Intelectualidade
e racionalidade estão em baixa. Basta observar a extrema exaltação do corpo e a
exploração da sexualidade como mercado e brinquedo do prazer. Enquanto isso, os
nerds, são propagados como pessoas bestas, esquisitas, com comportamentos
ridículos, com óculos arredondados e cabelos cobrindo a testa. O preconceito
enxertado contra o cidadão apaixonado pelo estudo, pelo saber e
intelectualidade é visível em uma sociedade cada vez mais embrutecida e
bestializada. Leandro Karnal, filósofo e historiador, entende que nunca se leu
tanto como nos dias atuais, todavia, embora seja possível reconhecer a
constatação de Karnal como verídica, por minha própria conta, me arrisco a
afirmar que é também possível que nunca tivemos, ao mesmo tempo, uma geração tão
estúpida.
As pessoas,
especialmente a juventude, estão lendo muito, de fato, pois se somados os
textos picotados em twitters, facebooks e whatsapps lidos diariamente, é bem
provável que a somatória dessas escritas poderia resultar em um nível de
leitura bem superior ao que se leria naturalmente em livros. Porém, a
quantidade de leitura feita não significa aumento de conhecimento e de
intelectualidade. Eu posso naturalmente ser um grande leitor, porém, ao mesmo
tempo, ser ainda um profundo ignorante.
Alberto Manguel,
argentino, filósofo contemporâneo, reconhece a precocidade da intelectualidade
mesmo em fase amadora em vários níveis da sociedade. Segundo a Folha, “Manguel
sabe ser representante de uma espécie em extinção: o homem de letras, aquele
que parece uma enciclopédia do saber humanístico” – sugere, intelectual é uma
espécie em extinção.
A triste
realidade, vivemos em um planeta estruturado em torno da máquina
comercial". Segundo Manguel, “o mundo contemporâneo não quer indivíduos
que reflitam, por estar mais interessado em formar consumidores. Há um vazio de
educação sobre a memória do passado comum, de nossos valores. Não diria que já
tivemos uma sociedade justa. Mas no passado havia um esforço para questionar
momentos injustos."
Outro filósofo que
possuí crítica semelhante é Allan Bloom. Professor na Universidade de
Chicago até a década de 80 e notável tradutor de Platão e Rousseau, afirmou que
a decadência social e política do Ocidente no século XX foi causada por uma
crise intelectual. Ele destacou a falta de objetivos das universidades e a
falta de conhecimentos dos estudantes modernos. Esclareceu que a vida liberal,
sem valores definidos substituiu a razão e a criatividade”. Bloom critica
severamente como a democracia ocidental absorveu, talvez inconscientemente,
ideias vulgarizadas de niilismo e de relativismo mascarado de tolerância.
Retratando a superficialidade dos estudantes de seu tempo, em seu livro
intitulado “O declínio da cultura ocidental” escreveu que a “falta de cultura”,
no seu significado iluminista e não no que se transformou na pós-modernidade,
“leva os estudantes a procurar informações onde elas estejam disponíveis, sem
capacidade para distinguir entre o sublime e o reles, o conhecimento profundo e
a propaganda. “ (p. 80).
Observando e
comparando gerações, podemos perceber que a racionalidade tem sido destronada e
em seu lugar, como norma padrão de vida, permaneceram o sentimentalismo e os
prazeres indeterminados. Sob a prerrogativa do amor, as restrições perderam o
seu valor. Os limites, as regras e uma vida centrada em princípios moralistas
são fortemente rejeitados porque interferem, segundo o homem moderno, na
legitimidade da verdadeira liberdade. Desta forma, qualquer obstrução ou lei
que interfira na felicidade baseada no prazer e satisfação, passa a ser
encarada como fundamentalista e opressora. Quem ganha nesta história toda é a
impunidade, a insubmissão e a ilegalidade. Não importando qual seja a
liberdade, o relativismo pune como antidemocrática qualquer lei que limite a
tal liberdade.
Nos tempos
antigos, liberdade significava ser livre de encrencas, infortúnios e tragédias
que normalmente se configurava em uma vida regida por leis protetoras. No caso
atual, a liberdade é reinterpretada como uma vida sem regras. A única regra é a
que cada indivíduo estabelece para si mesmo - alicerçada apenas nos desejos e
paixões ou coletivos de um grupo homogêneo.
Você pode estar imaginando em que esta realidade se harmoniza com declarações
bíblicas. O cenário pintado pelos profetas nos faz olhar com as lentes do
cumprimento profético. Jesus esclareceu que o final dos tempos seria semelhante
aos dias de Noé e de Ló (Lc 17:20-37). Com esta ilustração, Ele está projetando
para os dias finais da história uma terrível e catastrófica atmosfera de
libertinagem, quebra de princípios e desvalores quanto à existência. A
devassidão e a insanidade imoral seriam tão exacerbadas que influenciariam a
própria religião cristã. O profeta que desenrola as cortinas do futuro para
esta compreensão é Paulo, pois ele escreveu que o final dos tempos seria
difícil porque o próprio seio cristão abraçaria as ideias relativistas e
liberais (II Tm 3:1-5). Em suma, o Cristianismo seria vendido às custas das
paixões e prazeres humanos sob a falsa prerrogativa do amor.
Por fim, a irracionalidade unificada ao relativismo
e à busca extasiante por prazeres estão projetando para o futuro próximo uma
verdadeira epidemia de caos, insanidade e bestialidade. A este respeito a
escritora Ellen White bem declarou que “A contínua transgressão das leis da
natureza é uma contínua transgressão da lei de Deus. O atual peso de sofrimento
e angústia que vemos por toda parte, a atual deformidade, decrepitude, doenças
e imbecilidade que agora inundam o mundo, tornam-no, em comparação com o que
poderia ser e Deus designou que fosse, um hospital; e a geração atual é débil
em poder mental, moral e físico. Toda esta miséria tem-se acumulado geração
após geração, porque o homem caído transgride a lei de Deus.” (Mente, Caráter e
Personalidade, p. 416). Mas, coisas piores ainda virão pela frente. Quem viver
verá.
Gilberto Theiss – Graduado em filosofia e teologia.
Pós-graduado em ensino de filosofia, ciência da religião, história e
antropologia. Mestrando em teologia bíblica e PH.i em filosofia literária.