FUGINDO DO MUNDANISMO

“Mundanismo é tudo aquilo que faz o pecado parecer normal, e o que é correto parecer estranho. ” (Kevin DeYoung). Deus criou o mundo e tudo o que nele há, e tudo havia ficado muito bom (Gên 1:31). No entanto, com a entrada do pecado o mundo foi se deteriorando. A obra prima do Senhor, em todos os aspectos, foi perdendo sua perfeição inicial. E o “mundo” que antes era belo e bom, passou a representar tudo o que se opõe à vontade do Criador. Portanto, é normal quando ouvimos a expressão “mundanismo”, já levantarmos nossos escudos de autodefesa, pois afinal, como bons membros da igreja acreditamos que somos quase imunes a este perigo.


Na verdade, parece que temos uma visão limitada sobre o que esta expressão significa na prática. Associamos o “mundanismo” à lugares em que não devo ir, ou atos que não devo praticar, ou mesmo à um estilo de me vestir ou de me comportar. Assim, bastaria evitar estes lugares, práticas ou hábitos e estaria tudo bem.

O problema é que com o passar do tempo eu descubro que é bem mais complexo do que isto. Por mais que eu me esforce em ser diferente do “mundo”, sempre descubro alguma semelhança com ele. E aí vem a culpa (não por ação do Espírito Santo, mas, por uma frustração e cobrança pessoal) e o julgamento sobre as outras pessoas ao meu redor, que não vivem no padrão que eu acho que deveriam viver, e que eu mesmo não consigo.
O apóstolo João deu uma definição bastante interessante sobre este tema:
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. ” 1 João 2:15-17

Em última análise, o mundanismo não se refere a coisas externas, mas, o problema é interno. Ele nasce no nosso coração, e faz parte do “pacote” da nossa natureza pecaminosa. Vai sendo alimentado pela “cobiça da carne”, pela “cobiça dos olhos”, e pela “ostentação dos bens” (que também poderíamos chamar de ORGULHO).
Temos uma facilidade extrema em supervalorizar os bens materiais e procurar satisfação neles e nos prazeres que o mundo oferece. E isto acaba tomando o lugar de Deus em nossa vida.

Estamos lidando aqui com um tipo de IDOLATRIA. Esta condição nos impede de ajoelhar-nos e reconhecer a soberania de Jesus Cristo sobre a nossa vida. Idolatria é amar e adorar as coisas deste mundo como se fossem o nosso Senhor. É imaginar que a nossa própria glória e nossas próprias conquistas pessoais satisfarão todos os desejos do coração.
Passamos a viver apenas para nós mesmos, contrariando a norma do Reino de Deus, quando deveríamos viver para servir. É preciso “fugir” desta condição. Afinal, estamos NO MUNDO, mas, não somos DO MUNDO, pois, não servimos o deus que “mundo” serve.

Vivemos numa cultura extremamente consumista. As pessoas são medidas por aquilo que têm. Quanto mais eu tenho, maior eu sou. Quanto menos eu tenho, menor eu sou. Portanto, a “solução” parece ser trabalhar cada vez mais, para obter cada vez mais, para “ser” cada vez maior diante dos demais. E mesmo sendo cristãos, estando inseridos nesta cultura, também acabamos afetados por ela.

Nesta corrida desenfreada pelo ter, ter, ter cada vez mais, as pessoas têm dado tudo de si por todo o tempo possível, em detrimento de sua comunhão com Cristo. E assim, estão sempre cansadas demais para orar, para estudar a Bíblia, para frequentar a igreja ou prestar um culto racional à Deus.

Tentam obter uma transformação de fora para dentro. No íntimo até intencionam ter o Senhor no lugar central da sua vida, mas, na prática isto quase nunca acontece.
Afastando-se, gradativamente, de um relacionamento real com Jesus, acreditam, cada vez mais, que sua segurança está nos bens que acumularam ou nos títulos que conquistaram. Que triste ilusão…

“De nada vale a riqueza no dia da ira divina, mas a retidão livra da morte…. Quem confia em suas riquezas certamente cairá, mas os justos florescerão como a folhagem verdejante. ” Provérbios 11:4 e 28

Felizmente, Deus não nos abandona à nossa própria sorte (Efésios 3:20; Hebreus 4:16).
Quanto mais nos aprofundarmos em nosso relacionamento com o Pai, maior será a transformação que ocorrerá em nós. Para isto, é preciso priorizar nossa comunhão com Ele. E para tanto, não podemos abrir mão de duas ferramentas essenciais: Bíblia e Oração.
Precisamos enxergar o mundo através da lente bíblica. Nela encontramos direção, conforto, segurança. Por meio dela recebemos SABEDORIA. Cristo é revelado em cada página, e quanto mais O conhecemos, mais o Seu amor nos alcança e transforma. Enquanto as coisas do mundo nos levam a viver apenas para nós mesmos, o amor de Cristo nos mostra a importância e a alegria de vivermos para servir. Precisamos voltar a ser o “povo da Bíblia”.

E se uma das formas que Deus se comunica conosco é por meio da Sua Palavra escrita, nós nos comunicamos com Ele por meio da oração. A oração é essencial, pois, nos eleva até Ele, nos faz reconhecer nossa condição de seres dependentes do Criador e nos conecta com o Seu reino. Quanto mais orarmos, mais natural nossas orações serão. Sempre tomando o cuidado de buscar a Sua vontade e não a nossa. Por isto a oração e a fé caminham juntas.
Há uma batalha espiritual sendo travada dentro e em torno de nós. Há um lado que nos atrai pra Cristo (João 6:44) e o outro que nos atrai para o mundo (I João 2:16). O que vai fazer a diferença é o quanto permitimos que o poder do Espírito Santo atue em nossa vida, moldando nossos gostos e preferências. Tornando-nos cada vez mais semelhantes à Cristo (Rom 12:2).

Reconhecer nossa limitação e nossa necessidade da força do Espírito Santo é essencial para que as coisas deste mundo não nos seduzam a nos afastar do Eterno. Sejam elas boas ou não. Só Ele é capaz de nos libertar da escravidão das mesmas coisas que pensávamos que iriam nos libertar. Se a cada dia submetermos a nossa vida (e tudo o que a envolve), ao poder do Espírito, mais e mais vitórias alcançaremos. Apesar de continuarmos no mundo até a vinda de Jesus, pela ação diária do Espírito Santo, não amaremos mais as coisas do mundo. Pois, entenderemos que a nossa esperança não vem deste mundo. Muito menos nossa salvação.

Transformados pelo Espírito Santo, as coisas deste mundo não mais nos satisfarão, porque, simplesmente, não podem matar nossa sede pela vida eterna. A nossa natureza predominante estará cada vez mais sob o comando do nosso Salvador.
O estudo diário da Palavra, uma vida de oração e a ação do Espírito, farão com que desejemos um “outro mundo”. Igual àquele lá do início. Um mundo tomado pela glória de Deus, em que todas as pessoas vivam sujeitas à Sua Palavra e que o amor de Jesus seja predominante. Um lugar onde tudo o que existe e respira louva o Senhor (Sl 150:6).

Encerro com o texto intitulado “A Fraternidade dos Não Envergonhados”:
“Minha decisão está tomada. Sem olhar para trás, sem demorar-me ou permitir ser governado por vantagens pessoais, planos pequenos, sonhos infundados ou fantasias infantis.
Meu alvo é o Céu. Meu caminho é estreito. Meus companheiros são poucos. Meu Guia é confiável. Minha decisão é clara.

Eu não posso encolher-me diante do sacrifício, ser intimidado pela adversidade, negociar na mesa do inimigo, ponderar diante do apelo de popularidade ou vagar pelos caminhos da mediocridade.

Não desistirei nem me calarei até vê-Lo exaltado. Em oração, absolutamente decidido, permanecerei no longo corredor do serviço de Cristo.

Sou discípulo de Jesus Cristo. Lutarei enquanto tiver tempo, estarei comprometido com Ele até as últimas consequências, partilharei o que sei, servirei até que Ele venha.
E, quando vier para buscar os Seus, Ele não terá nenhuma dificuldade em reconhecer-me.”
Não posso fugir de mim mesmo e de quem eu sou. Mas, posso permitir que o Eterno me transforme dia a dia. E que esvaziando-se de mim, Ele me preencha.

Este é o meu alvo! Quando Jesus voltar, que Ele não tenha dificuldade alguma em reconhecer-me (Mt 12:50; 7:21).