22 de outubro de 1844 marca o dia do
grande desapontamento, uma data muito importante para o pensamento adventista. Esta
data marca o fim da profecia das 2300 erev-boqer, ou tarde-manhãs, de Daniel
8:14, que se iniciaram com o decreto de Artarxerxes I em 457 AEC. No arcabouço
de interpretação histórica, que adotamos, esta data aponta para o início da
segunda fase do ministério de Cr-sto no Santuário Celestial, profetizado tipologicamente pelo Yom Kippur de
Lev. 16. No Yom Kippur, os pecados de Israel eram levados para o deserto e
finalmente alijados da congregação e do Santuário, que estava, então,
purificado e limpo. Este dia ocorria aos
10 de cada sétimo mês.
Era um dia de juízo e contrição de alma,
no qual cada pecado passado e transferido para o santuário no serviço diário
(Lev. 1-4) era finalmente e completamente apagado não apenas do Santuário, mas
da vida do ofertante (Lev. 16 e Num. 29). Cada Yom Kippur era, assim, esperado
com afinco. O toque do Shofar no primeiro de Tishrei, o sétimo mês, anunciava a
chegada o juízo em poucos dias, e marcava o início de um período de profunda
introspecção e reflexão, culminando em um dia inteiro de autoanálise e
arrependimento.
A mensagem Millerita do iminente retorno
de J-sus soou como um Shofar que anunciava o juízo próximo, e convocava um
Jejum e arrependimento. J-sus viria para o Julgamento Final e o Julgamento
Final era o Yom Kippur. Por isto,
considerando que em Sua primeira Vinda, Ele cumprira as Festas do Eterno
acontecidas na Primavera, agora era o tempo de cumprir as do Outono. Desta
forma, Sua Vinda deveria ser no Outono, e mais precisamente no Yom Kippur. Era
o clamor da Meia Noite, o Movimento do sétimo mês.
Quando seria o Yom Kippur daquele ano,
marco final da profecia de Daniel 8:14? A observação de calendários antigos,
levou Samuel Snow e seus companheiros, verificarem que o Yom Kippur do ano de
1844, cairia em 22 de Outubro. E assim anunciaram. E assim cremos por muitos
anos.
Ocorre que vários críticos têm apontado
que o Yom Kippur de 1844 não ocorreu em 22 de outubro, mas em 23 de setembro,
de acordo com o calendário rabínico. Efetivamente, uma consulta a qualquer
almanaque judaico que contenha o Calendário de 1844, irá mostrar que a data
real do Yom Kippur era 23 de setembro, naquele ano. Então, como podemos
defender que 22 de outubro era o dia da Expiação ou o Yom Kippur?
A resposta a esta discrepância se
encontra em algumas observações que faremos aqui:
1) Samuel
Snow jamais afirmou e não fazemos nós tampouco, que o 22 de outubro de 1844
fosse o Yom Kippur “judaico”. Principalmente, porque sabemos não existir apenas um judaísmo. Havia várias seitas, como há, do Judaísmo e
ao menos uma delas, os caraítas, mantinham discordâncias históricas com o Judaísmo
Rabínico quanto ao calendário e às festividades.
2) O
calendário Rabínico moderno está baseado no ciclo Metônico e não no
observacional como era nos tempos bíblicos. O ciclo metônico foi criado por
Meton em 432 A.C. e se baseia na observação de que 235 meses lunares possuem
exatamente a mesma quantidade de dias de 19 anos solares, ou 6939 dias. Isto
quer dizer, que qualquer data de um calendário lunar irá cair no mesmo dia do
calendário solar a cada 19 anos. Em termos
práticos, isto quer dizer que a data da páscoa judaica será a mesma a cada 19
anos e o ano judeu começa na mesma data. Mas o calendário judaico, possuía
outra complicação que é a inclusão de 1 mês inteiro, chamado Adar II, a cada 2
ou 3 anos, para corrigir o desvio de observação da primeira Lua Nova do ano e o
amadurecimento da cevada e apresentação dos primeiros frutos (bikkurim),
conforme o mandato bíblico (Lev. 23:11-15).
3) O
início do ano bíblico era marcado como o mês em que o grão estava maduro para
ser apresentado diante de D-us, de acordo com Lev. 23, no dia imediatamente
após a Páscoa. Para que isto acontecesse era necessário que a este grão
estivesse maduro e que o mês fosse Abib (que quer dizer maduro). Quando a primeira Lua nova do mês de Nisã/Abib era
observada, o grão era checado quanto a sua madures e propriedade para serem
apresentados. Caso não estivessem prontos ainda, um segundo mês de ADAR era
acrescentado, fazendo com que todo o calendário festivo sofresse um
deslocamento em até 1 mês.
4) Com
a adoção do ciclo metônico e o abandono do cálculo observacional, a inserção do
mês de ADAR II passou a ser feita através da regra de não permitir que o 15 de
Nisã/Abib caísse no Inverno do hemisfério Norte, ao invés de baseá-lo na
observação da Lua e do grão.
6) Por
outro lado, há evidências de que pelo menos por volta de 1836, na Palestina, o
calendário festivo judaico estava adiantado em 1 mês, de acordo com o
testemunho do rabino E. S. Calman,
convertido ao cristianismo, na Palestina que informou o seguinte: “ No presente, os Judeus, na Terra Santa, não
tem o menor respeito por esta estação apontada e identificada pelo Eterno, mas
seguem as regras estabelecidas na lei oral.... Em geral, o tempo correto ocorre
1 mês após eles a haverem celebrado, o que é o contrário do que está na lei....
Não vi nas ruas de Jerusalém durante as festas, nenhum espiga madura de
cevada.” The Present State of Jewish
Religion, pp. 411, 412.
Em suma, apresentamos sete razões pelas
quais podemos entender que no calendário Bíblico de 1844, iniciado pelo
amadurecimento do grão e não pelo calendário rabínico, o Yom Kippur aconteceu em
22 de Outubro e não 23 de Setembro. Os caraítas na Palestina, de acordo com uma
testemunha ocular ali vivendo por volta deste tempo informou, celebravam as
festividades um mês mais tarde, do que o calendário judaico oficial, porque
seguiam o calendário bíblico, observacional, como hoje estão começando a fazer
novamente.
D-us direcionou os passos do movimento
do sétimo mês, fazendo-os utilizar o cômputo e a data correta, baseado somente
nas Escrituras, ao invés do cálculo rabínico, que é uma acomodação
matemática. Por isto, a data de 22 de
Outubro carrega maior significado profético, uma vez que não está baseada em
cálculos e composições humanas, mas no Assim diz o Eterno. Louvado Seja o
Eterno!
Sérgio Monteiro – Bacharel, Pós-Graduado
e Mestre em Teologia. Doutorando em Línguas Semíticas.