Verdadeira adoração
“SENHOR, responde-me, para que este povo conheça que tu és o
SENHOR Deus” (I Reis 18:37).
Diante
da face do rei Acabe, das centenas de homens que serviam como profetas de baal
e com as tribos de Israel a sua volta, está Elias, o único homem em toda a
nação que aceitou o desafio de reivindicar a verdadeira adoração. Aquele que
fora responsabilizado pela seca e sofrimento da nação, agora, se encontra,
exatamente, diante dos inimigos. O palco foi montado, e, para todos ali
presentes, a impressão é que, Elias, não passava de um profeta fracassado e
solitário. O que um homem sozinho poderia fazer contra toda esta vasta multidão
e contra seus deuses? - Poderia ser a indagação dos seus inimigos. No entanto,
embora não pudessem ser vistos, o universo contemplava a cena e seres
invisíveis, com poder indescritível, se posicionara do lado do profeta
aparentemente solitário. O povo, em expectativa, observava com espanto,
enquanto que os profetas da falsa adoração, ansiosos em acabar definitivamente
com o perturbador de Israel, observavam o seu rosto solene e repleto de
confiança e segurança. O silêncio de Elias parecia ser perturbador para os
adversários até que, finalmente, “olhando
primeiramente para o altar derribado de Jeová, e depois para a multidão, Elias
exclama de maneira clara, em voz como de trombeta: “Até quando coxeareis entre
dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e se Baal, segui-o”. I Reis
18:21. ( WHITE, Ellen G. Profetas e Reis, p. 147. )
Esta surpreendente história, muito conhecida, é uma das marcas
mais destacáveis da verdadeira e falsa adoração. A experiência de Elias, seus
desafios e o teor de sua mensagem para Israel, especialmente no contexto do
monte Carmelo, nos ajudará a compreender um pouco mais da linha que separa
estes dois poderes que disputam espaço no coração humano. A maneira como Deus
agiu no monte Carmelo, contrariando a falsa adoração, evidencia pelo menos
quatro verdades substanciais que nos auxiliarão a compreender um pouco deste
dilema. Observe:
1º
SE BASEIA NA VERDADE
Uma vida em erro proposital não é capaz de mover o braço de Deus
a nosso favor. O Espírito Santo é sempre concedido ao homem de coração
contrito, sincero e desejoso em fazer a vontade de Deus – independente de qual
seja ela. O conflito entre a verdade e a mentira está diretamente enraizado no
contexto de adoração verdadeira e falsa. Na batalha do Carmelo, podemos
observar nitidamente a resposta e intervenção de Deus com o objetivo de exaltar
e clarificar Sua verdade em detrimento da mentira dos homens e de Satanás. Esta
realidade é tão séria que, custou a vida de centenas de pessoas ali presentes
que, especificamente, combatiam contra a verdade de Deus (I Rs 18:40).
Portanto, abandonar a mentira, após tê-la conhecido, é fundamental para
permanecer na verdade, e consequentemente, permanecer ao lado de Deus. Ninguém
receberá a unção e o poder de Deus enquanto conscientemente e decididamente
permanecer na mentira. Ellen White considera que, “é por manter a verdade, pura, não adulterada, que podemos neste tempo
honrar e glorificar a Jesus Cristo” (WHITE, Ellen G. Carta 78, 1906 [MM 1956], p. 196).
2º
SE BASEIA NA SINCERIDADE, MUNIDA DA VONTADE DE DEUS
A sinceridade não anula a obediência e a necessidade de retidão
e integridade. A sinceridade não bonifica escolhas contrárias à vontade de
Deus. Minha sinceridade não outorga o selo de aprovação ao tipo de música que
me agrada ou comportamento e lugares que frequento seguindo minha própria
vontade, gosto e inclinação. Há pessoas que fazem da sinceridade um cabide para
pendurar suas inclinações e gostos pessoais que não estão de acordo com a
vontade de Deus. Transformam sua sinceridade em uma espécie de libertinagem pra
permanecer no erro e continuar contrariando a verdade. Na experiência do
Carmelo, a grande diferença entre Acabe e Elias era que, a sinceridade de Elias
o tornava completamente submisso a Deus independente das circunstâncias serem
favoráveis ou não, e a sinceridade de Acabe era sufocada por suas próprias
paixões, gostos e ambições. Portanto, a sinceridade, não deve estar associada a
uma vida de atitudes inconsequentes, mas, fortemente vinculada à luta para ser
submisso à luz recebida, pois, como afirma a revelação, “a sinceridade nunca salvará a alma das consequências de crer num erro.
Sem sinceridade não há genuína religião, mas a sinceridade numa religião falsa
jamais salvará o homem. Posso ser perfeitamente sincera em seguir um caminho
errado, mas isto não torna o caminho certo, nem me levará ao lugar a que eu
desejava chegar. O Senhor não quer que tenhamos cega credulidade, e chamemos
isto fé que santifica. A verdade é o princípio santificador, e portanto
cabe-nos conhecer o que é a verdade. Precisamos comparar as coisas espirituais
com as espirituais. Precisamos provar tudo, mas reter somente aquilo que é bom,
aquilo que apresenta as credenciais divinas, que põe diante de nós os
verdadeiros motivos e princípios que nos prontificam à ação” (WHITE, Ellen G. Carta 12, 1890).
3º
SE BASEIA NA SOLENIDADE, E OS ASPECTOS EMOCIONAIS NÃO SUPLANTAM OS RACIONAIS
Não é o êxtase emocional que nos favorece a receber o poder ou a
presença do Espírito Santo. Na verdade, no conflito do Carmelo, não é Deus quem
faz uso desta ferramenta. Perceba que Elias, ao contrário dos profetas de Baal,
recebeu a atenção de Deus apenas por uma simples, solene e reverente oração. É
importante entender que, solenidade ou reverência não significa ser mórbido,
indiferente ou mesmo sem vida e ânimo. Vários dicionários apresentam que,
solenidade tem haver com celebração
suntuosa, algo feito com aparência nobre, majestoso, que denota importância,
seriedade cujo tom é enfático que infunde imponência e beleza. Portanto, no culto
ou celebração, não é o barulho que vai gerar o poder na vida do converso, mas,
uma vida de submissão e solenidade diante de Deus. Outro fato perigoso de ser
confundido é estimulação de emoção. A verdadeira emoção não tem nada haver com
estimulação. Infelizmente, muitos, estão meramente sendo estimulados ao invés
de serem saudavelmente emocionados. Por este motivo é que a procura tem sido
alta, por um culto mais eletrizante, sensacional e de músicas cada vez mais
estimulantes. A emoção se satisfaz com a solenidade, mas, a estimulação sempre desejará
uma dose a mais. Ellen White pondera que Satanás pretende introduzir nas
experiências cristãs um excitamento emocional como meio de impedir o verdadeiro
reavivamento (WHITE, Ellen G. O Grande Conflito, p. 464), e que não devemos nos
deixar ser controlados “pelos
sentimentos. Todos os que trabalham na vinha do Senhor devem aprender que
sentimento não é fé. Estar sempre em estado de emoção, não é exigido. Exige-se,
porém, que tenhamos firme fé na Palavra de Deus, como sendo a carne e o sangue
de Cristo.” (WHITE, Ellen G. Evangelismo, p. 138).
4º
DEVE REFLETIR AS DETERMINAÇÕES, ENSINAMENTOS E VONTADE DE DEUS
A maior diferença entre verdadeira e falsa adoração é que a
primeira se baseia na vontade de Deus em detrimento da vontade e determinações
humanas. Reflita profundamente, o que teria acontecido se Moisés tivesse se
recusado a retirar as sandálias e entrado na presença do Senhor com elas nos
pés? O que teria acontecido se o povo de Israel, ali no Egito, não tivesse
passado o sangue nos umbrais? O que teria acontecido caso o povo tivesse se
recusado a erigir o santuário de acordo com o modelo que fora mostrado? E se
Naamã não tivesse entrado sete vezes no Jordão? E se o povo não tivesse rodeado
os muros de Jericó sete vezes? E se o exército de Jeosafá não tivesse apenas
permanecido em posição de guerra durante toda a batalha contra os filhos de
Moabe, e os filhos de Amom no deserto de Jeruel? Percebe? Nossa vontade,
sabedoria, gostos e convicções devem ser subordinados inteiramente à vontade de
Deus. A oferta de Caim expressa bem esta verdade, pois, “Caim representa
aqueles que observam os princípios e as obras de Satanás, ao adorar a Deus à
sua maneira, conforme a própria escolha” (WHITE, Ellen G. Perto do Céu [MM 2013], p. 192). Portanto, a guerra do monte Carmelo, é um espelho da guerra que enfrentamos
em nossos dias e que em breve será potencializada. A verdade de Deus contra a
verdade dos homens; a Vontade de Deus, contra a vontade dos homens; e o culto
de Deus contra o culto dos homens. É importante compreender que todos nós somos
alvos da falsa adoração, seja ela na vida prática ou nos conceitos internos
controlado, às vezes, por nossos gostos e convicções pessoais. A revelação que
temos é que devemos “advertir nosso povo contra a falsa
santificação moderna, que tem sua origem na adoração da vontade, e não
na submissão à vontade de Deus. Esse erro está rapidamente inundando o
mundo, e, como testemunhas de Deus, seremos convidados a dar decidido
testemunho contra ele. É um dos maiores enganos dos últimos dias e constituíra
uma tentação para todos os que crêem na verdade presente. Aqueles cuja fé não
está firmemente estabelecida sobre a Palavra de Deus serão enganados. E a parte
mais triste de tudo isso é que bem poucos dos que são enganados por esse erro
encontram novamente o caminho para a luz” (WHITE, Ellen G. Fé e Obras, p. 51).
CONCLUSÃO
Lembre-se que, todos nós somos frutos da falsa adoração, pois,
nascemos nela, crescemos nela, comemos e bebemos dela e fomos educados por ela.
Mas, através de Jesus Cristo, Sua palavra e Seus propósitos sublimes, Deus se
propôs a nos libertar do enfeitiçante poder da falsa adoração que conduz a
humanidade para longe de Deus e consequentemente à destruição. “Conhecereis a
verdade”, disse Jesus (Jo 8:32), e ela nos libertaria. No entanto, além de
conhecer a verdade é necessário aceita-la, praticá-la e, como Elias, munido do
poder do Onipotente, defende-la com heroísmo e confiança. Para isto, pelo poder
do Espírito Santo, precisamos aprender amar o que Deus ama, e odiar o que Deus
odeia, mesmo que signifique abandonar muitos dos gostos e convicções pessoais.
Embora fragilizados por uma natureza caída, devemos lutar para sentir aversão
ao pecado e à falsa adoração mesmo àqueles que caminham intimamente conosco. Lembre-se
que, é propósito de Satanás provocar em nós, a princípio, desdém a autoridade
de Deus, até que sejamos capazes de desafiá-la plenamente (WHITE, Ellen G. Patriarcas e Profetas, p. 337).
Pense nisso!
Pr. Gilberto G. Theiss - Revista Adventista (Setembro de 2013, p. 12-14).