COMENTÁRIO DA LIÇÃO 6 – ANSIOSO PARA PERDOAR (JONAS)


COMENTÁRIO DA LIÇÃO 6 – ANSIOSO PARA PERDOAR (JONAS)

SÁBADO – INTRODUÇÃO (Jonas 2:9)

“Com a voz do agradecimento, eu Te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9).

O livro de Jonas apresenta a história do profeta que resistira cumprir a missão dada por Deus para advertir Nínive, uma cidade da antiga Assíria. Alguns estudiosos acreditam que Jonas tinha resistência a Nínive por ela ser habitada por pessoas muito cruéis e por fazer parte de uma nação profundamente inimiga de Israel - os Assírios, que mais tarde, em 722 a.C. destruiria Israel. Jonas era um nacionalista convicto, queria que os assírios sofressem consequências por sua tirania. Interessante notar que o livro de Jonas traça uma clara linha entre o ódio egoísta do profeta pelos inimigos e a compaixão de Deus por eles. Este testemunho evidencia claramente o tipo de sentimento que não deve existir nos corações dos verdadeiros seguidores de Cristo de nosso tempo. 

Todos debaixo do céu são filhos do Altíssimo, e, embora separados filosoficamente pelos conceitos pátrios, políticos e sociais, todos são inseparáveis do amor de Deus. Na mais pura essência, todos nós somos filhos do mesmo ser, criados por Ele para sermos herdeiros conforme a promessa. Observe que, “a vida de Cristo estabeleceu uma religião em que não há diferenças, a religião em que judeus e gentios, livres e servos são ligados numa fraternidade comum, iguais perante Deus. [...] Não fazia diferença nenhuma entre vizinhos e estranhos, amigos e inimigos. O que tocava o Seu coração era uma pessoa sedenta pelas águas da vida.” (A ciência do bom Viver, p. 25, 26).

DOMINGO – O PROFETA DESOBEDIENTE (Jonas 1)

Jonas viveu no norte de Israel, provavelmente por volta do século VIII a. C. (2Rs 14:25). Nínive, capital da Antiga Assíria, uma das quatro cidades fundadas por Ninrode, entra no cenário histórico como demonstração da infinita misericórdia de Deus, mesmo perante os inimigos do Seu povo. Esta cidade, assim como muitas outras, era o alvo do amor do Onipotente. Jonas, chamado por Deus, recebe a missão para pregar ao povo desta cidade impenitente e cruel. Deus se apresentou ao profeta e pediu-lhe que clamasse “contra ela (Nínive) porque a sua malícia subiu até mim (Deus)”. Na verdade, a palavra hebraica utilizada é rã’ãh, que às vezes significa “maldade” ou “perversidade”, mas, também pode significar “problema”, “calamidade” ou “desastre”. Isto indica que, conforme reza a LXX (Septuaginta), a tradução mais correspondente poderia ser “clame (ou pregue) para ela, porque seu problema (ou calamidade) me preocupa”. Jonas foi admoestado a pregar com o objetivo de redimir os moradores da cidade e não de destruí-los. A lição para o povo de Deus de nosso tempo é profunda e deve transformar nossas ações e sentimentos por completo. 

A compaixão de Deus deve ser nossa compaixão, e a misericórdia do Altíssimo deve ser nossa misericórdia. Não é correto, do ponto de vista cristão, selecionar as pessoas que ouvirão o evangelho de nossa boca. Todas as pessoas, indiscriminadamente, sejam elas pessoas boas ou não, devem ser acolhidas por nossas palavras. Independente de serem amigas ou inimigas, puras ou promíscuas, íntegras ou corruptas, justas ou injustas, passivas ou da alta periculosidade, crentes ou ateus, enfim, todos devem ouvir a mensagem do amor e plano salvífico de Deus. A igreja de Deus não deve buscar alcançar apenas uma classe de pessoas, mas, todas as que existem debaixo do céu. 

O profeta chamado por Deus, por conta de seus ressentimentos pessoais acariciados, resistiu a este chamado fugindo da responsabilidade. Ele temeu pela conversão da cidade. Observe que, assim como Jonas, há pessoas que vivem um dilema parecido, pois, por conta da amargura e ira pessoal contra uma pessoa, grupo, família ou comunidade, resiste à ideia de levar a esperança da salvação a estes. No entanto, a narrativa da experiência de Jonas revela claramente que, nosso coração deve ser transformado a tal ponto que sejamos capazes de perdoar, amar e desejar a salvação mesmo daqueles que, aos nossos olhos, não merecem.

SEGUNDA – TESTEMUNHA RELUTANTE (Jonas 1:9; Apocalipse 14:7; Isaias 42:5; Apocalipse 10:6)

A luta de Jonas e sua recusa não pareceu ter sido motivada por medo ou por falta de dom específico para pregar aos ninivitas, mas, por seu rancor contra esta cruel cidade assíria e inimiga do povo de Israel. Quando o profeta tentou partir, Deus se opôs a sua relutância providenciando meios para trazê-lo de volta ensinando-o lições preciosas de compaixão e misericórdia. Diante de uma tempestade, os marujos ali presentes acreditaram que tal tempestade poderia ser consequência da ira de algum deus contra um deles.  Então, alguém teve a brilhante ideia de lançar sorte utilizando pedras em um típico processo de eliminação. Para a surpresa de todos, Jonas fora apontado pelas pedras como o culpado da ira divina. 

É evidente que, especificamente nesta história, Deus estava por trás da resposta das pedras, pois, “a sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a decisão” (Pv 16:33). Não sabemos exatamente os detalhes da conversa entre os marinheiros e Jonas após a sorte das pedras, mas, sabemos que o discurso poderia ter sido longo e emocionalmente carregado. A conclusão é que, depois dos diálogos, os marinheiros reconheceram que o pecado de Jonas havia sido grave o suficiente para merecer a punição (3:4). O próprio Jonas reconheceu seu ato como grave e propôs sua própria condenação. Os marinheiros tentaram salvar a vida de toda a tripulação, inclusive a de Jonas, mas, quando perceberam que não havia outra solução, então, a ideia de lançar Jonas ao mar não foi objetável. Por incrível que pareça, a tempestade cessou somente quando o profeta fora lançado ao mar.

É necessário compreender que Deus não é intransigente. Ele não nos obriga fazer o que não apreciamos ou o que não sabemos fazer por falta do dom. No entanto, o problema de Jonas não se enquadra em nenhum destes casos. Sua contrariedade era emocional, pois, alimentara rancor e ira contra os Assírios a ponto de encará-los como inalcançáveis pela graça de Deus. Deus lutou contra o sentimento do profeta para, também, ensinar-lhe uma lição preciosa – a redenção deve alcançar todos os seres humanos dentro e fora de Israel. Os cristãos de nosso século precisam compreender esta tão preciosa lição, pois, nosso coração precisa ser alcançado pela graça de Cristo a tal ponto  que desejemos, com muita paixão, a conversão de nossos piores inimigos. Isto significa no mais sublime sentido possuir o caráter de Deus.

TERÇA – O SALMO DE JONAS – (Jonas 1:17; 2:10).

No salmo de Jonas somos lembrados que as ações do grande peixe foram na verdade a providência de Deus para livrar Jonas de seu infortúnio. Um louvor em clara compreensão da direção do Onipotente em favor do profeta rebelde.
Quanto as referências anormais de um grande peixe engolir Jonas e o manter vivo em 3 dias dentro de seu ventre é possível se levarmos em consideração as possibilidades de Deus. No entanto, há relatos da existência de uma baleia que também pode tornar possível esta experiência. Observe:

1º - Quando Jesus fez menção de Jonas permanecendo três dias e três noites no ventre de um grande peixe (Mt 12:40), a palavra utilizada ali é “Kêtos”, que designa cetáceos, peixe imenso, ou seja, a família dos grandes peixes inclusive das baleias. Portanto é possível traduzir “kêtos” por baleia, embora não seja possível especificar o tipo de baleia.

2º - A revista National Geographic de Dezembro de 1992 descreveu o tubarão-baleia, que, em sua estrutura pode chegar a atingir cerca de 14 a 20 metros de comprimento e pesar mais de 60 ou 70 toneladas. O curioso é que, este enorme peixe pode acomodar suas prezas dentro de sua boca sem o matar por algum tempo, como comenta alguns especialistas descrevendo a preservação de seus filhotes  na boca, de prezas e em viagens. Inclusive a própria revista descreve que “A anatomia digestiva incomum do tubarão-baleia ajusta-se à história de Jonas. É fácil imaginar ser inadvertidamente sugado para dentro da boca do tubarão-baleia, a qual é enorme. A boca cavernosa mesmo de um pequeno tubarão-baleia adulto pode facilmente acomodar uns dois Jonas.”

A Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia apresenta o inusitado caso do marinheiro inglês, chamado James Bartley. Em fevereiro de 1891, ao arpoarem um cachalote, o animal ferido despedaçou o bote em que estavam Bartley e outros marinheiros, que desapareceram no mar. Antes do pôr-do-sol, a baleia ferida flutuou na superfície. A tripulação do baleeiro capturou-a, e começaram a operação de corte para a conservação da carne. Às 23 horas, estavam abrindo o animal, e, para surpresa deles, encontraram James Bartley, inconsciente, mas ainda vivo. Depois, ele contou do que se lembrava. Quando o seu bote foi atingido, e ele atirado ao mar e, ao cair, foi engolfado pela enorme boca da baleia. Lembrava-se que em pânico passou por fileiras de minúsculos e afiados dentes, percebendo que estava escorregando por um tubo liso, e estão desapareceu na escuridão até permanecer inconsciente.

Bom, a pergunta que poderia surgir diante desta experiência inusitada seria: Será que Deus poderia ter criado o cachalote especialmente para a ocasião de salvaguardar o profeta Jonas? Claro que, qualquer conjectura a este respeito não é bem vinda, mas, independente de qualquer especulação, a certeza que temos é que, Deus usou o animal certo para a ocasião certa. Seu milagre ocorrido desde o princípio com a fúria do mar, a sorte das pedras, Jonas não se afogar em meio a tanta água e ser mantido vivo dentro de um peixe representam com clareza a onipotência de Deus.

Embora Jonas tenha sido rebelde e intransigente, vemos como Deus ainda teve compaixão e misericórdia do profeta ensinando-o que, da mesma forma, era necessário desenvolver compaixão e misericórdia dos rebeldes assírios. Assim como Jonas fora livrado de seu destino desastroso, assim também, sob a condição do arrependimento, o povo de Nínive podia ser livrado da punição. Esta lição também deve ressoar aos ouvidos e corações dos cristãos de nosso tempo. Assim como a graça de Cristo nos alcançou, mesmo sem merecermos, da mesma maneira, outros precisam ser alcançados por ela.

QUARTA – MISSÃO VITORIOSA (Mateus 12:39-41; 2 Crônicas 36:15-17)

A história de Jonas não poderia terminar de outra forma. Se Deus havia solicitado Jonas pregar para aquele povo é porque Ele sabia que a cidade carecia apenas da mensagem de salvação. Deus conhece os corações sinceros e quando nos pede para proclamar suas verdades para determinadas pessoas é porque sabe que o fruto será certo. Jonas temia exatamente isto, o sucesso de suas pregações. Ele não queria que fosse dado uma chance àquele povo. No entanto, mesmo não querendo, acabou aceitando a missão vinda do Céu. O sucesso de suas pregações, embora não o fizesse feliz, foi a vitória do propósito do Altíssimo sobre a vida dos ninivitas, e isto, somente foi possível porque fora feito da maneira como Deus ordenara. Até os marinheiros que viveram a dolorosa experiência no mar, foram influenciados pela graça divina. 

Enfim, o exemplo de Jonas, em resolver fazer as coisas como Deus ordenara, em se tratando de missões evangelísticas, é o exemplo a ser seguido em nossos dias. Uma campanha evangelística somente terá êxito se for feita conforme o mandado do Senhor. Nossas técnicas, nossa sabedoria, nossa engenhosidade e nossos projetos somente darão frutos se fizermos conforme a vontade de Deus e não segundo nossa vontade e achismo. Alguns têm cometido a infelicidade de afirmar que, a obra não tem tido êxito por causa dos métodos arcaicos utilizados, e, com este prognóstico, mundanizam nossas campanhas, além de batizar pessoas sem nenhuma capacidade cognitiva. No princípio vem a bajulação e a exaltação dos que fizeram tantos batismos, mas, com o tempo, depois de todo o glamur, percebe-se o verdadeiro caos dos resultados – 90% a 100% de apostasia. Sendo arcaicos ou não, não são os nossos métodos que estabelecerão o êxito, mas, nossa consagração total e absoluta, nosso amor e paixão pelos perdidos e nosso profundo interesse pela salvação das pessoas enganadas. 

Somente quando abandonarmos o egoísmo de querer batizar meramente pelos resultados, ou pela cobiça de angariar posição e elogios dos superiores, somente quando sermos de fato e verdade convertidos, é que, será possível receber o poder de Deus sobre nosso trabalho. O reavivamento somente será possível quando o povo de Deus vencer o próprio eu, pois, é o próprio eu que macula a obra do Senhor e por isto somos assolados pelo fracasso. Leonard Ravenhill afirmou certa feita que o reavivamento “tarda porque muitos pregadores e evangelistas estão mais preocupados com dinheiro, fama e aceitação pessoal do que em levar os perdidos ao arrependimento”. Jonas, embora relutante, aceitou fazer o que Deus determinara, e, consequentemente, suas mensagens fizeram um estrago nos planos de Satanás. O fato de Jesus mencionar a cidade de Nínive como participantes do julgamento final contra os ímpios, revela claramente que no evangelismo de Jonas não houve evasão, não houve apostasia, ao contrário do que ocorre com frequência em nossos dias.

QUINTA E SEXTA – PERDOADO, MAS INCAPAZ DE PERDOAR (Jonas 4)

A conversão dos assírios ninivitas gerou um ódio tão grande no coração do profeta que o fez se virar até mesmo contra a natureza do perdão divino. Ele protestou dizendo “foi exatamente isso que eu temia que acontecesse, pois é característico do Senhor fazer esse tipo de coisa”, ao confessar estarrecidamente o caráter do Onipotente como sendo “clemente” e “misericordioso”. A compaixão de Deus demonstrada pelos ninivitas era um incomodo para o profeta ao ponto de desejar a morte. Atente para o fato que, nosso preconceito e perdão seletivo pode macular nosso coração a tal ponto de sermos capazes de olhar com desdém para alguns e com largos sorrisos para outros.  Embora esta má interpretação tenha assolado o povo de Israel, não estamos ilesos das mesmas marcas psicológicas, pois, nossa amargura e ira contra uma pessoa, grupo, família ou comunidade pode interferir em nossa compreensão salvífica tornando-nos preconceituosos espirituais. Aqui surge uma pergunta importante, se formos incapazes de perdoar, será que seremos capazes de receber o perdão divino? Pense nisso...

Gilberto G. Theiss é formado em teologia pelo Seminário Adventista do IAENE, Especialização em filosofia pela UCM, Extensão em arqueologia pela UEPB, e, leitura e interpretação pela UNISEB. No momento coordena o centro de capacitação teológica Alto Clamor, e exerce a função integral de pastor distrital na cidade de Itapajé-Ce.