Nancy Pearcey |
Um Debate Chocante Durante um Programa de
Rádio Com o Arquiliberal Barry Lynn “Pensamento crítico?” o apresentador de
rádio gritou. “A maioria das pessoas da Direita cristã conservadora diria que
esse é um dos maiores perigos que temos – essa ideia ‘absurda’ de pensamento
crítico.” Eu estava falando com o arquiliberal Barry Lynn [link em
inglês], diretor executivo da Americanos Unidos pela Separação Igreja-Estado.
Ele havia me convidado para participar do seu programa de rádio Choques de
Cultura para falar sobre meu livro recém-publicado, Saving Leonardo.
No entanto, quando eu expliquei que o livro desmembra cosmovisões seculares
para ajudar as pessoas a desenvolverem seu pensamento crítico, Lynn pareceu
incrédulo. Ele afirmou que os cristãos conservadores desencorajam quaisquer
questionamentos sobre sua fé.
Ele estava
generalizando bastante, mas o fato é que existe sim uma base para um
estereótipo tão negativo como esse. Na verdade, isso se tornou um dos
principais motivos de os jovens deixarem a Igreja. Drew Dyck, em seu recente
artigo Os Desviados, na revista Christianity Today, diz que quando falam com alguém
que abandonou a fé (ou que está pensando em fazê-lo), os cristãos raramente se
envolvem com a pessoa para entender os motivos de sua dúvida. Normalmente eles
“possuem uma de duas reações, ambas igualmente nocivas”: alguns “ficam na
defensiva e não se envolvem de maneira nenhuma”. Outros “vão para a ofensiva,
bombardeando a pessoa com um sermão leigo e repleto de julgamento”.
Meus alunos dizem
que se deparam com ambas as reações. Uma adolescente, que está tendo
dificuldades para decidir em que acreditar, se sente desencorajada porque a
principal resposta de seus pais é “Por que você simplesmente não tem fé, como
nós?”.
Outro adolescente,
que está explorando cosmovisões alternativas, diz que a resposta de seus pais é
condenar tais cosmovisões: “Você não pode provar isso! Você não tem
evidências!”. Como ele me diz: “Eu preciso que meus pais questionem ideias
comigo, não que apenas as julguem”.
Quando os pais e
líderes reagem às questões com condenação e culpa, eles podem acabar afastando
seus adolescentes. Meus dois alunos citados acima anunciaram recentemente que
não se consideram mais cristãos.
Os dois se tornaram desviados.
Eu mesma me tornei
uma desviada quando tinha dezesseis anos. Eu não
estava sendo rebelde. E nem estava tentando fazer uma cortina de fumaça moral
de más escolhas. Eu estava simplesmente me perguntando “Como eu sei que o
Cristianismo é verdadeiro?”. Nenhum dos adultos que eu consultei me deu alguma
resposta.
Eventualmente eu
decidi que a única maneira intelectualmente honesta era rejeitar minha criação
religiosa e examiná-la juntamente com outras religiões e filosofias. Afinal, se
eu não tivesse bons motivos para minhas convicções, como poderia dizer, com
integridade, que o Cristianismo – ou qualquer outra coisa – é verdadeiro?
O Fuller Seminary
conduziu recentemente um estudo com adolescentes que se tornaram desviados na faculdade. Os pesquisadores
descobriram o fator mais decisivo para os jovens cristãos ficarem firmes em
suas convicções cristãs ou para abandoná-las. E esse fator não é o que a
maioria de nós esperaria que fosse.
Participar de um
grupo de ministério na faculdade? Ou, ainda, de algum grupo de estudo bíblico?
Por mais importante que isso seja, o fator mais decisivo é se os estudantes
possuem um lugar seguro para tirarem suas dúvidas antes de deixarem suas casas
e irem para a faculdade. Os pesquisadores concluíram que “Quanto mais os
estudantes do ensino superior sentem que possuíam a oportunidade de expressar
suas dúvidas no ensino médio, maior é sua maturidade espiritual”.
O estudo indica
que os estudantes, na verdade, ficam mais confiantes em seu compromisso cristão
quando os adultos em suas vidas – pais, pastores, professores – os orientam no
sentido de lidar com os desafios propostos por cosmovisões seculares
prevalescentes. Em resumo, a única maneira pela qual os adolescentes se tornam
realmente “preparados para responder a qualquer um que pedir a razão da
esperança” (1Pe 3.15, NVI) é tratar as questões de forma honesta e pessoal.
Como tais
pesquisadores afirmam: “Estudantes que tiveram a oportunidade de lutar contra
perguntas difíceis e contra a dor durante o ensino médio pareceram ter uma
transição mais saudável para a vida na faculdade”. Infelizmente, a maioria das
igrejas e escolas cristãs não encorajam “perguntas difíceis”. Durante a
entrevista de Dyck com os desviados, a
maioria afirmou que “eram constantemente censurados quando expressavam dúvidas”.
Eles eram ridicularizados, repreendidos, ou até forçados a pensar que havia
algo de imoral em simplesmente fazer perguntas.
Ao invés de tentar
responder às perguntas dos adolescentes, a maioria dos grupos de jovens das
igrejas se concentra em comida e diversão. O objetivo parece ser o de criar
vínculos emocionais usando música alta, esquetes bobas, gincanas sem sentido –
e pizza. Mas uma pura experiência emocional não é capaz de preparar os
adolescentes para questionar as ideias que encontrarão quando saírem de casa e
enfrentarem o mundo sozinhos.
Um estudo na
Grã-Bretanha descobriu que pais não-religiosos possuem quase 100% por
cento de chance de transmitir suas visões a seus filhos, enquanto os pais
religiosos possuem apenas quase 50% chance de fazerem isso. Claramente, ensinar
os jovens a se envolverem com cosmovisões seculares de forma crítica não é mais
uma opção. É uma habilidade necessária para a sobrevivência.
Apresentadores
hostis de rádio podem não entender, mas as próprias Escrituras encorajam os humanos a
usarem suas mentes [link em inglês] para examinar quaisquer
alegações da verdade. Como Paulo escreveu, “ponham à prova todas as coisas e
fiquem com o que é bom” (1Ts 5.21, NVI). Acontece que é preciso praticar a
primeira parte do versículo – por à prova e questionar – para que se possa
construir o conhecimento de reconhecer, escolher e ficar com o que é bom. Parafraseando
o poeta inglês William Wordsworth, a criança que questiona é pai do homem
realmente comprometido.