Comentário da lição 2 – Amor e julgamento: o dilema de Deus (Oséias)


Comentário da lição 2 – Amor e julgamento: o dilema de Deus (Oséias)

SÁBADO – INTRODUÇÃO (Os 12:6)

“Converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo e no teu Deus espera sempre” (Os 12:6).

A boca do profeta, usada pelo Espírito Santo, apela para o povo, que se convertam e conservem o amor e o juízo. Também clama para que eles esperem no Senhor.
Interessante que, estamos à quase seis mil anos de pecado sobre a terra, e, a mensagem de Oséias ultrapassou gerações, ou milênios, até alcançar-nos com poder e significado. Mesmo em nossos dias, quanto valor existe nestas palavras? Como bem ilustrou Martinho Lutero, muitos, mesmo dentre o povo de Deus, parecem viver uma vida corcunda, ou seja, com as costas viradas para Deus. A mensagem de Oséias para o povo de seu tempo não foge a realidade da extrema necessidade de reavivamento para o Israel espiritual de nossos dias. A falsidade de Israel ilustrada e condenada, mas, permeada de misericórdia e compaixão reflete na íntegra a mesma realidade de hoje.

DOMINGO – ENGANADO E INSENSATO (OS 7:11,12)

O profeta não estende as metáforas em uma sequência lógica, mas, todas descrevem a situação de forma negativa. No caso de Efraim, Oséias faz menção descrevendo a situação de Israel que se mistura, ou, faz acordo com os pagãos, perdendo sua identidade e pureza espirituais. Engolidos pela cultura das nações ao seu redor, Israel, gradativamente, deixa os valores e princípios ensinados pelos patriarcas antigos. Em nossos dias, esta séria advertência e repreensão soam com força aos ouvidos do Israel espiritual. O movimento protestante que, no passado, havia sido leal aos valores que os tornavam especiais diante de Deus, hoje, absorvidos pelas culturas pagãs e relativistas do presente século, deixaram as raízes que os tornavam protestantes. Por conta desta realidade, Deus levantou um novo Judá espiritual que, à  exemplo do Israel antigo, não está imune as deficiências e influências externas. As mensagens de Oséias não devem ser um estímulo de acusação e reprovação ao povo de Deus antigo, mas, um exemplo do que pode acontecer quando baixamos nossa guarda e quando fazemos concessões que nos colocam em perigo. O engano e insensatez não é uma desgraça de apenas um grupo de pessoas, mas, de qualquer um que se aventure a ignorar a diferença entre santo em profano na vida e nos meios em que estão inseridos (Is 5:20,21).

SEGUNDA – BEZERRA DOMADA (OS 10:11-13)

Nesta figuração vemos uma imagem agrária ampliada permeada de juízo em sua linguagem. “Efraim” era uma bezerra domada, que gostava de trilhar (ou seja, de pisar o trigo para tirar a casca), isto indica a apreciação em puxar o arado sobre o cereal. Era uma espécie de trabalho relativamente leve que exigia mais de um animal que de um homem em si. O mais importante em toda a linguagem utilizada é que, Israel, costumeiramente havia semeado e colhido perversidade. Agora, o apelo é que se convertam de seus maus caminhos e comecem a plantar misericórdia e fidelidade, não apenas com a força física utilizada na semeadura, mas, também com a força do intelecto e do coração. A parábola de juízo era uma sentença clara caso ignorassem as palavras e apelos de Jeová. Há disciplinas que somente são concretizadas através de muito sacrifício e sofrimento, mas, a sentença veio sobre Israel muitas vezes, e a disciplina de um jugo parece não ter sido suficiente para ensinar e instruir. O jugo é a representação da lei de Deus que serve para guiar e manter-nos em reto proceder, uma vez que, nossas próprias inclinações tendem a fazer o contrário, e, consequentemente nos levar a ruína. Com relação ao sofrimento, interessante notar que, mesmo hoje, os sofrimentos e adversidades que nos sobrevêm, são capazes de transformar alguns e endurecer outros. Os que olham para o sofrimento como uma oportunidade de amadurecimento, conseguem absorver destes momentos força e certeza de preparação espiritual, enquanto que, os demais, apenas se tornam cada vez mais enrijecidos contra a voz de Deus e Sua verdade. No caso de Israel, parece que a segunda opção foi mais notória. Ellen White, descrevendo a experiência negativa de Israel, afirma que “a iniquidade prevalecente em Israel durante a última metade do século, antes do cativeiro assírio, foi semelhante àquela que prevaleceu nos dias de Noé e que tem prevalecido em cada época em que os homens têm rejeitado a Deus e se entregado completamente à prática do mal.” (RH, 29 de Janeiro de 1914). Também declara que “os pecados cometidos requerem o sincero arrependimento do qual não há retrocesso, mas quando o solo endurecido é lavrado e os teimosos torrões partidos em pedacinhos, então a preciosa semente pode ser lançada e enterrada no solo. Isso representa a severa disciplina de Deus. Muitas vezes se manifesta rebelião, e a disciplina de Deus tem de continuar até que seja quebrada a vontade humana obstinada para alcançar o fim proposto. Nas coisas espirituais, assim como nas naturais, tem de ser feita essa obra. Frequentemente é necessária a severidade para conseguir a colheita espiritual. Faz parte da grande lei de Deus o fato de que, sem a devida sementeira, e o cuidado do solo, não há colheita. Falta determinada experiência. No sentido espiritual, as bênçãos divinas esperam apenas que seja trabalhado e cuidado o solo do coração humano enquanto o Senhor lança Sua semente.” (Para Conhecê-lo [MM 1965], p. 281).

TERÇA – UM FILHO APRENDENDO A ANDAR – (OS 11:1,3)

Israel é descrito como um filho amado de Deus, e, somente terá profundas condições de entender este significado àqueles que são pais apaixonados pelos filhos. Parece não existir em nenhum lugar da Bíblia nenhuma declaração mais forte que descreva a paixão de Deus por Seu povo do que esta. Naquele tempo o povo de Deus era como uma inocente criança indefesa diante dos poderosos impérios ao seu redor. Deus os ensinou-os a caminhar “tomei-os nos meus braços”, conduzindo-os seguramente entre os lobos ferozes. Incrível descrição, e, quão profundas são estas palavras. Assim como um adolescente que compreende erroneamente os pais, encarando-os, muitas das vezes como rivais, assim também agiu Israel com Deus. É necessário adquirir sensibilidade para ouvir a voz do Espirito Santo pra entender a profundeza do amor de Deus por nós. A falsa compreensão de amor que aprendemos neste mundo tem maculado nossa capacidade de percepção do amor divino pelos seres humanos. Quão falha tem sido nossa devoção e entrega, justamente pela tão superficial compreensão desta verdade. Quanto mais superficial for nossa visão a respeito de Deus e de Seu amor, mais superficial será nosso amor e entrega a Ele. Israel passou por esta terrível maldição que também nos assola em nossos dias.

QUARTA – COMPAIXÃO MAIS FORTE DO QUE A IRA (OS 11:8,9)

Impressionante observar que, todos os sinais remontam a destruição de Israel, mas, Deus lamenta com, o coração profundamente comovido e repleto de compaixão. Com certeza, a justiça divina é mais severa que a bomba atômica nas cidades japonesas ou que o campo de concentração na Alemanha, mas, sua compaixão e misericórdia são ainda maiores que o pior dos juízos. O final desta seção em Oséias 11 é uma promessa de salvação que retorna algumas metáforas e inverte o seu real sentido. Na verdade, sempre que há juízo da parte de Deus, também há salvação para os que ainda se voltam e se arrependem. Mesmo o juízo de Deus contra os ímpios, que parece terrível e assustador, será uma demonstração de amor e compaixão, pois, viver no pecado jamais trará realização e felicidade. É melhor deixar de existir que viver em condições das mais deploráveis. Assim, Deus acaba com o sofrimento dos próprios ímpios e dos que compreendem as suas eternas agonias no pecado sofredor. Portanto, a compaixão divina é mais forte que a Sua ira. Deus não deseja que o homem encontre e trilhe o caminho da morte, mas, se assim desejarem, com tristeza no coração, lhes será permitido desfrutar da perdição eterna.

QUINTA E SEXTA – CURADO, AMADO E SUSTENTADO (OS 14).

“Volta, ó Israel, para o Senhor teu Deus”, parece um apelo comum, mas, observe com atenção que a promessa já está ali, na palavra ‘Teu’. A lembrança de que Deus era o Deus verdadeiro deles remonta Suas promessas anteriores como se cumprindo - caso eles se voltassem novamente para Jeová. As promessas visavam restaurar Israel fisicamente, devolvendo-lhes tudo o que havia sido tomado e o que ainda seria tomado, assim como, de maneira especial, as riquezas espirituais. Esta promessa estabelece o clímax do livro de Oséias e emoldura as mais ternas vontades de Deus para com Seu povo. A promessa da vinda do Messias seria a mais notável de todas as promessas já feitas por Deus a seu povo. Tanto é fato que, as maiores expectativas de Israel era quanto à vinda deste libertador prometido. Assim como nosso maior foco hoje está na segunda vinda de Cristo, eles olhavam com admiração e esperança de ver o cumprimento da primeira vinda do prometido. Embora tenham, também perdido este foco, mesmo que de maneira distorcida, esta era a maior esperança profética de seu tempo. Deus não deixou de cumprir Sua promessa, mesmo em circunstâncias de apostasia do povo, pois, Deus sabia que, mesmo sendo poucos, haveria os que aguardariam com sincera devoção a vinda do libertador da escravidão do pecado. Como Israel no passado, corremos o risco de perder o foco na maior das promessas. Deus deseja curar Seu povo do presente, assim como desejou curar Israel no passado, mas, muitas das atrações deste mundo tentam perturbar nossa visão espiritual diluindo em nós a percepção de que pertencemos totalmente a Deus e que precisamos urgentemente nos preparar para o Seu retorno.

Gilberto G. Theiss é formado em teologia pelo Seminário Adventista do IAENE, diretor do centro de capacitação teológica Alto Clamor, e atualmente exerce a função de pastor distrital na cidade de Itapajé-Ce

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 REFERÊNCIAS

BRUCE, F. F. (Org.) Comentário bíblico nvi. São Paulo: Vida, 2008.

CARSON, D.A. (Et al.) Comentário bíblico vida nova. São Paulo: Vida Nova, 2009.

NICHOL, Francis D. (Ed.). Comentario biblico adventista del septimo dia: Isaias a Malaquias. Boise: Publicaciones Interamericanas, 1985.

WHITE, Ellen Gould. Profetas e reis.  3. ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1996.