O Apocalipse é, ao mesmo tempo, um dos livros mais importantes da Bíblia e um dos mais difíceis de ser compreendidos. Ele ocupa um lugar singular na interpretação bíblica e, assim, precisamos de alguns critérios para desvendar sua mensagem. Este artigo se concentra em dez chaves que ajudam o intérprete dessa obra apocalíptica a entender sua natureza singular.
Gênero
Quase não há consenso entre os acadêmicos sobre a estrutura geral do Apocalipse. Contudo, existem alguns elementos estruturais-chaves sobre os quais a maioria está de acordo. Provavelmente o elemento estrutural mais importante seja a divisão do livro em duas partes principais, uma enfatizando eventos históricos da salvação e a outra enfatizando eventos escatológicos. A maioria dos acadêmicos divide o livro entre os capítulos 11 e 13, o ponto que H. B. Swete, na obra The Apocalypse of St John, denomina o “grande corte” do Apocalipse.
No entanto, muitos acadêmicos adventistas seguem a estrutura quiástica de Kenneth Strand, que localiza a divisão entre os capítulos 14 e 15. Em The Lamb Among the Beasts, Roy Naden propõe um quiasma que divide o livro entre 12:10 e 12:11. Contudo, os capítulos 12–14 constituem a unidade que contém eventos históricos mesclados com eventos escatológicos, tornando difícil atribuí-los exclusivamente a uma seção. Os capítulos 12–14 podem ser denominados a “visão do grande conflito”, que retrocede ao início da rebelião no Céu e avança para a vitória dos redimidos glorificados com o Cordeiro no monte Sião. Em todo caso, os capítulos 1–11 formam a seção histórica do livro, e os capítulos 15–22, sua seção escatológica. É arriscado para o intérprete fugir dessa diretriz estrutural.
Unidade
Em The New Testament in its Literary Environment, David Aune declara: “O Apocalipse de João é estruturalmente mais complexo que qualquer outro apocalipse judaico ou cristão, e ainda está por ser analisado de modo satisfatório. Como outros apocalipses, ele é construído por uma sequência de episódios assinalados por vários marcadores literários, como a repetição de frases estereotipadas (‘Vi’, ‘Ouvi’, etc.) e por artifícios literários como quiasmas, intercalações (embora jamais interrompam a sequência narrativa), técnica de interconexão (uso de textos transicionais que concluem uma seção e introduzem outra) e várias técnicas estruturais (uso de septetos e digressões).”
Uma das características da literatura joanina, incluindo o evangelho e as epístolas, é seu dualismo ético. Esse dualismo, que se refere ao contraste entre o bem e o mal, e pode ser expresso e caracterizado de várias formas, é apresentado no Apocalipse, especialmente no tema do grande conflito, centrado no capítulo 12. Ele tem início com a guerra no Céu entre Miguel e o dragão e continua com a batalha na Terra entre o dragão e a besta, incluindo suas cabeças e chifres (poderes civis terrestres que cumprem os propósitos do dragão), e a mulher pura com sua semente, primeiramente o Filho varão (o próprio Cordeiro messiânico) e depois o restante de sua descendência. Esse dualismo ético tem vasto alcance no Apocalipse. Não há espaço para uma posição neutra. O ouvinte ou leitor do livro deve identificar o lado correto, associar-se a ele e permanecer fiel a essa decisão.
Temas teológicos centrais
Todo o livro é chamado de revelação profética, bem como a palavra de Deus e o testemunho de Jesus (1:1-3). Essa não é meramente uma designação de gênero, mas uma declaração teológica. A expressão “a palavra de Deus e o testemunho de Jesus”, que aparece ao longo do livro, está enraizada no conceito legal das duas testemunhas necessárias para se estabelecer a verdade. Esse conceito se transforma em imagem no relato das duas testemunhas no capítulo 11, que profetizam durante 1.260 dias/anos e são martirizadas por causa de seu testemunho. As duas testemunhas representam a palavra de Deus e o testemunho de Jesus, ou o testemunho dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. À medida que os leitores e ouvintes do livro respondem ao testemunho profético que os chama à salvação e a permanecer fiéis, eles se preparam para o juízo vindouro. Tudo no Apocalipse deve ser compreendido à luz desse juízo iminente.
Santuário
Outra importante chave para a compreensão do livro de Apocalipse é a percepção da abrangência com a qual o santuário funciona como pano de fundo da obra de Cristo em favor de nossa salvação. Isso ocorre em vários níveis. No primeiro nível, João menciona repetidamente o templo (3:12; 7:15; 11:1, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1, 17; 21:22) e vários itens da mobília do santuário, como as sete tochas que ardem diante do trono (4:5), as taças de ouro cheias de incenso (5:8) e os incensários de ouro cheios de incenso (8:3-5), o altar de ouro diante do trono (8:3, 5; 9:13) e a arca da aliança (11:19). Também há indivíduos que parecem se vestir e atuar como sacerdotes (4:4; 5:8; 7:13-15; 8:2-6; 14:18; 15:6-7). No segundo nível, João se refere à execução de alguns dos rituais do santuário (5:6, 9; 8:3-6). A referência frequente ao Cordeiro e ao sangue do Cordeiro é em si mesma uma explícita imagem do santuário. No terceiro nível, o Apocalipse parece seguir o ciclo das festas anuais associadas ao culto hebraico, que estava centrado no santuário.
O livro de Apocalipse está repleto de simbolismo e numerologia. O uso extenso de simbolismo é uma das características da literatura apocalíptica. Alguns números são apenas simbólicos, ao passo que outros parecem ter valor literal, embora provavelmente contenham também algum valor simbólico. A chave é saber quando algo deve ser tomado literalmente e quando deve ser tomado simbolicamente.
Mensagem de Cristo
Ao interpretar o Apocalipse, devemos começar com as premissas corretas. O que o livro tenta comunicar? Alguns acreditam que João estivesse escrevendo sobre eventos que ocorreriam em sua própria época. Esses intérpretes, denominados preteristas, ignoram as próprias reivindicações de João sobre o que ele registrou e por quê. Não aceitam que João tenha recebido revelações visionárias vindas de Deus sobre o futuro, especialmente em relação ao tempo do juízo escatológico e ao estabelecimento do reino eterno de Cristo. Eles veem apenas o início da história cristã, mas não seu meio ou fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo em todas as épocas.
Somente uma abordagem equilibrada, que mantenha em mente o verdadeiro objeto da revelação, trará resultados satisfatórios. A revelação não foi dada apenas a João ou às sete igrejas da província romana da Ásia, mas aos servos de Deus (1:1) que viveriam antes do juízo final, a fim de prepará-los para os eventos vindouros. A menos que leiamos o livro com a intenção de discernir essa mensagem dada por Cristo, deixaremos de compreender o conteúdo mais importante do livro.
EDWIN REYNOLDS, doutor em Teologia pela Universidade Andrews, é professor de Novo Testamento e línguas bíblicas na Southern Adventist University (EUA)
O Apocalipse reivindica
ser uma profecia. No prólogo do livro, é proferida uma bênção sobre aqueles que
leem, ouvem e guardam as palavras “da profecia” (1:3). Novamente, no epílogo,
encontramos uma declaração semelhante, pronunciada pelo próprio Jesus (22:7). E
o anjo diz a João: “Não seles as palavras da profecia deste livro” (v. 10). O
mesmo anjo, ao que parece, considerava João um dos profetas, porque ele se
referiu a “teus irmãos, os profetas” (v. 9). Em 22:18 e 19, o Apocalipse é
denominado profecia outras duas vezes.
No entanto, dizer que o
Apocalipse é uma profecia é contar apenas parte da história. O Apocalipse é um
tipo muito especial de profecia. Não é apenas o único livro do Novo Testamento
que lida quase que exclusivamente com o futuro, mas é também o melhor exemplo
de profecia apocalíptica bíblica. Mais do que isso, é o livro do qual o gênero
apocalíptico deriva seu nome. Embora não tenha sido a primeira obra
apocalíptica, ele é o mais característico e mais bem conhecido de todos os
apocalipses.
O Apocalipse também tem
elementos de epístola. Após o preâmbulo (1:1-3), há uma típica introdução
epistolar (v. 4, 5), que segue um estilo semelhante ao das epístolas paulinas.
Primeiro, é apresentado o nome do autor, seguido por uma identificação dos
destinatários. Finalmente, há uma saudação, que deseja graça e paz da parte da
Divindade triúna. Na visão subsequente (1:9-3:22), sete cartas são ditadas a
João pelo Cristo glorificado e enviadas às sete igrejas mencionadas em 1:11.
Cada uma dessas cartas, por sua vez, segue uma forma epistolar levemente
modificada, na qual os destinatários são referidos antes que o autor se
identifique. O livro em si também é concluído com um estilo epistolar formado
por apelos, promessas e bênção final (Ap 22:21).
Propósito
O Apocalipse tem um
propósito explícito e um implícito. O propósito explícito é declarado no
primeiro versículo do livro: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.” Ele mostra a
orientação futura do conteúdo da profecia do livro. Ao mesmo tempo, transmite
um senso da iminência dos eventos vindouros, porque afirma que esses eventos
“em breve devem acontecer”. O versículo 3 acrescenta que são abençoados aqueles
que leem, ouvem ou guardam as palavras da profecia, “pois o tempo está
próximo”. Essa sentença é repetida em 22:10.
Além desse propósito
explícito de revelar o futuro como expectação iminente, parece haver um
propósito implícito que coincide com o primeiro. Ele é encontrado nos repetidos
chamados à perseverança e fidelidade da parte dos leitores e ouvintes. A
profecia apocalíptica é dada para atender às necessidades daqueles que estão
enfrentando adversidade. Jesus apela aos crentes que se mantenham firmes até
que Ele venha, se necessário passando pela morte, de modo que recebam a coroa
da vida (2:10, 25; 3:11). São feitas muitas promessas àqueles que vencerem por
meio do sangue do Cordeiro, apesar dos obstáculos.
Estrutura
Quase não há consenso entre os acadêmicos sobre a estrutura geral do Apocalipse. Contudo, existem alguns elementos estruturais-chaves sobre os quais a maioria está de acordo. Provavelmente o elemento estrutural mais importante seja a divisão do livro em duas partes principais, uma enfatizando eventos históricos da salvação e a outra enfatizando eventos escatológicos. A maioria dos acadêmicos divide o livro entre os capítulos 11 e 13, o ponto que H. B. Swete, na obra The Apocalypse of St John, denomina o “grande corte” do Apocalipse.
No entanto, muitos acadêmicos adventistas seguem a estrutura quiástica de Kenneth Strand, que localiza a divisão entre os capítulos 14 e 15. Em The Lamb Among the Beasts, Roy Naden propõe um quiasma que divide o livro entre 12:10 e 12:11. Contudo, os capítulos 12–14 constituem a unidade que contém eventos históricos mesclados com eventos escatológicos, tornando difícil atribuí-los exclusivamente a uma seção. Os capítulos 12–14 podem ser denominados a “visão do grande conflito”, que retrocede ao início da rebelião no Céu e avança para a vitória dos redimidos glorificados com o Cordeiro no monte Sião. Em todo caso, os capítulos 1–11 formam a seção histórica do livro, e os capítulos 15–22, sua seção escatológica. É arriscado para o intérprete fugir dessa diretriz estrutural.
A revelação do Apocalipse
não foi preservada na Bíblia como um simples livro de história, mas como
mensagem de Cristo a seu povo, com o objetivo de prepará-lo para o que está por
vir. Créditos: Fotolia
Outro elemento estrutural
importante é o uso explícito de “setenários” ao longo do livro. Há quatro: sete
cartas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Visto que os sete trovões não
são desenvolvidos, eles não constituem um setenário estrutural. Alguns autores
tentam estruturar todo o livro em setenários, mas isso vai além do que é
autoevidente. Os setenários explícitos formam as unidades literárias que devem
ser mantidas.
Relação com o Antigo
Testamento
Nenhum outro livro é tão
fortemente fundamentado no Antigo Testamento como o Apocalipse. João deve
grande parte de sua teologia, vocabulário e simbolismo ao Antigo Testamento,
embora sempre seja profundamente cristocêntrico. Isso implica aceitar a realidade
de que contemplou coisas notavelmente semelhantes às reveladas aos profetas do
Antigo Testamento e considerou conveniente descrever o que viu usando a
linguagem e as formas de pensamento dessa parte da Bíblia.
Tentar compreender o
Apocalipse sem reconhecer as raízes do Antigo Testamento significa impedir toda
a interpretação do livro. Porém, João não meramente transferiu conceitos do
Antigo Testamento para o Apocalipse; ele os transformou de acordo com seus
propósitos. É interessante notar que não há citações do Antigo Testamento no
Apocalipse, mas apenas antecedentes aos quais João parece apontar mediante
referência indireta ou alusão.
Unidade
No início do século 20,
houve algumas propostas a respeito da origem do Apocalipse que contestaram sua
unidade. Atualmente, essa não mais é a realidade. A maioria dos acadêmicos
concorda sobre a unidade do livro. A complexidade da estrutura, interconectada
como é, representa um dos argumentos convincentes em favor de sua unidade.
Em The New Testament in its Literary Environment, David Aune declara: “O Apocalipse de João é estruturalmente mais complexo que qualquer outro apocalipse judaico ou cristão, e ainda está por ser analisado de modo satisfatório. Como outros apocalipses, ele é construído por uma sequência de episódios assinalados por vários marcadores literários, como a repetição de frases estereotipadas (‘Vi’, ‘Ouvi’, etc.) e por artifícios literários como quiasmas, intercalações (embora jamais interrompam a sequência narrativa), técnica de interconexão (uso de textos transicionais que concluem uma seção e introduzem outra) e várias técnicas estruturais (uso de septetos e digressões).”
Dualismo ético
Uma das características da literatura joanina, incluindo o evangelho e as epístolas, é seu dualismo ético. Esse dualismo, que se refere ao contraste entre o bem e o mal, e pode ser expresso e caracterizado de várias formas, é apresentado no Apocalipse, especialmente no tema do grande conflito, centrado no capítulo 12. Ele tem início com a guerra no Céu entre Miguel e o dragão e continua com a batalha na Terra entre o dragão e a besta, incluindo suas cabeças e chifres (poderes civis terrestres que cumprem os propósitos do dragão), e a mulher pura com sua semente, primeiramente o Filho varão (o próprio Cordeiro messiânico) e depois o restante de sua descendência. Esse dualismo ético tem vasto alcance no Apocalipse. Não há espaço para uma posição neutra. O ouvinte ou leitor do livro deve identificar o lado correto, associar-se a ele e permanecer fiel a essa decisão.
Temas teológicos centrais
No Apocalipse se destacam
algumas questões teológicas. Uma delas, muito importante, é a soberania de
Deus. Outra é a justiça divina. Um terceiro aspecto é o processo da salvação. O
quarto é o papel de Cristo na história da salvação. O quinto tema é o papel da
igreja no plano de Deus. O sexto é o papel da revelação e da profecia em
comunicar o que é essencial à salvação. O sétimo é a função da decisão pessoal
no preparo para o juízo. O povo de Deus, ou igreja, também desempenha uma parte
significativa. Essas questões estão intimamente relacionadas.
Todo o livro é chamado de revelação profética, bem como a palavra de Deus e o testemunho de Jesus (1:1-3). Essa não é meramente uma designação de gênero, mas uma declaração teológica. A expressão “a palavra de Deus e o testemunho de Jesus”, que aparece ao longo do livro, está enraizada no conceito legal das duas testemunhas necessárias para se estabelecer a verdade. Esse conceito se transforma em imagem no relato das duas testemunhas no capítulo 11, que profetizam durante 1.260 dias/anos e são martirizadas por causa de seu testemunho. As duas testemunhas representam a palavra de Deus e o testemunho de Jesus, ou o testemunho dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. À medida que os leitores e ouvintes do livro respondem ao testemunho profético que os chama à salvação e a permanecer fiéis, eles se preparam para o juízo vindouro. Tudo no Apocalipse deve ser compreendido à luz desse juízo iminente.
Santuário
Outra importante chave para a compreensão do livro de Apocalipse é a percepção da abrangência com a qual o santuário funciona como pano de fundo da obra de Cristo em favor de nossa salvação. Isso ocorre em vários níveis. No primeiro nível, João menciona repetidamente o templo (3:12; 7:15; 11:1, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1, 17; 21:22) e vários itens da mobília do santuário, como as sete tochas que ardem diante do trono (4:5), as taças de ouro cheias de incenso (5:8) e os incensários de ouro cheios de incenso (8:3-5), o altar de ouro diante do trono (8:3, 5; 9:13) e a arca da aliança (11:19). Também há indivíduos que parecem se vestir e atuar como sacerdotes (4:4; 5:8; 7:13-15; 8:2-6; 14:18; 15:6-7). No segundo nível, João se refere à execução de alguns dos rituais do santuário (5:6, 9; 8:3-6). A referência frequente ao Cordeiro e ao sangue do Cordeiro é em si mesma uma explícita imagem do santuário. No terceiro nível, o Apocalipse parece seguir o ciclo das festas anuais associadas ao culto hebraico, que estava centrado no santuário.
Simbolismo e numerologia
O livro de Apocalipse está repleto de simbolismo e numerologia. O uso extenso de simbolismo é uma das características da literatura apocalíptica. Alguns números são apenas simbólicos, ao passo que outros parecem ter valor literal, embora provavelmente contenham também algum valor simbólico. A chave é saber quando algo deve ser tomado literalmente e quando deve ser tomado simbolicamente.
Richard Davidson
apresenta uma sugestão para solucionar esse problema. O conceito tem que ver
com a subestrutura escatológica da tipologia do Novo Testamento. Num capítulo
sobre a tipologia do santuário publicado no livro Symposium on Revelation,
Davidson nota que, “na era da igreja, os antítipos terrestres encontram, no
reino espiritual da graça, um cumprimento espiritual (não literal), parcial
(não final) e universal (não geográfico/étnico), visto que estão relacionados
espiritualmente (mas não literalmente) a Cristo nos lugares celestiais. Assim,
devemos esperar que, no Apocalipse, quando uma imagem relacionada ao
santuário/templo é aplicada a um cenário terrestre na era da igreja, haja uma
interpretação espiritual, e não literal, visto que o templo, na Terra, é
espiritual”.
Por outro lado, ele
observa que, “durante a era da igreja, o reino espiritual terrestre é superado
pelo domínio literal de Cristo nos lugares celestiais. De maneira consistente
com essa perspectiva neotestamentária, a tipologia do santuário do Apocalipse, quando
focalizada no santuário celestial, compartilha da mesma modalidade que a
presença de Cristo, ou seja, um cumprimento antitípico literal”.
Se esse princípio
hermenêutico for seguido, muitos problemas podem ser evitados. Apesar disso, os
números ainda podem ter valor simbólico, até nas cenas celestiais. Determinar o
que os diversos números significam exige meticulosa pesquisa bíblica. A base
primária para se interpretar tanto o simbolismo como a numerologia no
Apocalipse deve vir de dentro das Escrituras.
Mensagem de Cristo
Ao interpretar o Apocalipse, devemos começar com as premissas corretas. O que o livro tenta comunicar? Alguns acreditam que João estivesse escrevendo sobre eventos que ocorreriam em sua própria época. Esses intérpretes, denominados preteristas, ignoram as próprias reivindicações de João sobre o que ele registrou e por quê. Não aceitam que João tenha recebido revelações visionárias vindas de Deus sobre o futuro, especialmente em relação ao tempo do juízo escatológico e ao estabelecimento do reino eterno de Cristo. Eles veem apenas o início da história cristã, mas não seu meio ou fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo em todas as épocas.
Outros leitores creem que
João estivesse escrevendo apenas sobre escatologia, os eventos finais da
história e o estabelecimento do reino de Deus na Terra. Não compreendem que
João incluiu muita atividade histórica relacionada ao período anterior ao fim:
seis selos e seis trombetas, durante os quais os eventos continuam a ocorrer na
Terra. Somente nos dias em que a sétima trombeta soar, o mistério de Deus será
concluído (10:7). Esses intérpretes, denominados futuristas, veem o fim da
história da salvação cristã, mas não seu início e suas lutas durante as longas
eras que antecedem o fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo de
todas as épocas.
Somente uma abordagem equilibrada, que mantenha em mente o verdadeiro objeto da revelação, trará resultados satisfatórios. A revelação não foi dada apenas a João ou às sete igrejas da província romana da Ásia, mas aos servos de Deus (1:1) que viveriam antes do juízo final, a fim de prepará-los para os eventos vindouros. A menos que leiamos o livro com a intenção de discernir essa mensagem dada por Cristo, deixaremos de compreender o conteúdo mais importante do livro.
A parte mais
significativa do livro para nossa experiência pessoal são as cartas de Cristo
às sete igrejas. Nessa seção Cristo fala pessoalmente a cada indivíduo de cada
época. As sete igrejas representam a realidade da igreja em todas as épocas,
bem como as variadas experiências que cada cristão pode ter em qualquer tempo.
Esse fato é comprovado pela declaração repetida várias vezes: “Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 12, 22).
O apelo é individual e a mensagem a cada igreja é aplicada a todas as igrejas.
Se seguirmos uma abordagem semelhante no estudo de cada visão do Apocalipse,
buscando a mensagem pessoal de Cristo ao leitor, receberemos a bênção de 1:3 e
22:7. Esse deve ser o objetivo do estudo do livro do Apocalipse.
EDWIN REYNOLDS, doutor em Teologia pela Universidade Andrews, é professor de Novo Testamento e línguas bíblicas na Southern Adventist University (EUA)
(Texto publicado
originalmente na edição de março de 2016 da Revista Adventista) via (Revista
Adventista).