A Teologia do Pecado - 1º Parte

INTRODUÇÃO

Os tipos, sombras e símbolos utilizados nas Escrituras são como parábolas, destinadas a ensinar verdades espirituais. São parte da revelação e da pedagogia divinas! Deus fala e ensina utilizando vários métodos (Heb. 1:1 e 2). Repetindo, ampliando, diversificando Suas lições e ilustrações, Ele abre nossos olhos para aquilo que não poderia ser visto ou entendido naturalmente de nossa perspectiva. Talvez possamos aprender, pelo menos, duas lições básicas com os tipos e símbolos bíblicos:
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Primeiro, os tipos apontam para uma realidade além deles próprios, mas não esgotam aquilo que é simbolizado ou tipificado. Tome em consideração o batismo, a santa ceia ou o sistema de sacrifícios do Antigo Testamento. Uma perversão comum do propósito dos símbolos é torná‑los um fim em si mesmos.
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O exemplo clássico disso foi o uso dado à serpente de bronze, feita por Moisés, sob ordem divina. (Núm 21:8‑9). Deus instruíra que aqueles que haviam sido picados pelas serpentes no deserto, se olhassem para a imagem, viveriam. Mas este símbolo se tornou objeto de idolatria e teve, portanto, que ser destruído por Ezequias, algumas gerações mais tarde (II Reis 18:4).
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Segundo, os símbolos, os tipos bíblicos, são a permanente lembrança de que Deus, na tentativa de Se comunicar conosco, vem ao nosso encontro onde estamos e fala a linguagem que podemos entender. A partir daquilo que é conhecido, Ele nos guia para o conhecimento das coisas que fazem parte de um universo estranho à nossa compreensão natural.
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SUMÁRIO. A lição desta semana está dividida em duas seções maiores: Primeira, domingo e segunda-feira tratam com o problema do pecado. Sem esta compreensão, dificilmente poderíamos entender a solução divina. Segundo, o conteúdo do estudo da terça, quarta e quinta-feira trata com alguns dos tipos utilizados no Antigo Testamento para ilustrar a redenção: a oferta de Abel, o sacrifício de Abrão e a serpente do deserto
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I. A CRISE DO PECADO
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É importante reconhecer que uma inadequada doutrina do pecado fatalmente leva a uma inadequada da doutrina da salvação. Em outras palavras, idéias erradas ou superficiais do pecado produzem idéias superficiais ou erradas quanto à salvação. Os médicos sabem que acertar o diagnóstico da enfermidade é crucial para se acertar a prescrição do tratamento.
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Muitos adventistas entendem o pecado apenas em termos de uma única definição: pecado é a “transgressão da lei” (I João 3:4). Assim, o pecado passa a ser entendido apenas em termos de atos específicos do comportamento. Embora tal definição seja bíblica e correta, ela não é a única.
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Veja por exemplo Tiago 4:17 “Aquele, pois que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado.” Aqui, pecado é mais do que aquilo que praticamos contrário à lei. A omissão, isto é, aquilo que não fazemos, quando sabemos o que deve ser feito, constitui pecado! Colocada nestes termos, a questão do pecado se torna muito mais séria. Em Romanos 14:23, aprendemos ainda que “...tudo o que não provém da fé é pecado.”
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Pecado aqui é colocado na esfera do relacionamento de fé e confiança. Pense nas implicações desta outra definição. Neste caso, mesmo ações corretas em si mesmas, se não motivadas pela fé, constituem‑se pecado. Em outras palavras, uma boa ação pode ser envenenada pela intenção que o motiva.
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O Antigo Testamento registra pelo menos 12 termos diferentes para pecado, mas mesmos esses não esgotam o conceito. Pecado é rebelião – pesha’, considerada a palavra mais profunda para pecado no Antigo Testamento, envolvendo a idéia de revolta contra Deus. Pecado é deixar de cumprir o dever (chatta’ah), errar o alvo (como hamartia, no Novo Testamento).
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Pecado é distorção moral (‘awon), um estado interior de deformação, perversidade, daquilo que é torcido. Pecado é também dolo, engano, falsidade, duplicidade (remiyyah). A lista está longe de ser completa, mas tais definições fornecem uma compreensão básica de pecado, que desafia e envergonha qualquer idéia superficial ou ingênua que se tenha deste tema central nas Escrituras. Tal diversidade das facetas do pecado indica a complexidade desta doença crônica e sistêmica que afeta universalmente a todos.
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Devemos lembrar que, quando as Escrituras indicam o estado do homem caído como sendo de total depravação, isto não quer dizer que o pecado se manifesta em cada homem na mesma força ou grau. A palavra total, neste contexto teológico, tem referência ao homem completo. Nenhuma parte dele está isenta desta presença maligna. A alienação de Deus afetou o homem em todos os seus aspectos: Sua vontade, sentimentos e razão. O homem foi inteiramente afetado e infectado pelo pecado.
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Lembra‑se com as Escrituras descrevem Naamã? ‑ “Naamã chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem... e de muito respeito... homem valente...” (II Reis 5:1) Um poderoso general, influente, de extraordinário prestígio, membro do círculo íntimo do rei. Mas a biografia de Naamã não está completa até que o texto nos informe que “Naamã, porém, era leproso.” Este pequeno adendo faz toda diferença. O mesmo pode ser dito de todos os homens.
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Alguns deles, importantes, poderosos, influentes, ricos, cultos, carismáticos, de extraordinário prestígio. Mas este não é o quadro completo. “...Toda cabeça está enferma e todo coração é fraco. Desde a planta do pé até a cabeça, não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas podres não espremidas...”(Isaías 1:5 e 6).
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Outro aspecto sobre o pecado que deve ser compreendido é que as Escrituras fazem uma distinção entre PECADO e PECADOS. Os “pecados” (no plural), são os atos, a conseqüência, o sintoma da doença. O “pecado”, (no singular), contudo, é a condição, o estado, a doença em si. Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. Ironicamente, a maioria dos cristãos está mais preocupada com os “pecados” (os atos) do que com o “pecado” (a atitude, a condição que produz tais atos).
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Os pecados são os sintomas do pecado, que é, como vimos, um estado básico de rebelião contra Deus. Pecado não é primariamente a quebra de relacionamento com a lei, mas um relacionamento quebrado com o Senhor da lei.
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Amin A. Rodor