Diversos motivos podem justificar a
evasão de jovens das igrejas. Algumas situações evidentes seriam o desinteresse
que pode surgir com o tempo, falta de amigos na comunidade religiosa que
frequentam, conflitos pessoais, estilos diversos de vida que confrontam valores
cristãos, a desconexão da fé com a ciência, a falta de preparo dos líderes para
tirar suas dúvidas e, em especial, a superficialidade cognitiva da fé bíblica. Em
se tratando de superficialidade da fé, refiro-me ao conhecimento que faz
transbordar confiança, entrega e encanto pela verdade de Deus. Aquele
entendimento cognitivo que promove fé genuína ao invés de fideísmo, poder moral
ao invés de religião sentimental, inteligência e saber racionais ao invés de
mera informação frívola, compromisso e fidelidade espirituais ao invés de
sincretismo místico e, também, amor como princípio ao invés de impulsos
emotivos de momentos.
Por causa da secularização nos grandes centros do saber, alguns têm se inclinado a acreditar que o conhecimento é inimigo da fé (Bíblia). Na verdade, o conhecimento pode ser tanto amigo da fé quanto inimigo dela. Explico, o conhecimento convencional se torna inimigo da fé quando a fé se torna fraca em conhecimento de si mesma. Em outras palavras, quando o jovem conhece pouco da verdade, como poderia ele sobreviver em meio ao tsunami de informações que contrapõem a sua fé? Uma pesquisa realizada pelo American Culture & Faith Institute[1] (ACFI, na sigla em inglês) com seis mil pessoas nos Estados Unidos, descobriu que apenas 14% dos cristãos conhecem questões básicas ligadas à fé que professam. A pesquisa apenas veio de encontro ao que temos presenciado todos os anos, apostasia quase que generalizada, especialmente entre jovens que ingressam nas universidades. Nancy Pearcey, cristã, Mestre em Ciências sociais e Filosofia, pontua que “a religião perdeu sua reinvindicação à universalidade e seu poder de interpretação”[2] e oferece como resposta ou razão a perda do espaço como verdade absoluta. Ou seja, o conhecimento que constrói a identidade cristã tem sido minguado, escasso e superficial.
O pior, na medida em que o conhecimento profundo que tem
por pressuposto as reinvindicações da reforma protestante do “Sola e Tota Scriptura” foi se evaporando
dos pequenos ou grandes programas espirituais, especialmente os que são
diretamente direcionados aos jovens cristãos, no lugar foi sendo acrescentado o
entretenimento vazio, o show e os contos cômicos. A Bíblia, de um livro sério
que apela para a conversão, arrependimento, contrição de consciência,
renúncias, sacrifícios e lutas, passou lentamente a ser, nas variadas igrejas
cristãs, o livro dos gracejos, anedotas humorizadas e o livro dos pastores
bacanas e descolados. Por exemplo, basta ler uma narrativa da Bíblia de forma
superficial e enchê-la exaustivamente de gestos, historinhas e, claro, não pode
faltar, anedotas engraçadas, estimulantes e excitantes com muita música ruidosa
e dançante. Isto tem transformado tais programações em grandes shows de
excitamento e inflamação emocional, e os seus pastores em heróis do gracejo, em
ídolos ou fetiches do espiritualismo cristão. Até mesmo o filósofo já falecido
Allan Bloom, que alguns acreditam ter sido ateu, pontuou que “a falta de
cultura leva simplesmente os estudantes [jovens] a procurar informações onde
elas estejam disponíveis, sem capacidade para distinguir entre o sublime e o
reles, o conhecimento profundo e a propaganda”[3].
Ou melhor, no contexto do tema aqui tratado, a falta de conhecimento profundo,
infelizmente promovido por muitas igrejas cristãs, leva os jovens a se
aprofundarem no que simplesmente está disponível. Agora, o que está disponível?
O que as igrejas têm oferecido para os jovens cristãos da atualidade? Alimento
que mexe com os estímulos da carne ou com os estímulos da consciência?
Uma vez que todo e qualquer desafio
para a fé está diretamente ligado ao conhecimento do “bem e do mal” (Gênesis
2:17), é por este motivo que a igreja também precisa ter um ministério voltado
para o cognitivo. Do que essa juventude mais precisa? Conhecimento Bíblico
embasado, profundo e comovente. Aquele conhecimento que unifica a Ciência com a
Revelação - que faz a Ciência ser aliada da Verdade revelada de forma
racionalmente absoluta e inquestionável. Mas, infelizmente, o que muitos dos
líderes religiosos mais têm se preocupado em dar para a juventude é entretenimento
vazio. Resultado, apostasia generalizada quando se deparam com o antagonismo
filosófico científico e provações diversas.
Ellen White afirma que não “devemos
perder a oportunidade de preparar-nos intelectualmente”[4]. Também esclarece que o
conhecimento da ciência verdadeira abre a mente para vastos campos de
pensamento e informação[5], abrem o espírito para a
ampliação das ideias, habilitando-nos a ver a Deus em Sua criação, com provas
de Seu poder[6], e
que, além de enobrecer, estabelece perfeita harmonia entre a Ciência e a Sua
Palavra.[7] Também escreveu que foi
Deus quem inundou o mundo com descobertas científicas e artísticas, mas que
esse dilúvio de informação precisa ser guiado pela sabedoria da Sua Palavra[8]. Portanto, é aqui que
começa o ministério da igreja, especialmente para a juventude universitária de
nossa geração.
É exatamente o que procuro propor a
fazer do meu ministério para os jovens em suas reuniões de pequenos grupos,
pregações nas igrejas, reuniões de jovens e em simpósios criacionistas/científicos/filosóficos
ou qualquer outro encontro que me possibilite expor a Palavra diante deles.
Acredite, quando isto é oferecido, eles se apaixonam mais ainda pela verdade. Mas,
ao contrário disso, alguns, equivocadamente, acreditam que para segurar os
jovens cristãos na igreja é necessário ser um líder espalhafatoso, ser #PastorShow,
criar programas bíblicos humorísticos e oferecer coisas baseadas em filmes
hollywoodianos e culturalmente populares. A justificativa que alguns apresentam
é que os jovens não lidam muito bem com as coisas difíceis e profundas da
Bíblia. Também argumentam que eles serão mais facilmente alcançados e
fortalecidos se usarmos uma linguagem mais simples e dinâmica. O problema é
que, para alguns líderes, para tornar a linguagem da Bíblia mais simples e
apetitosa aos jovens, é necessário associá-la com o que é mais comum na cultura
e entretenimento populares.
A exemplo do mito do cavalo de Tróia, tais práticas
não têm fortalecidos os jovens a serem oposição ao mundo, mas simpatizante dele.
Algo semelhante advertiu Ellen White: “A conformidade aos costumes mundanos converte a igreja ao mundo; jamais
converte o mundo a Cristo.”[9] Uma pergunta: por que esses mesmos jovens que
estudam equações de 1º e 2º grau, trigonometria, línguas, física quântica,
termofísica, química, álgebra, engenharias diversas, seriam incapazes de
aprender coisas profundas e sérias da Bíblia? Alguma coisa me parece estranha
nisso. Prova? Como no dito popular, o tiro tem saído pela culatra - evasão de
jovens pela tangente.
A verdade bíblica e o verdadeiro conhecimento
científico/filosófico devem fazer parte da vida da igreja deste século. A
igreja moderna ou atualizada, na verdade, não é aquela que se torna relevante meramente
nos costumes ou em práticas secularizadas, mas a igreja que tem respostas para
as indagações que mais desafiam a verdade bíblica.
A igreja verdadeiramente relevante é a
que torna o conhecimento e o saber verdadeiramente mais relevantes do que o
pseudoconhecimento que contrapõe a verdade. Foi assim que Jesus definiu o
conhecimento consistente, minucioso e profundo da verdade como sendo o agente
libertador (João 8:32), e este é o principal ministério da igreja, encher a
mente e o coração das pessoas do conhecimento libertador e que possibilite
claro discernimento da linha que separa o “conhecimento do bem” do que se
define como “conhecimento do mal” (Gênesis 2:17) tão bem amalgamados hoje em
dia. Quanto mais o “conhecimento do mal” se tornar robusto e convincente, maior
será o desafio da igreja, pois é seu dever manter o “conhecimento do bem”
sempre mais elevado, persuasivo e apaixonante.
Quando os nossos jovens, por ajuda da
própria igreja, mergulharem nos conhecimentos bíblico/científico/filosófico
verdadeiros, os feitiços, especialmente do marxismo e do darwinismo, perderão
forças na consciência e no coração da nossa juventude. Quando o “conhecimento
do bem” for mais vigoroso na mente da irmandade das igrejas, o “conhecimento do
mal” será mais facilmente desmascarado e, consequentemente, teremos jovens
cristãos mais perseverantes e comprometidos com a verdade.
Em síntese, precisamos humildemente
buscar uma reforma em nossas ações ministeriais em prol da juventude cristã.
Como bem proclamou o teólogo James Boice: “Convocamos a Igreja, em meio à nossa
cultura agonizante, para se arrepender de seu mundanismo e confessar a verdade
da Palavra de Deus como fizeram os Reformadores, e para ver essa verdade em sua
doutrina, sua adoração e sua vida"[10]. Acredito que o apelo de
Boice, para uma reforma urgente, deve começar pelos que ministram como
sacerdotes, guias espirituais, líderes religiosos, ou pastores. Uma vez que o
campo de guerra é a mente humana, esta reforma exige, especialmente de nós
pastores, preparação intelectual/cognitiva capazes de confrontar a “ciência do
mal” para alimentar e proteger as ovelhas que o Senhor nos colocou em mãos – a
igreja.
Pensando nisso é que Ellen White, por
exemplo, escreveu aos ministros: “Nossos
pastores terão de prestar contas a Deus por enferrujarem os talentos que Ele
lhes entregou para melhorar pelo exercício. Podiam ter feito, inteligentemente,
trabalho dez vezes maior, se se tivessem preocupado em tornar-se gigantes
intelectuais. Toda a experiência deles em sua elevada vocação é diminuída porque
se contentam em permanecer onde estão. Seus esforços para adquirir
conhecimentos não embaraçarão no mínimo seu crescimento espiritual se estudarem
com motivos corretos e objetivos apropriados.”[11]
Eu, como pastor Adventista do Sétimo
Dia, farei a minha parte, e você? Por fim, lembre-se sempre que, esse Deus que
foi expulso por Karl Marx do Céu, retirado do inconsciente por Freud, banido da
Ciência por Darwin, assassinado por Nietzsche, transformado em um delírio por
Richard Dawkins, secularizado e relativizado por cristãos pós-modernos, em breve virá
gloriosamente nas nuvens do céu, para espanto, terror e decepção dos incrédulos
(Apocalipse 1:7; Atos 17:31).
Gilberto Theiss - Graduado em
Filosofia e Teologia. Pós-Graduado (Especialização) em Ensino de Filosofia,
Ciência da Religião, História e Antropologia. Mestrando em Interpretação
Bíblica.
Fonte: (Outra Leitura)
[1]
Disponível em https://www.gospelprime.com.br/maioria-cristaos-nao-conhece-biblia-pesquisa/
Acesso em 30 jan de 2019.
[2] PEARCEY,
Nancy. Verdade absoluta, p. 78.
[3] BLOOM,
Allan. O Declínio da Cultura Ocidental, p. 80.
[4] WHITE,
Ellen G. Serviço Cristão, p. 47.
[8] Idem.
O Grande Conflito, p. 522.
[9]
Idem. O Grande Conflito, p. 509.
[10] BOICE,
James. (cf. Capitulo “Lutar pela verdade numa Era de antiverdade”.