A música gospel se tornou a espinha dorsal de uma indústria
cujos altos cifrões de vendagem e baixos números de pirataria chamaram a
atenção da indústria musical secular.
O potencial consumidor do mercado musical evangélico chamou
a atenção da Rede Globo, a partir do seu braço musical, a Som Livre. O
resultado foi a produção e exibição do Festival Promessas, que contou com os
nomes mais conhecidos do gospel nacional.
Então, as desavenças históricas entre a Globo e os evangélicos
(leia-se “entre Globo e Edir Macedo”, leia-se, Globo e Record) são coisa do
passado? Não se engane. Nessa diplomacia religiosa há muito de disputa
comercial. As TVs vivem de audiência e nada mais natural que a Globo veja os
evangélicos não como um campo missionário, mas como seara pronta para a
ceifa de lucros e dividendos.
E o que faz o cristão quando se vê como um componente do
jogo de mercado? Dá as costas e vai procurar sua turma? Dá uma lição nas
víboras capitalistas e vai vender geleia Real de porta em porta? Aproveita a
chance de apresentar sua mensagem na maior rede de TV do país?
Mas, qual a mensagem apresentada pelo gospel na Globo? Pergunto
isso porque, apesar de Ana Paula Valadão recitar João 3:16, falar
da cruz e cantar do Apocalipse como algo a não temer, o que se assistiu antes em boa parte do programa foram
alguns cantores falando “derrama, derrama”, “tira o pé do chão, igreja!”, “declare
para o Brasil inteiro ouvir”, “levante as mãos que o helicóptero está filmando”.
Para a Globo é bom: o povo adora, ela explora e ainda tira
aquela pecha de “emissora do capeta” que algumas igrejas lhe davam. Para o
gospel é bom: o cantor vende e ora, o fiel compra e chora; mas nunca é demais lembrar que há vozes
honestas e corações sinceros.
E para o evangelho? Há o cristão que vê a mão bem visível do
mercado do entretenimento tomando para si a música destinada ao louvor e
adoração a Deus. Talvez porque, quando a esmola da Globo é demais, o
crente desconfia. E há o cristão que acredita que o evangelho está
abrindo
portas para chegar ao conhecimento de muito mais gente.
Mas, qual evangelho? O do pula-pula e do oba-oba ou o do chamado à
reflexão? O
do evangelho de mercado ou o do evangelho apesar do mercado? O do culto à
canção ou o do culto com pregação? O do sucesso ou o do serviço? São
duas faces da mesma moeda, ou do
mesmo evangelho?
A Globo quer audiência e uma fatia do lucrativo mercado
musical evangélico. Ponto. Então, caro cantor gospel, vá lá, cante e dê sua mensagem.
Só não dá pra dizer, caro cantor, que agora o Brasil é de Jesus, porque não é bem
assim que as coisas acontecem.
"Gospel" quer dizer também "evangelho". Os mais empolgados cantaram uma importante vitória desse "gospel" evangelizador. Gospel afirmou-se também como sinônimo de uma produção musical industrial em série. Como embalagem, os mais cautelosos desconfiam que Globo e gospel tem tudo a ver; enquanto mensagem, eles creem que Globo e evangelho não tem nada a ver.
"Gospel" quer dizer também "evangelho". Os mais empolgados cantaram uma importante vitória desse "gospel" evangelizador. Gospel afirmou-se também como sinônimo de uma produção musical industrial em série. Como embalagem, os mais cautelosos desconfiam que Globo e gospel tem tudo a ver; enquanto mensagem, eles creem que Globo e evangelho não tem nada a ver.
Enfim, a suma de tudo o que ouviste pela voz do gospel na Globo é esta: quem é evangélico e
gosta do estilo, assistiu e se emocionou; quem não é evangélico, deve ter mudado de canal; e
quem é evangélico e não gosta do estilo, ficou constrangido. Mas, gostando ou
não do estilo, deixemos o povo cantar. “Se for de Deus, prosperará; se não for
de Deus, ...”
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Estão dizendo que o idealizador do programa
foi o pastor Silas Malafaia, que teria “profetizado” que um dia estaria falando
na TV Globo. Essa informação levou o pastor
Vicente Sabbatino a declarar: “O profeta de nossa geração disse que um dia estaríamos
na Globo. O Festival Promessas é apenas o primeiro ato de uma sinfonia de
vitória”. Cada geração tem o profeta que merece? Bem, parece que
alguns estão bem seguros de que só Jeová é Deus e Malafaia é seu profeta.