouxe-se dignidade, me diga com sinceridade, o que conseguiram com as passeatas contra a corrupção que levou a cabo o Impeachment do Collor? O Collor caiu, mas acabaram com a corrupção? Lembrando que eu participei deste movimento e confesso que foi pura decepção e desilusão. A corrupção de lá pra cá não diminuiu, se tornou mais vergonhosa. Me desculpe, você tem sua liberdade e se quiser fazer uso dela pra se misturar com pessoas que não aguardam um "novo céu e uma nova terra", e que lutam por um mundo melhor quando sabemos CLARAMENTE que não haverá fique a vontade. Estou apenas exercendo o que, por enquanto, tenho direito, minha liberdade de expressar. Vá as ruas se isto o fizer mais feliz, mas, a minha felicidade está ancorada em algo que está por vir, "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça." (2 Pedro 3:13). Assim, meu coração fica protegido e escudado de qualquer tipo de inflamação terrena capaz de ofuscar minha visão espiritual e de diluir meu sedento e profundo desejo por um mundo melhor que virá somente das mãos do meu criador.
Ass: Pr. Gilberto Theiss