Tenho evitado entrar no mérito desta
discussão por acreditar que, qualquer cidadão deve ter o direito de ser o que
bem quiserem desde que isto não interfira nos direitos do próximo. Mas, como
alguns tem feito interpretações bíblicas que ao meu ver são equivocadas, então,
faço uso do meu direito para defender o que acredito ser mais coerente com a
revelação. Sem muita enrolação, segundo Gladstone,
que afirma ser pastor, diz que a Bíblia não condena a homossexualidade e que os
textos bíblicos que estabelece uma oposição ao homossexualismo, na verdade,
foram traduzidos de maneira equivocada. Na matéria,
ele cita como exemplo 1º Coríntios 6:9-10 como, em realidade, se referindo a
‘depravados e pessoas de costumes infames’, ao invés de ‘efeminados e
sodomitas’.
As palavras gregas ‘malakoi’ e
‘apsenokoitai’ não parecem fáceis de serem traduzidas, pois, o contexto,
segundo alguns, não viabiliza uma tradução 100% segura. No entanto, mesmo com
todas as dificuldades existentes pela falta de clareza, precisamos ter em mente
que, os dicionários do grego koinê possibilitam a tradução para efeminados
(homossexuais passivos) e sodomitas (homossexuais ativos). Embora, como já
destacado, não seja fácil traduzir tais palavras, também não é coerente a
incisiva afirmação de que Paulo não estava se referindo a efeminados e
homossexuais. A possibilidade de tradução para este sentido não é indevida e
incoerente como pretende alguns.
Os teólogos da teologia inclusiva defendem, naturalmente,
uma tradução que possibilite o despreconceito do homossexualismo na Bíblia, e,
consequentemente na mente de Deus. Mas, é importante olhar para textos
bíblicos, como este citado, com a visão do apóstolo Paulo e dos demais
contextos, e não com a visão da inclusão. Daqui a pouco até os envolvidos na
prostituição criarão uma teologia de inclusão, uma vez que, já existe projetos
de lei que descriminaliza e legaliza a prostituição como algo extremamente
natural e normal. A pergunta que surge é: Onde isto vai parar? Na verdade não
vai. Claro que, não penso que a Bíblia ou Deus tenha preconceitos quanto à
homossexualidade, mas, que há claros indícios de reprovação divina, disto não
há dúvidas. No Éden Deus não ofereceu a Adão o Evo, e nem deu escolhas pra Eva
ter como parceiro uma outra mulher. Em Gênesis 1:27, a palavra para descrever
Adão é zakhar (macho), e para descrever Eva é neqebh (fêmea), significando, sem nenhuma
margem de dúvida, que Deus criou homem macho e mulher fêmea para viverem juntos
em matrimônio. No verso seguinte (28), a ordem explícita de Deus é que vivessem
também com o objetivo de procriar, o que biologicamente é aceitável e
lógico, apenas para um macho e fêmea. se analisarmos mais detidamente os versos
seguintes, especialmente o capítulo 2:24, perceberemos a lógica macho e fêmea
em matrimônio na descrição que Deus faz de os filhos deixarem pai (macho) e mãe
(fêmea) para se tornarem uma só carne. Portanto, na criação, o princípio macho
e fêmea é amplamente defendido sem nenhuma referência ou inferência ao
relacionamento homoafetivo. O mandamento de Deus é para que o homem (macho)
deixe seus pais para se unir à uma mulher (fêmea) e não o contrário.
Na
genealogia de Adão e Eva, vemos outra subjetividade que fortalece a
objetividade. Não há, nas genealogias de Adão e Eva, e, outra mais, nenhum caso
de união afetiva entre homens com homens e mulheres com mulheres. Se a
homossexualidade fosse algo tão natural e aprovado por Deus, porque em todas as
genealogias isto não é encontrado? Existe ainda a afirmação de que a Bíblia
omite informações que favorecem os gays por causa dos tradutores
e escrivães bíblicos preconceituosos. Pretender afirmar que os homens
preconceituosos controlaram as narrativas bíblicas para criar uma apologia
contra os homossexuais é no mínimo perigosa, e, cheia de descrédito na proteção
mínima de Deus à Sua Própria Palavra. Isto colocaria em risco toda a inspiração
e, naturalmente, não seríamos exercitados a confiar na Bíblia. Nem mesmo os
homossexuais religiosos poderiam se amparar em um livro duvidoso. Enfim, toda e
qualquer religião sustentada pela Bíblia Cristã seriam radicalmente demolidas.
E quanto a palavra ‘malakoi’ e
‘arsenokoitai’ de 1º Coríntios 6:9,10?
Vários dicionários do grego Koinê dos mais conceituados traduzem ‘malakoi’
como afeminados e suas nuanças seguem a mesma inclinação, Observe: ‘Malakoi’,
de ‘malakós’, um adjetivo masculino, significando “mole, macio, suave
(Mt 11:8; Lc 7:25)”, e, naturalmente efeminado como descrito em 1º Coríntios
6:9[1].
A palavra efeminado não foi inventada
e não é simplesmente uma junção das palavras mole, macio e suave, mas, os
dicionários trazem-na como fazendo parte do conjunto de sinônimos. Portanto, a
inferência pode ser subjetiva, mas, temos que reconhecer que a subjetividade
cria um claro link até a objetividade descrita na maioria das traduções para o
português – como sendo efeminado mesmo. De todas as palavras sugeridas pelo
dicionário, efeminado é a mais lógica, pois, não é razoável que Paulo esteja
falando sobre juízo para a classe meramente de pessoas moles, macias e suaves.
A palavra ‘arsenokoitai’,
também é alvo das discussões da teologia inclusiva, pois, comumente é traduzida
por ‘homossexualismo’ ou ‘sodomismo’. Argumentam que tais traduções são
evocadas pela ótica da discriminação e preconceito. Embora a palavra seja uma
junção de ‘arsen’ (macho) e ‘koite’ (cama, vida íntima do casal,
relação conjugal, impureza sexual, casamento), percebe-se que Paulo a usa,
inclusive em 1º Tm 1:10, apenas em contextos de impureza sexual. O
reconhecidíssimo dicionário internacional de teologia argumenta que “Paulo
empregou o substantivo arsenokoites, ‘homossexual masculino’,
‘pederata’, ‘sodomita’ (casamento, art. Koite), como alguém que
está excluído do reino (1º Co 6:9) e condenado pela Lei (1º Tm 1:10; cf. Gn
cap. 19; Lv 18:22, 29; 20:13; Dt 23:17; castigo)”[2].
Os demais dicionários e léxicos
analíticos, com unanimidade seguem o mesmo raciocínio descrevendo a palavra ‘arsenokoitai’
como se referindo à homossexualismo.
É importante compreender que, a
teologia de Paulo era ortodoxa no sentido de chamar pecadores ao arrependimento
e conversão, e, no tocante à homossexualidade, seu discurso era fundamentado na
teologia do Antigo Testamento que, por sua vez, reprovava com veemência as
práticas homossexuais. Os teólogos da teologia inclusiva argumentam que o
Antigo Testamento, em especial, Levítico capítulo 20, não reprova o
homossexualismo, mas as práticas e rituais pagãos. No entanto, se atentarmos
para o contexto de Levítico 20, perceberemos que a reprovação era generalizada
tanto no paganismo quanto dentro da esfera Israelita, pois, a proibição era
explícita.
Era proibido homens tomarem (ter
relação íntima) as mulheres de outros homens, homens tomarem as mulheres de
seus pais, homens tomarem suas noras, suas irmãs, suas tias, os animais, e
inclusive, homens tomarem outros homens, assim como mulheres tomarem outras
mulheres. Todos estes comportamentos eram considerados abomináveis perante o
Senhor. No verso 23 Deus mesmo diz: “E não andeis nos costumes das nações que
eu expulso de diante de vós, porque fizeram todas estas
coisas, portanto, fui enfadado deles”. O que o verso alega é que, tais
costumes eram proibidos entre o povo de Deus.
Quanto a narrativa da destruição de
Sodoma descrito em Gênesis 19, os teólogos da teologia inclusiva afirmam que,
na verdade, o que recebeu reprovação divina foi o comportamento agressivo e a
tentativa violenta dos povos de Sodoma em tomar os dois homens que entraram na
casa de Ló. De fato, o abuso, a violência sexual e a tentativa de forçar a
relação com os dois homens (anjos em forma humana) que entraram na casa de Ló
fizeram parte do pacote, mas, observe que, no capítulo 18:20 e 21, afirma que
os pecados tem-se agravado naquela cidade e que este foi o motivo de Deus
visitar Sodoma com Seu juízo. Mas, a pergunta que surge é, seria apenas a
violência e abuso sexual o pecado agravante de Sodoma? Se analisarmos Judas 1:7
“como Sodoma [...] entregues a prostituição”, perceberemos que o pecado estava
além das portas da violência e abuso, pois, a palavra “prostituição”, (ekporneusasai de ekporneu),
praticar imoralidade, também significa fornicação[3].
Portanto, a palavra não está
ligada a atos de violência em si, mas, a prática comum do que a Bíblia chama de
imoralidade sexual em suas diversas formas. Um ocorrido narrado em Gênesis 19:4
perfaz e reforça esta ideia. Observe que veio homens de todos os lados, tanto
jovens quanto velhos com o mesmo objetivo, o de ter relações com os homens que
ali entraram. Observe que eles não queriam ter relações com as moças, mas, com
os homens, em outras palavras, relacionamento homossexual. Uma vez que veio uma
multidão de homens de todos os lados da cidade, isto pode indicar que havia
consenso e unidade no propósito. Portanto, se havia propósito e unidade entre
eles, significa que a prática sexual entre eles era algo comum, o que reforça a
tese de pecado agravante estando além da mera violência e abuso.
Além do mais, há unanimidade entre os
maiores teólogos linguísticos de que a prática homossexual em Sodoma era uma
das razões da reprovação divina e consequentemente destruição da mesma.
Entretanto, se o que analisamos ainda não for suficiente, temos um texto nas
mangas que torna explícita as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo como
não sendo uma prática autorizada por Deus. Observe:
"Por causa disso Deus os entregou à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão." (Rm 1:26,27). Entre os pecados aos quais Deus entregou o ser humano estão a idolatria (25 cf. v. 23) e os pecados de ordem sexual, especialmente o pecado da homossexualidade. Paulo concorda aqui com a tradição judaica - e com o Antigo Testamento, em lançar mão das práticas homossexuais como exemplo particular da rejeição de Deus pelos gentios[4].
O mais curioso é que, desde que
surgiu a teologia da inclusão, passou a imperar uma forte apologia no sentido
de fazer da Bíblia um livro repleto de incentivos ao homossexualismo. Tem sido
comum a tentativa de massificar a ideia de que alguns patriarcas e personagens
tenham no mínimo praticado a homoafetividade. O amor de Jônata por Davi (1Sm
18:1), o apego de Rute a Noemi (Rt 1:16-17; 2:10-11), a graça e
misericórdia de Daniel para com Aspenas (Dn 1:9), e, a aproximação de João com
Jesus, tem sido manipulados e distorcidos de modo a defender com veemência a
homoafetividade. O famoso Elton John, em um discurso, foi contundente em
afirmar que Jesus era essencialmente gay[5],
e Luiz Mott Doutor em antropologia (não em teologia), foi ainda mais longe
fazendo sérias distorções dos textos bíblicos pra advogar as ideias do mesmo
grupo fazendo da pessoa de Jesus apenas um mito, e, nas melhores das hipóteses,
se realmente ele tivesse existido, seria o supremo gay da revelação[6].
Enfim, quando assisti o filme
“Alexandre o grande”, uma cena me incomodou, a de Alexandre ter comportamentos
homossexuais. Por conta desta cena, quando estive fazendo a faculdade de
história em um centro universitário secular, perguntei para uma professora
doutora em história da Grécia sobre tal possibilidade. A sua resposta foi
surpreendente, pois, disse que, não há evidências claras a este respeito e que
tal possibilidade surgiu apenas por especulação. Especulação? O que percebo em
todo enredo contemporâneo é que, podemos ver claramente uma proposital
massificação das ideias e conceitos homossexuais. Estão tentando transformar a
Bíblia e até a história comum em roteiros de incentivos à suas ideias.
Entendo que, lutar pelos direitos é o
dever de todo o grupo minoritário, mas, fazer uma forte apologia baseado em
distorções e suposições pra advogar suas ideias, entendo isto como fanatismo.
Acredito que os homossexuais precisam ter direitos que os faça viver em paz com
suas escolhas, assim como acredito que preciso de leis que me permitam fazer as
minhas escolhas cristãs em paz. No entanto, tentar entrar em minha cultura
cristã para transformá-la em uma cultura homossexual, parece, eu disse parece,
estabelecer uma nova ditadura. A democracia nos ensina que todos tem o direito
de dizer o que quiserem desde que estejam dispostos a ouvir o que não querem. A
partir do momento que sou proibido a pensar, significa que um direito está
sobrepujando outro.
Gilberto Theiss é pastor, escritor e
teólogo