Santificação não produz justificação

Como sempre digo, justificação produz santificação, mas santificação não pode produzir justificação (Ef 2:8; Rm 3:20, 28). Se assim fosse, fatalmente seria justificação também pelas obras (Rm 11:6). Todavia, a justificação realiza pelo homem o que ele não pode realizar por ele mesmo, mas a outra realidade é que a justificação não pode realizar no homem aquilo que ele não deseja que seja realizado. É fato que Jesus, através dos seus méritos, deseja remir o homem da perdição eterna, mas também do caos do pecado e, para isto, Ele realiza tanto o querer quanto o efetuar na vida do arrependido (Fl 2:13) - o que chamamos de santificação "sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12:14). Este processo não é agradável, pois mesmo com amor  "o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? (Hb 12:6,7). 

Mas, se o homem aceitar a Cristo como salvador, porém rejeitar os frutos dessa união com Cristo, que na visão hebraica seria a rejeição do "contrato" da aliança, naturalmente, poderíamos inferir que a justificação nada poderá fazer por este pecador (I Jo 2:4; Lc 12:9; Jo 12:47, 48). Acredito que é por este motivo que a palavra fé também tenha o significado de fidelidade. Fidelidade não no sentido de fazer algo para ser aceito, mas fazer algo porque já foi aceito - ou seja, o feedback do homem diante do que lhe está sendo oferecido gratuitamente. Jesus exemplificou Se utilizando das frases "negar a si mesmo", "carregar a sua cruz" (Lc 9:23) , "sugiro que de mim compres" (Ap 3:18), como evidência de ACEITAÇÃO dos frutos propostos pelo Espírito no coração do arrependido (Gl 5:22). 

Sem esta fé, crença ou fidelidade, no sentido de entrega e confiança absoluta, o feedback de aceitação por parte do homem, pode implicar rejeição ou ausência de justificação. Mais uma vez, reforçando, mesmo que a fé (emunah) seja aplicada no sentido de fidelidade, deve ser compreendida como a resposta do homem diante do que lhe foi oferecido. O HOMEM PROCURA SERVIR A DEUS NÃO PARA SER ACEITO, MAS PORQUE JÁ FOI ACEITO. Esta fidelidade, poderíamos dizer que seria a minha permissão para que Deus realize em mim tanto o querer quanto o efetuar (Fl 2:13). A ideia de negar a si mesmo e carregar a cruz (Lc 9:23).


O que desejo esclarecer é que a santificação, NÃO A DE CARÁTER PERFECCIONISTA OU LEGALISTA, deve ser consequência, fruto, resultado, efeito, produto da JUSTIFICAÇÃO. Levando em consideração que cada ser humano possui a sua própria experiência de conversão e mudança de vida, com processos, circunstâncias e dificuldades diferentes, TODOS SÃO ALVOS DA OPERAÇÃO DO ESPÍRITO. Todos os que foram justificados plenamente, absolutamente e unicamente nos méritos de Cristo foram salvos para boas obras (Ef 2:10).


Todavia, é sempre muito relevante considerar que, embora Deus nos justifique por Seus méritos, eu preciso aceitar a aliança que Ele está propondo para mim. Esta aceitação deve ser pela fé com pressuposto de entrega e submissão. Mas, mesmo esse processo que chamamos de santificação, que será imperfeito enquanto vivermos aqui, também é e será amparado nos méritos de Cristo - por Sua graça amorosa. O homem não possui nenhum mérito em absolutamente nada. Do começo ao fim, o único mérito vem de Jesus.


É por este motivo que Ellen White descreve uma cena muito curiosa, onde os remidos lançam as suas coroas aos pés do Salvador Jesus (HR, 413, 414). O senso de indignidade e de gratidão serão tão fortes no coração dos remidos que não se sentirão dignos da posse da coroa da vitória. Eles bradarão, "somente Tu Senhor é digno de toda honra e de toda a glória".


Portanto, a justificação, para ocorrer, ela precisa ser aceita, e a aceitação genuína é demonstrada em arrependimento e luta diárias contra o maior de todos os inimigos, O PRÓPRIO EU (Mt 16:24).


Pr. Gilberto Theiss