Depois de ouvir o comentário distorcido do doutor em Educação Daniel Medeiros, sobre o criacionismo, na CBN Curitiba (clique aqui para ouvir a entrevista), deu para se ter uma noção do que acontecerá daqui para frente. Em suas pesquisas a respeito do poder norte-americano no planeta ao longo da história, o doutor Vanderlei Dorneles coloca os rotulados “fundamentalistas pacíficos” (entre estes, os adventistas) como a bola da vez depois do enfraquecimento dos “fundamentalistas violentos”. Medeiros confunde concessão de emissoras com o direito de uma denominação religiosa ser autorizada a abrir uma escola com pedagogia própria. Ele aproveita essa distorção para defender, equivocadamente, a laicidade do Estado.
Duvido que ele algum dia tenha se manifestado contra os feriados de natureza religiosa! Duvido que ele tenha protestado contra o acordo assinado pelo ex-presidente Lula com o Vaticano para implantar aulas de religião dogmática nas escolas públicas! A deturpação venal de Medeiros é tão gritante que ele acusa os criacionistas de se aproveitarem das “brechas no evolucionismo” para declará-lo sem fundamento. Se ele tem o direito de atacar o criacionismo como um mito, então os criacionistas também têm o direito de considerar o evolucionismo tal qual eles acreditam: uma teoria, simplesmente isso, apenas teoria, não totalmente comprovada e, no que diz respeito à macroevolução e ao fator metafísico do modelo – ou seja, o naturalismo filosófico –, tão mitológica quanto a visão que eles têm de qualquer religião. Como Medeiros consideraria a confissão pública do doutor Muniz Sodré, da UFRJ, como membro do candomblé?
Duvido que ele algum dia tenha se manifestado contra os feriados de natureza religiosa! Duvido que ele tenha protestado contra o acordo assinado pelo ex-presidente Lula com o Vaticano para implantar aulas de religião dogmática nas escolas públicas! A deturpação venal de Medeiros é tão gritante que ele acusa os criacionistas de se aproveitarem das “brechas no evolucionismo” para declará-lo sem fundamento. Se ele tem o direito de atacar o criacionismo como um mito, então os criacionistas também têm o direito de considerar o evolucionismo tal qual eles acreditam: uma teoria, simplesmente isso, apenas teoria, não totalmente comprovada e, no que diz respeito à macroevolução e ao fator metafísico do modelo – ou seja, o naturalismo filosófico –, tão mitológica quanto a visão que eles têm de qualquer religião. Como Medeiros consideraria a confissão pública do doutor Muniz Sodré, da UFRJ, como membro do candomblé?
Hoje, o programa Liberdade de Expressão discutiu a polêmica republicação do Mein Kampf (Minha Luta), de Adolf Hitler, sob o patrocínio do Estado da Bavária, Sudeste da Alemanha. Os governantes alegam que daqui a três anos o livro cairá em domínio público, ninguém poderá mais reter seus direitos autorais. Qualquer editora poderá republicá-lo. Então, idealizando conter o crescimento do neonazismo na Europa, o Estado resolveu fazer uma edição com comentários críticos, mostrando as consequências do preconceito étnico no país gerados pela política nazista.
Todos os comentaristas da CBN apoiaram a iniciativa, condenada por muitos intelectuais, justificando que se trata de um direito da liberdade de expressão. Ah, tá! Então, quando se trata de jogar para as pessoas um lixo venenoso, interpreta-se como direito individual e coletivo, liberdade de imprensa, de expressão. Todavia, quando se trata de livros criacionistas, “ah, isso não pode”, “isso é perigoso para a ciência”, como assevera o doutor em Educação da UFPR. O que seria mais perigoso para a existência humana: algo que atingisse a ciência ou algo que colocasse em risco as relações entre as etnias?
É bem verdade que a Alemanha nazista detinha o maior conhecimento científico da época. Seu líder até abraçou o vegetarianismo. É bem verdade que, em nome de Cristo, igrejas cristãs provocaram genocídios. Mas está na Bíblia: “Muitos virão em Meu nome... e Eu não Os conhecerei.” Não obstante esses fatos irrefutáveis da história humana, não há como negar que, em nome do nazismo, assassinaram-se milhões; em nome do ateísmo marxista, mataram-se milhões; mas também em nome do criacionismo defendido pelos adventistas, salvaram-se milhões. E muitos países e grandes cidades no mundo agradecem aos adventistas pelo seu programa de saúde, fundamentado nas orientações bíblicas e no conhecimento da própria ciência.
Voltando à entrevista do Dr. Medeiros, gostaríamos de pontuar alguns aspectos:
Medeiros afirma (corretamente), que a ciência se fundamenta na observação, no levantamento de hipóteses, na formulação de uma tese e na demonstração dessa tese. No entanto, deixa de mencionar que, mais de 150 anos depois da formulação da teoria da evolução de Darwin, o cenário macroevolutivo proposto por ele ainda não foi demonstrado, muito pelo contrário, apenas foram feitas observações que sustentam a microevolução (também aceita pelos criacionistas). O resto é extrapolação metafísica. Medeiros diz também que “o aspecto básico da ciência é a possibilidade de ela ser refutada”, e continua: “Apresento uma demonstração que pode ser depois refutada por outra demonstração que se dê no mesmo campo.” Mas e quando o dogma é mais forte que as evidências? O que dizer da origem da informação complexa e específica da qual depende toda forma de vida, desde a mais simples até a mais complexa? Teria surgido do nada, sem uma fonte informante? Como explicar a ordem a partir do caos ou mesmo a existência de tudo a partir do nada? Ok, os darwinistas se sairão com esta: nossa teoria não visa a explicar a origem da vida e sim seu desenvolvimento. Mas se esquecem de que para que o mais apto sobreviva ele teve que “surgir” um dia, e isso continua como mysterium tremendum – muito embora os darwinistas, munidos de modelos de computador e experimentos questionáveis que exigem sempre muito design inteligente, insistam ser fato a origem da vida a partir da não vida.
Em seguida, numa clara demonstração de desconhecimento de causa, Medeiros diz que a Bíblia se trata de “narrativas míticas”. Aí do criacionista que fizesse uma afirmação assim tão superficial e leviana sobre o darwinismo! Medeiros ignora o fato de que a Bíblia contém estilos literários variados, como, por exemplo, profecia, poesia e história. No que diz respeito ao pano de fundo histórico das Escrituras, é sabido que elas são o documento antigo mais confirmado pela arqueologia. Já com respeito a suas profecias, a grande maioria delas está cumprida, e o cumprimento foi preciso. Medeiros sabe disso? Se sabe, ignorou deliberadamente as evidências. Se não sabe, reproduziu discurso de outrem. A CBN convidou um doutor em Educação para falar de educação. Que convide um teólogo para falar da Bíblia.
Medeiros repete uma palavra que vem sendo usada negativamente com certa frequência em nossos dias: “fundamentalismo”. Mas, na definição dele, fundamentalismo se refere à defesa do criacionismo que tem como base o Antigo Testamento (como se os autores do Novo Testamento não fossem criacionistas – basta lembrar que Jesus, Paulo e outras figuras históricas se referiram a Adão e Eva e ao dilúvio, por exemplo, como personagens e evento históricos). Conforme procurei demonstrar nesta palestra (em quatro partes), cada vez mais os criacionistas serão identificados com o fundamentalismo visto como um dos males do mundo atual. Medeiros deu sua contribuição para essa caça às bruxas que está apenas juntando gravetos para a grande fogueira...
O doutor diz mais: “O que a educação adventista fez fere o bom senso porque tenta vender como ciência o que não é e tenta igualar as teorias da evolução e da criação, mas não se trata de algo que possa ser comparado, já que uma é teoria científica e outra uma narrativa bíblica, coisas que não podem ser comparadas.” O ponto de discórdia, neste momento, é o dilúvio. Medeiros deixa de mencionar (porque talvez não saiba) que esse evento catastrófico conta com evidências advindas da geologia, paleontologia, história e outras áreas. Na verdade, inicialmente nem é necessário se valer da Bíblia para demonstrar a ocorrência de uma tremenda catástrofe hídrica ocorrida há alguns milhares de anos. Basta tentar enxergar o assunto com uma cosmovisão diferente da darwinista uniformitarista.
Curiosamente, Medeiros cita Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon, Leibniz, Newton e Einstein, e diz que eles trabalhavam uma ciência que vem debatendo democraticamente, refutando teorias, incorporando outras. Esqueceu-se de que, talvez com exceção de Einstein, os demais “pais da ciência” eram todos teístas e sofreram justamente por causa do status quoreligioso-acadêmico-científico de seu tempo. Mas uma coisa não se pode negar (embora alguns tentem esconder): esses cientistas corajosos aceitavam o relato bíblico da criação. Eram eles também fundamentalistas por causa disso? Não fizeram boa ciência porque criam em Deus e na Bíblia?
Mais adiante, Medeiros critica a Sociedade Criacionista Brasileira (que acaba de completar 40 anos no Brasil) e se refere especificamente ao livroEm Seis Dias (sem lhe mencionar o título), que traz o testemunho de cinquenta cientistas criacionistas. “Então não são cientistas!”, vocifera Medeiros. E Copérnico, Galileu, Leibniz e Newton? Também não eram cientistas? E Marcos Eberlin? E um monte de outros cientistas? Para piorar, Medeiros diz ainda que “Einstein tinha limitações determinadas por sua religiosidade”. Que pena... Então, se Einstein não tivesse sido religioso, a ciência teria avançado muito mais? É isso, Medeiros? Na verdade, a ciência deve sua origem às premissas da religião judaico-cristã (confira).
Mais para o fim da entrevista, o doutor sobe o tom: “É um problema muito sério, pois há milhares de pessoas sendo expostas a esse tipo de fundamentalismo. [...] Isso é um embuste, uma falsificação. O criacionismo é uma forma mitológica de relatar a criação do mundo. A ciência tenta buscar demonstrações lógicas, racionais.”
E, finalmente, o doutor conclama: “O Ministério Público e os órgãos responsáveis pela defesa da Constituição e de seus princípios deveriam agir no sentido de que as crianças que assistem a essas aulas estão sendo enganadas do ponto de vista científico. [...] Nós, professores, vocês dos meios de comunicação e o Ministério Público e aqueles que defendem as leis brasileiras deveriam ficam mais atentos a esse tipo de manifestação que se traveste de liberdade religiosa, mas está fazendo uma campanha ideológica bastante funesta para esta geração de jovens que, tadinhos, não têm culpa nenhuma nesse processo todo.”
O que mais falta dizer sobre os criacionistas? Na verdade, já foi dito por Marcelo Gleiser, em 2005 (confira).
Cremos que não falta muito tempo para que a hostilidade será ainda mais intensa, já que a discussão sobre as origens tem tudo a ver com Apocalipse 14, a batalha final relacionada com adoração e a derradeira controvérsia quanto ao verdadeiro memorial da criação.
Cabe aos professores da rede adventista e todos os demais criacionistas estar prontos para responder àqueles que lhes pedem a razão da fé e fazer isso com bons argumentos, com mansidão e por meio de uma vida coerente com a fé que professam. É justamente esse o desafio que nos faz o apóstolo Pedro em sua primeira carta, capítulo 2, verso 15.
(Ruben Holdorf e Michelson Borges são jornalistas)