Alguns anos se
passaram e, do mundo encantador dos romances, eu fui levada ao mundo real dos
adultos. Comecei a trabalhar com mulheres e depois com casais. Era
impressionante como a realidade dessas pessoas em nada se parecia com as
histórias dos romances.
Talvez mais impressionante era ver que na mente de
muitas mulheres, e até de alguns homens, a realidade de suas vidas se tornava
ainda mais indesejável quando elas a comparavam com os ideais sobre
relacionamento cultivados desde a infância em sua mente. Ideais estes
construídos sob a influência das histórias dos contos de fadas, dos filmes, das
novelas, dos livros, do irreal.
Costumo dizer que nós
superestimamos nossa capacidade de controlar a influência que algo tem sobre
nossa mente. Agimos como se fôssemos capazes de decidir racionalmente
absolutamente tudo. Este é um tremendo erro de nossa parte. Desde que nascemos
somos influenciados pelo ambiente e o que nele há. Criamos nossa forma de ver o
mundo a partir destas influências. Sem que percebamos, conceitos e crenças são
desenvolvidos e convertidos em pensamentos, comportamentos e emoções. E entre
tantas áreas sobre as quais desenvolvemos conceitos e crenças está a vida
amorosa.
É possível que boa
parte dos que estão lendo estas palavras agora não dê tanto crédito ao que está
escrito aqui. Mas é possível que tantos outros vejam claramente como isto é
real. O desenvolvimento de conceitos e crenças influenciado por romances não é
saudável! Por mais que você pense que sabe discernir entre o que é real e o que
é fantasia, você não tem todo este controle sob a sua mente.
Além de ver na vida
dos meus pacientes, das pessoas com quem eu conversava, das minhas amigas, e em
minha própria vida, como esta influência é problemática, certo dia me deparei
com o seguinte texto: “a conduta seguida por muitos pais ao permitir que
os filhos sejam indolentes e satisfaçam seu desejo de ler romances,
incapacita-os para a vida real. A leitura de contos e novelas é o maior mal a
que podem entregar-se os jovens. As leitoras de novelas e histórias de amor
sempre deixam de ser mães boas e práticas. Elas constroem castelos no ar, e
vivem num mundo irreal e imaginário. Tornam-se sentimentais e têm concepções
doentias. Sua vida artificial tende a arruiná-las para tudo o que é útil. Têm a
inteligência diminuída, embora nutram a ilusão de serem superiores em
mentalidade e atitudes.” (Ellen White, Conselhos Sobre Saúde, páginas 187 e
188)
Confesso que foi bem
desagradável ler este texto. Ele é duro demais para alguém que, como eu, era
apaixonada por romances. Mas ele é uma descrição correta da realidade. Isto
explicava muita coisa com a qual eu tinha de trabalhar no consultório, e em
minha própria vida.
Há algum tempo atrás
li sobre um livro chamado Princess Recovery: A How-To Guide to Raising
Strong, Empowered Girls Who Can Create Their Own Happily Ever Afters (em
português seria algo como “Recuperação da Princesa: um guia de como criar
garotas fortes e poderosas, que podem fazer seu próprio final feliz”).
Nele, a
doutora Jennifer Hartstein orienta
aos pais sobre alguns cuidados e atitudes que devem tomar para ajudar suas
filhas a desenvolverem-se de forma mais saudável, uma vez que nossas
garotinhas continuam sob a influência do mundo irreal das princesas e dos
contos de fadas. E sob esta influência é que elas desenvolvem valores,
conceitos e formas de ser. A doutora Jennifer é psicóloga e sabe quão danosa é
esta influência para a vida afetiva, profissional, social, enfim, todas as
áreas, da vida de uma mulher.
Mais recentemente
percebi que virou uma febre entre adolescentes, e até entre algumas amigas
adultas, falar do romance A culpa é das estrelas. Este é apenas mais um
dos tantos que fazem a cabeça feminina construir seus castelos no ar. Na minha
época de adolescente a moda era Walk to Remember (que em português
recebeu o título “Um amor para recordar”).
Lindo, encantador,
assisti dezenas de vezes, mas nada saudável de acordo com o que entendi
posteriormente sobre como funciona nossa mente. Não estou aqui dizendo que
estes romances são completamente mentirosos. Sei que muitos deles se baseiam em
fatos reais. Mas não se baseiam na sua vida, caro leitor. Eles trazem
consigo valores que não cabem aos nossos relacionamentos. E por isso nos
conduzem a relações doentias, ou, na melhor das hipóteses, com conflitos que
não precisariam existir. Insegurança, baixa autoestima, necessidade de ser
reconhecida, elogiada, dependência afetiva, ciúmes, frustrações… esses são
apenas alguns dos problemas com os quais os valores embutidos nos romances
contribuem.
Para termos
relacionamentos precisamos ter mentes saudáveis. E, para termos mentes
saudáveis, precisamos reconhecer que é preciso cuidar com as entradas da alma.
Alguns suspiros e lágrimas têm um preço muito caro!
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