JOÃO BATISTA: UM GENUÍNO ADVENTISTA


JOÃO BATISTA: UM GENUÍNO ADVENTISTA
Publicado na Revista Adventista de Novembro/2010
Vinícius Mendes

A missão do povo remanescente escatológico prefigurada na vida e ministério de João Batista

“Mas para que saíste? Para ver um profeta? Sim eu vos digo, e muito mais que um profeta. Este é de quem está escrito: Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior que João Batista; mas o menor do reino dos céus é maior do que ele.” Mt 11: 9-11

A missão de João Batista

O texto acima apresenta uma das mais categóricas afirmações de Jesus a respeito de uma pessoa. Cristo diz que João Batista foi o maior homem que nasceu neste planeta. A pergunta natural que surge após uma detida reflexão nesses versos é: que motivos levaram Jesus a fazer tão enfática declaração? As próprias palavras de Cristo no verso 10 revelam o motivo: João Batista foi quem recebeu a mais importante missão dada a um homem: preparar o caminho para o aparecimento de Jesus, em Sua primeira vinda. Se acrescentarmos ainda o fato de que João cumpriu fielmente essa missão, perceberemos com clareza a motivação de Jesus em declarar algo tão forte a respeito de uma pessoa de carne e osso como qualquer um de nós.

A respeito disso aplica Ellen White: “Preparando o caminho para o primeiro advento de Cristo, (João) era representante dos que têm que preparar um povo para a segunda vinda de nosso Senhor.” (WHITE, 101) Isso nos faz pensar que, se João Batista representa aqueles que prepararão o mundo para a segunda vinda de Jesus, nós como povo de Deus, vivendo mo limiar da história, muito próximos da volta de Cristo, deveríamos estudar a vida de João Batista e tentar extrair dela os princípios norteadores para que possamos cumprir cabalmente a solene missão que nos foi confiada e sermos declarados como grandes homens e grandes mulheres como ocorreu com João Batista.

A origem de João Batista

Homens como João Batista não são produto do acaso. Vidas vitoriosas como a de João são resultado, em via de regra, de uma educação que vislumbra para os filhos a eternidade. Neste momento, seria relevante então meditarmos em que tipo de pessoas foram escolhidas por Deus para educarem o precursor do Messias e o que eles fizeram para preparar o futuro profeta.

“Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel”. (Lc 1:5) Esse verso contém um detalhe essencial, o qual está na base da família que produziria um homem como João. O verso diz que o pai de João, Zacarias, era sacerdote e menciona o critério que ele utilizou para escolher a sua esposa: “era das filhas de Arão.” O sacerdócio foi dado a Arão e sua descendência perenemente (Ex 28 :1; Nm 7:19). Logo, essa expressão indica que Isabel era também da linhagem sacerdotal. Fica evidente, então, que Zacarias resolveu se casar com alguém que além de compartilhar a mesma fé que ele tinha, fora criada em uma família que servia ao Senhor no sacerdócio. Há aqui uma importante lição para nós. Um homem como João Batista só nasce em um lar de pais sacerdotes. Pais que estejam dispostos a oferecer suas vidas como oferta agradável a Deus. Pais que gastem tempo de qualidade, ao amanhecer e ao entardecer, apresentando-se a Deus.

Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de demorar-Se. (PP, 144)

Esse texto não poderia ser mais claro. Deus deseja que, de nossas casas, ascendam constantes orações aos céus. Pai e mãe devem ser parceiros nisso para que os filhos possam aprender tal rotina e desejar viver isso em sua vida adulta. E ainda, o detalhe mais lindo: Jesus gostará de demorar-se em casas assim. Essa mensagem é para jovens que ainda não decidiram com que vão se casar, evidenciando o tamanho da responsabilidade que têm ao decidir-se, como também para famílias estabelecidas, deixando clara a importância de implementarem uma vida sacerdotal.

Outro aspecto relevante no caráter dos pais de João Batista está expresso em Lc 1:6. “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor.” Esse texto revela a atitude zelosa que os pais de João Batista mantinham. Eles procuravam tomar conhecimento de toda a revelação divina disponível a eles e viver à altura do que conheciam. Assim puderam moldar o caráter daquele que prepararia o caminho para o primeiro advento de Jesus. Fica para nós também um importante modelo de vivência como também de educação dos nossos filhos.

No verso 13 do cap. 1 de Lucas, podemos perceber que Zacarias era um homem que entendia o tempo em que vivia. “Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho; a que darás o nome de João.” Esse verso indica que Zacarias orava com base no cumprimento da promessa da vinda do Messias. Ele havia entendido, através do estudo das profecias, que aquele era o tempo em que Deus visitaria o Seu povo. Ele orava para que o Senhor cumprisse a Sua promessa. Precisamos entender o tempo em que vivemos, discernir os tempos e épocas e orarmos para que as promessas que Deus tem para nossos dias se cumpram, como, por exemplo, o envio da Chuva Serôdia e o retorno de Jesus.

João Batista foi forjado num lar cujos pais reuniam as características acima. Foi produto dessa educação e o resultado foi se tornar um proclamador da justiça.

Mensagem de João Batista

“Naqueles dias , apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” Mt 3:1e 2 João Batista tinha uma mensagem simples e direta para dar às pessoas de seu tempo. Ele sabia que o Messias estava prestes a surgir e que o povo não estava preparado para recebê-LO. O evangelista Mateus resume a mensagem de João em duas orações: a primeira contendo uma verbo no imperativo (exortando a uma tomada de decisão) “arrependei-vos” e a segunda, contendo uma frase explicativa, apresentando o motivo pelo qual as pessoas deveriam se arrepender “porque está próximo o reino dos céus.”

É interessante perceber que a mensagem de João Batista tem um conteúdo muito semelhante à mensagem que Deus espera que o povo remanescente em nossos dias dê ao mundo e que se encontra resumida na primeira mensagem angélica de Apocalipse. “Temei a Deus e dai-lhe glória porque vinda é a hora de seu juízo... .” Ap 14:7. Esta mensagem também é composta por duas frases, uma imperativa e outra explicativa, assim como a mensagem de João. Devemos dizer às pessoas que elas precisam temer a Deus, isto é, reverenciá-lo, voltar-se para Ele e abandonar os seus pecados e a causa disso é “porque vinda é a hora de seu juízo.” Nossa mensagem distintiva de um santuário celestial no qual ocorre um juízo investigativo deve nos inflamar a anunciar ao mundo que Jesus está voltando e que hoje é o tempo de que todos dispõem para preparo a fim de se encontrarem salvos quando Jesus voltar.

João não hesitou em dar a sua mensagem. Era uma mensagem direta e condenatória, mas ele a anunciou, dando um importante exemplo. O resultado dessa mensagem está expresso nos versos 5 e 6 de Mateus 3: “Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.” Que extraordinário! Uma mensagem simples, direta e sem rodeios atraiu milhares de pessoas, levando-as ao batismo. Nós precisamos evangelizar o mundo e, às vezes, devido às grandes dificuldades que enfrentamos, nos questionamos a respeito de como poderemos cumprir a grande comissão evangélica. João nos dá uma grande lição aqui. As pessoas precisam ser levadas a abandonar seus pecados. Nossa mensagem e, sobretudo, nossa vida, darão a elas esse recado. Era assim que João Batista fazia.

“Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre.” Mt 3: 4. Esse texto, de alguma forma, apresenta a estratégia que João usava para atrair as pessoas com o propósito de ouvir a sua mensagem. Diz Ellen White, comentando esse texto:

Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e amor ao luxo e a ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais. João devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época. (White, 100)

João era diferente. Esse era o seu segredo. Enquanto o mundo ostentava, ele era simples. Na verdade, esse é o princípio que devemos tirar da vida desse profeta e aplicar em nossa prática como anunciadores do iminente retorno de Jesus. Se queremos que as pessoas de nosso tempo ouçam nossa mensagem, precisamos viver diferente da forma como elas vivem. Precisa haver uma clara distinção entre os servos de Deus e aqueles que não O servem. Por incrível que pareça, isso atrai. As pessoas estão em busca de referenciais. Nós temos uma mensagem diferente do estilo de vida do mundo. Precisamos tão-somente vivê-la e as pessoas estarão dispostas a ouvir o que temos a dizer.

É importante ressaltar ainda outro ponto. Veste de pelos de camelo é a roupa com a qual a Bíblia descreve a vestimenta de Elias. Isso é extremante significativo. João tinha como referencial um grande profeta do passado. Nitidamente imitava-o. É disso que nós precisamos. Ao invés de imitar os ícones que o mundo tem produzido na mídia e nos esportes, por exemplo, por que não imitar Jesus, seus discípulos, os reformadores e os pioneiros de nossa igreja. Não estou falando aqui de extremismos, como nos vestir da mesma forma que se vestiam essas pessoas. Estou dizendo que podemos extrair o princípio por trás dessa atitude de João. Devemos ter o mesmo amor à verdade e as almas que os grandes homens e mulheres do passado tiveram. Fazer de suas vidas objeto de nosso estudo e permitir que as características espirituais que modelaram suas vidas se apoderem das nossas. A Bíblia diz que nós somos transformados por aquilo que contemplamos. Se continuamente contemplarmos os ícones do mundo seremos como eles. Se contemplarmos a Jesus e Seus seguidores, através do estudo da Bíblia e do Espírito de Profecia, naturalmente o rosto de Jesus se imprimirá em nós. Assim fez João, assim podemos fazer.

O fim de João Batista


Em Mateus 11:11, Jesus apresenta João Batista de forma gloriosa. O Senhor diz que João foi o maior homem nascido de mulher. O paradoxo dessa afirmação é que enquanto Cristo dizia isso, o profeta estava encerrado em um cárcere do qual foi retirado para ser morto pelo ímpio Herodes. Que final! Às vezes fico pensando que João merecia um fim diferente. Depois de viver para pregar o evangelho, quem sabe uma digna aposentadoria, uma bela casinha de campo e a companhia de pessoas amadas seria o mais justo pagamento para um homem de Deus como foi João.

A verdade é que os caminhos que João Batista escolheu os levaram para um destino diferente desse. Ele era fiel à sua missão de condenar o pecado e foi isso que fez com relação à pecaminosa situação em que viviam Herodias e Herodes. O resultado foi prisão e morte. O interessante é que a esse homem preso e humilhado é que Cristo dedica uma de suas mais gloriosas declarações: “o maior nascido de mulher.” O comentário da senhora White é enfático a respeito disso:

Que em face da maneira de avaliar do Céu constitui grandeza? Não o que o mundo considera como tal; não riqueza, nem posição, nem nobreza de linguagem, nem dons intelectuais considerados em si mesmos. Se grandeza intelectual, à parte de qualquer consideração mais elevada, é digna de honra, então Satanás merece nossa homenagem, que suas faculdades intelectuais nenhum homem já igualou. (...) Valor moral, eis o que é estimado por Deus. Amor e pureza são os atributos que mais aprecia. João era grande aos olhos do Senhor. (WHITE, 219)

Esse é o tipo de homem e mulher que Deus espera contar em nossos dias. Gente grande aos olhos do céu. Gente que resolveu desprezar a glória dos homens e se apegar à Deus, custe o que custar. Olhando para o calabouço em que João Batista foi posto e sua decapitação, entretanto, ainda permanece um ar de injustiça. Parece que está faltando alguma coisa, como se a história dele não estivesse concluída. Essa é a impressão que tenho. No entanto, a senhora White acrescenta o seguinte comentário a respeito do caráter das pessoas que ressuscitaram com Jesus e ascenderam com Ele para o céu.

Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. (WHITE, 786)

Naturalmente, o texto acima não declara explicitamente que João Batista ressuscitou com Cristo, mas apresenta uma característica muito adequada àquela que marcou a vida de João. Não há dúvida de que João Batista “à custa da própria vida” deu testemunho da verdade. João morreu porque defendia a verdade. Tenha João Batista ressuscitado ou não, fica-nos a certeza de que os salvos o verão no céu. O fato é que resta-nos, tal como ele foi, sermos embaixadores de Deus, anunciando a breve vinda de Jesus, apropriando-nos da verdadeira grandeza.

Fonte: www.felippeamorim.blogspot.com  (Extraido da Revista Adventista - Nov. 2010).