O fórum cancelado e o preconceito contra criacionistas

De volta à Idade Média?
O fórum filosofia e ciência das origens que deveria ser realizado na Unicamp, mas, que infelizmente fora cancelado, causou um certo alvoroço e discussões nos blogs. Abaixo está inserida a declaração do dr. Rodrigo Silva, extraída do blog criacionismo de Michelson Borges, sobre algumas afirmações contidas no blog cultura científica moderado pelo professor Leandro Tessler, e, logo abaixo, a nota deste blog escrita por Gilberto Theiss. Confira.

Nota Gilberto Theiss: Prezados colegas

Não sou cientista, no entanto, aprecio todo conhecimento seja ele científico ou não. Embora seja apenas um simples teólogo, apreciador da filosofia e com interesses diversos nas áreas cognitivas acadêmicas, com um humilde currículo lattes, gostaria de ofertar minha singela e moderada contribuição, nesta discussão, levantando duas questões em consideração:

1ª – Todos, independente de serem religiosos ou ateus, cientistas ou meros profissionais de áreas comuns, intelectuais ou analfabetos, evolucionistas ou criacionistas, enfim, todos temos a leve ou profunda tendência de observar as ideias contrárias como meras inimigas da razão ou da fé, sejam elas materialistas, metafísicas ou espiritualistas. Que mundo teríamos se soubéssemos dar espaço aos que pensam de maneira diferente as nossas? Como seriam as relações humanas se houvesse altruísmo intelectual e tolerância disciplinar cognitiva? Creio que, no âmago das discussões, sejam elas dentro de um templo religioso ou de um templo acadêmico, o chapéu de Voltaire caberia muito bem ao afirmar: “Posso não concordar com nenhuma de tuas palavras, mas morrerei defendendo o teu direito de dizê-las”.

No entanto, o que me parece, em realidade, é que, a intolerância religiosa da idade média ou a intolerância racionalista, observável de forma latente nos primórdios do iluminismo, especialmente em algumas entranhas da revolução francesa, estão inseridas e afloradas em muitas das emoções acadêmicas de nosso tempo. Me lembro bem da humilhação que passei perante os demais amigos de classe quando, há muitos anos atrás, em sala de aula, na faculdade de história, indaguei o professor, que era profundamente evolucionista, sobre uma determinada e possível falha naturalista. A intolerância à minha pergunta, que resultou à minha pessoa, foi a única atitude correspondente que obtive naquela noite. Fui ridiculamente censurado, envergonhado e calado em minha indagação com uma resposta grossa e desinteligente. Tive a impressão que havia cometido um crime hediondo quando na verdade estava, como aluno, buscando conhecimento e razões plausíveis para tirar de debaixo do tapete as minhas dúvidas. Foi naquele dia que percebi que, não existe diálogo quando Darwin é colocado à prova.

Portanto, é com alegria que afirmo, a intolerância religiosa, por enquanto, parece ter ficado para trás, mas, com tristeza afirmo também que, a intolerância racionalista/naturalista parece permanecer ou ressuscitar, bem enrijecida/engessada, em nossos dias. Penso que a Unicamp perdeu a honra ou privilégio de abrir caminho para o fim da intolerância provendo abertura para discussões entre pensadores que veem as origens com propriedades intelectuais, abstratas ou concretas. Perdeu a oportunidade de permitir, de maneira substancialmente democrática, um diálogo mais aberto daquilo que seus alunos, querendo ou não, mais cedo ou mais tarde, se defrontarão no cotidiano. Aceitando ou não, querendo ou não, encontrando ou não nas pesquisas, a inteligência, ordem sistemática, complexidade irredutível, beleza magistral, e, não poderia deixar de citar,  A VIDA, são claramente e indesculpavelmente percebíveis em todas as direções.

Por esta razão é que, Antony Flew, um dos mais nobres filósofos dos últimos 100 anos, que fora por quase toda a  vida um devoto e convicto ateu, quase no fim, resolveu ser coerente com sua própria consciência ao afirmar:  

“Minha jornada para a descoberta do divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão. Segui o argumento até onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um ser auto-existente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente”. (Um ateu garante, Deus existe, p. 144).

Até mesmo Paul Davies,  embora cético em um Deus pessoal, precisou reconhecer que estava atraído pela ideia de que existe algum princípio racional por trás do cosmos que conduz a matéria em direção a uma evolução para a vida e a inteligência. (Citado em: Ciência, intolerância e fé, p. 64).

Bom, caberia ainda neste espaço, dezenas de outros pensadores e cientistas reafirmando a mesma ideologia. No entanto, meu objetivo não é construir uma dissertação, apenas uma singela reflexão.

2º Infelizmente, assim como já aconteceu no meio cristão, há muita desonestidade intelectual por parte de muitos evolucionistas e ateus. É notório que, muitos fizeram das ideias de Darwin sua substituta religião. A fé no darwinismo chega a ultrapassar a fé de muitos religiosos. Lembrando que, é justamente o fanatismo o maior alimentador da intolerância. Isto indica que, há, no meio acadêmico, muita ortodoxia científica munida de profundo fanatismo materialista, consequentemente causando profundas intolerâncias revestidas do verniz de uma suposta “proteção ao cientificismo genuíno”. Abro um leque para perguntar, se é genuíno, por que não abrir espaço para uma saudável discussão de ideias? Que eu saiba, no academicismo informação nunca é demais, desde que sirva para o crescimento e maturidade acadêmica. Neste caso, o design inteligente e o criacionismo se encaixam bem, pois, não são pessoas fanáticas, sem fundamentações, irracionais ou que desenvolvem um tipo de convicção fideística. São pessoas inteligentes, estudadas, intelectuais, cientistas, filósofos e ocupam posições importantes e estratégicas da ciência contemporânea, como por exemplo o Dr. Francis Collins, um biólogo americano, considerado um dos mais notáveis cientistas da atualidade.  Diretor do Projeto Genoma, financiado pelo governo dos EUA, que foi um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano, em 2001. 

Este nobre cientista, inclusive, lançou há pouco tempo nos Estados Unidos o livro “The Language of God” (A Linguagem de Deus), contando como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos 27 anos. Para ele, religião e ciência não são incompatíveis, mas complementares.

Mas, nem todos pensam como Collins, pois, são muitos os que militam a favor de uma origem sem Deus e sem planejamento. O maior de todos os problemas é que, muitos destes militantes, se utilizam de uma lente específica para observar somente aquilo que desejam evidenciar. Por exemplo: em um determinado debate entre o dr. Nahor Neves, e o dr. Mário Cesar, este último foi contundente ao afirmar que

“Para mim a visão materialista foi uma grande libertação, eu me sentia grandemente desconfortável com a ideia de um ser superior controlando tudo o que eu fazia, isto nunca me foi fonte de gratificação e de felicidade.”  (Debate na Sesc TV). Portanto, fica evidente que, sua incredulidade em Deus é o que norteia seu ato de fazer ciência.

O Nietzcshe encarnado, Richard Dawkins, também foi bem honesto ao dizer que, “Acho que Deus é muito improvável e levo minha vida na predisposição de que ele não está lá”  (Deus um delírio, 2007).

“Predisposição”, segundo os dicionários significa (A) Ato de predispor(-se).  (B) Vocação, tendência, pendor, inclinação, propensão: disposição, tendência natural para (algo); inclinação. O que isto significa? Preciso ainda explicar? Creio que não, então bola pra frente.

Agora, após a forte declaração anti-Deus, nenhum pouco científica de Dawkins, fica difícil valorizar sua afirmação de que, “Como amante da verdade, suspeito de crenças defendidas com vigor que não sejam sustentadas pela evidência.” (O capelão do diabo, 2005). Que evidências há em sua predisposição relatada acima?

Outro que dá bola fora é o geneticista da Universidade de Harvard, Richard Lewontin, deixa muito claro que suas convicções materialistas são a priori. Ele não apenas confessa que seu materialismo não deriva de sua ciência, mas também admite, pelo contrário, que é seu materialismo que de fato conscientemente determina a natureza do que ele concebe ser ciência: “Nossa disposição de aceitar alegações científicas que vão contra o senso comum é a chave para o entendimento da verdadeira luta entre ciência e o sobrenatural”. Ele continua a afirmar que: “Não é que os métodos e as instituições científicas de algum modo nos obriguem a aceitar uma explicação material do mundo dos fenômenos, mas, ao contrário, somos forçados, por nossa adesão a priori [conhecimento ou justificação independente da experiência] a causas materiais, a criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações materiais, por mais contraintuitivas que sejam, por mais difíceis de compreender que sejam para os não iniciados”. (SAGAN, Carl. The Demon Haunted World: Science as a Candle in the Dark, 9 de Janeiro de 1997). Em suma, sua fé no materialismo, como ele mesmo confessa, não se origina de sua ciência, mas sim de algo completamente diferente, como fica bem claro a partir do que ele diz em seguida: 

“Além disso, o materialismo é absoluto, pois não podemos permitir um pé divino na porta”. (ibdem).

Contrariando a lógica de Lewontin, como bem afirmou Lennox, matemático da oxford,
“O materialismo rejeita tanto o pé divino quanto, pensando bem, a própria porta. Afinal, não existe um “lado de fora” para o materialista – o “cosmos é tudo o que existe, ou existiu ou jamais existirá”. [...] Lewontin não quer admitir um pé divino na porta – ponto final”. (LENNOX, Por que a ciência não consegue enterrar Deus, p. 51).

Friedrich Nietzcshe também exemplifica esse tipo de pessoa. Ele escreveu o seguinte:

“Se fosse preciso nos provar a existência desse Deus dos cristãos, então devemos ser ainda menos capazes de acreditar nele” (KAUFMANN, Walrer. The  Antichrist,  seção  47  [publicado  em  português  pela  Editora  Centauro,  O Anticristo], The Portable Nietzsche. New York: Viking, 1968). E ainda escreveu que: “é nossa preferência que decide contra o cristianismo, e não os argumentos”.  (NIETZSCHE, Friedrick. Apud Os GUINNESS, Timefor Truth. Grand Rapids, Mich.: Baker, 2000).

Me desculpe, mas, a lista é grande e não poderia deixar de citar O imunologista George Klein afirmando que seu ateísmo não se baseia na ciência, mas é um compromisso apriorístico de fé.  Comentando uma carta na qual um de seus amigos o descreveu como agnóstico, ele escreve:

“Não sou agnóstico. Sou ateu. Minha atitude não se baseia na ciência, mas sim na fé [...]. A ausência de um Criador, a não existência de Deus é minha fé da infância, minha crença de adulto, inabalável e santa”.

George Wald também foi contundente ao afirmar:

“Não podemos aceitar essa possibilidade [criação] por motivos filosóficos; portanto, optamos por acreditar no impossível: que a vida surgiu espontaneamente por acaso”. (The Orign of Life, Scientific American, 191:48. Mayo de 1954). Wald foi contundente com esta declaração bombástica deixando claro que se trata de uma questão filosófica a sua indigestão pela ideia de criação.

Paul Davies não deixou por menos:

“Não é necessário invocar nada sobrenatural nas origens do Universo ou da vida. Jamais gostei da ideia de uma intervenção divina: para mim é muito mais inspirador crer que um conjunto de leis matemáticas possa ser tão engenhosa a ponto de fazer que todas as coisas existam.” (Relatado por Clive Cookson, Scientists Who Glimpesed God, Financial Times, 29 de abril de 1995, p. 20 – Citado por John Lennox, “Por que a ciência não consegue enterrar Deus”, p. 90).

Enfim, como visto amigos, existe muito mais indisposição filosófica que ciência propriamente dita. Há muito eu acho, eu penso, eu digo do que empirismo contundente, experimentação fatídica ou provas irredutíveis. As declarações que inseri acima, demonstram um antagonismo puramente preconceituoso. Assim, me parece que, como bem expressou Jonh Lennox

“O fato de existirem cientistas que parecem estar em guerra contra Deus, não significa exatamente que a própria ciência esteja em guerra contra Deus”. (Ibdem, p. 25).

Por este motivo que, Thomas Nigel, professor de filosofia da New York University, ateu de carteirinha, escreveu um livro intitulado “Mind and Cosmos”, onde afirma que a visão materialista e naturalista do darwinismo está quase que certamente errada.

Assim, como discursou dr. Rodrigo Silva, a microevolução é fato, no entanto, a macroevolução, até o presente momento, mais se parece com a fada dos dentes citada por Dawkins em seu livro “Deus um delírio”, do que um fato “elaboradamente” científico.

Ass: Gilberto Theiss - currículo lattes já que alguns insistem.
Me desculpe por minha intromissão por ser um mero pensador coadjuvante.