O primeiro milagre de Jesus no evangelho de Marcos (1:21–28) é um
"encontro de poder" entre Jesus e um espírito imundo (anjo caído). As
pessoas na sinagoga provavelmente pensaram que o demônio havia conquistado uma
vitória significativa sobre Jesus quando se dirigiu a ele por seu nome e até
por um título secreto; mas Jesus rapidamente silenciou o demônio e o mandou
embora. O rápido e poderoso exorcismo de Jesus forçou as testemunhas a fazerem
uma pergunta: “O que é isso? Um novo ensino com autoridade! ” (1:27). A
autoridade e poder de Cristo contra os demônios fez com que ficassem surpresos
e estarrecidos. A expressão “mas Jesus o repreendeu”, aparece três
vezes no livro de Marcos e se liga com a prerrogativa de quem é Senhor. O
Senhor do universo tem exclusividade de duas palavras: a palavra de criação,
que gera vida, e a palavra de repreensão, que pode significar correção ou
condenação (cf. Sl 9:6; 76:7; 80:17; 119,21; Is 17:13; 66:13). Seis vezes em
Marcos esta palavra de repreensão sai da boca de Jesus (1:25; 3:12; 4:39;
8:30,33; 9:25).
A expressão Cala-te
e sai desse homem significa que o demônio perde a condição de poder
oferecer qualquer tipo de resistência. A única coisa que lhe resta é obedecer.
O curioso é que Jesus não pergunta o nome, não faz uma oração-relâmpago, não
fica fora de si em êxtase, não murmura fórmulas, não recorre a objetos como os
exorcistas judeus, não usa raízes medicinais nem vapores anestésicos - nada
além desta ordem nua. Jesus não só ensinava diferente dos professores da lei,
mas também expulsava demônios diferentemente deles (Lc 11:19). Ele o fazia
“pelo Espírito de Deus”, como Mateus 12:28 explicita. (Mark: An Introduction and Commentary, v. 2, p. 113, 114).
O evangelho de Marcos é uma biografia e, ao lermos esse evangelho,
devemos manter uma pergunta em primeiro plano: “Quem é Jesus?” No meio deste
episódio, em Marcos 1, o espírito impuro oferece uma resposta para essa
pergunta de identidade: Jesus de Nazaré é ὁ ἅγιος τοῦ θεοῦ (“o Santo de Deus”).
O que esse título significa? Os leitores casuais podem assumir que se refere à
divindade de Jesus ou à sua santidade. Mas, embora a divindade de Jesus seja
importante, até central, Marcos costuma estar interessado em apontar para
outros aspectos da identidade de Jesus.
O conceito de
santidade hoje em dia é defensivo; o da Bíblia, contudo, é agressivo. Deus não
é Santo apenas no sentido de ser separado do mundo, mas de afrontá-lo por suas mentiras e
santificá-lo pela verdade. Isto vale também para o Seu enviado e, por fim, também para os
discípulos deste Santo (Jo 17:17s). Devemos lembrar também de Marcos 1:8: o
portador do Espírito Santo está em campo e assume o contraste absoluto com o
espíritos da impureza e da morte. (Comentário Esperannça, p.81).
O título ὁ ἅγιος τοῦ θεοῦ (o Santo de Deus) não é comum nas
Escrituras; ocorre apenas duas outras vezes no Novo Testamento (Lucas 4:34;
João 6:69). Como na maioria dos títulos de Jesus, a chave para compreendê-los é
encontrada no Antigo Testamento. Na Septuaginta, o Antigo Testamento grego,
três importantes líderes de Israel recebem o título de “santo de Deus”.
1)- Aarão, o primeiro sumo sacerdote, foi chamado τὸν ἅγιον κυρίου
(“o santo do SENHOR”) no Salmo 106:16.
2)- Quando perguntaram a Sansão sobre a fonte de sua força, ele
respondeu (na Bíblia Hebraica) que resultava de ser um "nazireu de
Deus"; a Septuaginta traduz esta resposta como ἅγιος θεοῦ (santo de Deus),
(Juízes 16:17).
3)- E em II Reis 4:9, o grande profeta Eliseu foi chamado θεοῦ ἅγιος
(santo de Deus).
Por que esses três indivíduos foram identificados como
"santos de Deus"? Arão, Sansão e Eliseu foram designados, protegidos
e capacitados pelo Altíssimo para uma missão especial.
A)- Arão foi chamado "o santo do SENHOR" em contraste
com os filhos rebeldes de Corá. A autoridade de Arão foi questionada por Corá,
mas Deus protegeu a posição sacerdotal de Arão destruindo os possíveis
usurpadores (Sl 106:16-18; cf. Nm 16:1-33). A este respeito Ellen White escreveu
que “as rebeliões anteriores tinham
sido meros tumultos populares, surgindo dos impulsos momentâneos da multidão
exaltada; agora, porém, formou-se uma conspiração muito bem fundamentada, como
resultado de um propósito decidido de subverter a autoridade dos líderes
designados pelo próprio Deus. (Patriarcas e Profetas, p. 286). Coré, “Embora designado para o serviço do
tabernáculo, descontentara-se com sua posição, e aspirara à dignidade do
sacerdócio. (Patriarcas e Profetas, p. 286). Ele queria a posição de
Arão. Curioso notar que Satanás também desejou a posição de Cristo no Céu.
B)- Sansão foi um grande salvador; embora moralmente imperfeito,
ele foi capaz de destruir os inimigos do povo de Deus porque era o
"santo" de Deus. Recebeu de Deus a força necessária para cumprir a
missão de ser o libertador de Israel. Embora tenha fracassado em muitas situações, ele representou a figura de
Cristo no tocante a ser o libertador (Rm 11:26, Cf. Ciência do Bom viver, p.
161). Sansão, com a sua vida, derrotou os inimigos que oprimiam o
povo de Deus assim como Jesus, com a Sua vida, derrotou os inimigos que
escravizavam as pessoas à eterna perdição do pecado.
C)- Eliseu e Elias eram únicos entre os profetas, pois não apenas
pronunciavam as bênçãos e maldições da aliança, mas também representavam
pessoalmente aquelas bênçãos e maldições. Eliseu recebeu o título de “santo de
Deus” no contexto de trazer bênçãos milagrosas, como multiplicar alimentos,
trazer frutos ao ventre de uma mulher estéril e ressuscitar um filho dentre os
mortos (II Reis 4). Jesus realizou obras semelhantes em favor de muitos.
O título “Santo de Deus” era, portanto, especialmente adequado
para Jesus. O demônio temia "o Santo" porque sabia que Jesus era
designado, capacitado e protegido por Deus. Como os “santos” designados pelo
Altíssimo no passado, Jesus, por ser o Grande e Verdadeiro Sumo Sacerdote que faz
expiação ou advoga a causa dos que O buscam, estava sob a proteção especial do Céu,
derrotou os inimigos e trouxe as bênçãos da cura eterna e provisão ao Seu povo.
O título que aterrorizou o espírito imundo é o mesmo que conforta
e inspira os seguidores de Jesus de Nazaré. Jesus é o Santo de Deus, o Grande Salvador.
Ele continua a derrotar o poder do pecado e traz as bênçãos do Céu ao seu povo,
e nenhum poder na Terra ou sob ele pode se opor a Ele - ou a eles.
Ampliação e adaptação Gilberto Theiss.
Estrutura primária: Gary Manning Jr.
Estrutura primária: Gary Manning Jr.
Referências:
COLE, R. A. (1989). Mark: An Introduction and Commentary
(Vol. 2)
MANNING, Gary Jr. In Devotions on the Greek New Testament.
POHL, A. (1998). Comentário Esperança, Evangelho de Marcos.
WHITE, Ellen G. Patriarcas
e Profetas.