Deus,
por meio dos Profetas e apóstolos, concedeu ricas instruções para o seu povo,
entre as quais está o cuidado com a avareza (Cl 3.5; 2Pe 2.3,14). Aqueles que
servem a Deus devem se desviar da ganância (Ex 18.21), pois não é o ideal
divino que Seus filhos sejam amantes do dinheiro. Não se pode servir a dois
senhores, e isso é demonstrado de forma vívida na narrativa bíblica (1 Sm 8.3).
Cristo, quando consultado, deu o seguinte conselho: “Tende cuidado e
guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui (Lc 12.15).”
Kenneth
E. Bailey bem salienta: “No que diz respeito ás coisas materiais, Jesus
falou mais sobre dinheiro do que sobre oração. Toda vez que falava de dinheiro,
ele fazia isso com o pressuposto de que todas as coisas pertencem a Deus. ‘Do
Senhor é a terra e toda a sua plenitude’ (Sl 24.1), escreveu o salmista. Isso
significa que o direito à propriedade privada é proibido? Na concepção bíblica,
somos mordomos, isto é, administradores, de todos os nossos bens, e
responsáveis perante Deus pelo que fazemos com eles.”[i]
O
dinheiro pode ser uma benção na mão de um mordomo fiel, mas também pode ser uma
maldição quando é usado de
forma incorreta ou colocado como a principal prioridade na vida. O apóstolo
Paulo bem nos exorta a esse respeito em 1 Timóteo 6.6-10.
A
busca por poder aquisitivo é perigosa. Bailey destaca: “Os bens estão ligados a
um profundo, e muitas vezes irracional, medo – o medo de um dia não se ter o
suficiente. Por mais riqueza que se possa armazenar, esse medo corrosivo
pressiona o ser humano frágil a adquirir mais. Nunca há o suficiente, porque a
insegurança nunca morre. […] Se Deus é o dono de todas as coisas materiais, e
as pessoas são apenas seus administradores, que direitos elas têm aos
excedentes que seus desejos quase sempre geram? Entre as famosas reações aos
excedentes estão:
·
Escondê-los;
·
Ostentá-los;
·
Gastá-los
em caras viagens de férias;
·
Melhorar
o estilo de vida e, assim, evaporá-los;
·
Comprar
brinquedos caros e contrair dívidas;
·
Comprar
mais seguros;
·
Fingir
ser pobre e viver mal;
Existem
diversos fatores que podem levar um cristão a mergulhar na busca incessante
pelo dinheiro. Um deles é a baixa autoestima, como é salientado por Brennan
Manning: “Muitos cristãos […] encontram-se derrotados pela mais psicológica das
armas que Satanás usa conta eles. Essa arma tem a eficácia de um míssil mortal.
Seu nome? Baixa autoestima3”[iii]. Muitos têm buscado nos bens
materiais o que não possuem em si mesmos. A busca por popularidade é constante
e é o que o “eu/ego” necessita. Satanás é astuto e usa de diversas armas para
ludibriar e, assim, levar os mordomos de Deus a pecar contra o Céu.
Diferentemente
do pensamento grego e gnóstico, o mundo material é bom na concepção
judaico-cristã bíblica. No livro de Gênesis, que registra a criação do mundo,
ocorrem cinco vezes a expressão “e viu Deus que era bom”, ou seja, as coisas
materiais não são ruins.
Ellen
G. White faz significativo comentário sobre a obra que saíra das mãos de Deus:
“‘Pela
palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito
da Sua boca.’ Sal. 33:6 e 9. ‘Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo
apareceu.’ ‘Lançou os fundamentos da Terra, para que não vacile em tempo
algum.’ Sal. 104:5.
“Quando
a Terra saiu das mãos de seu Criador, era extraordinariamente bela. Variada era
a sua superfície, contendo montanhas, colinas e planícies, entrecortadas por
majestosos rios e formosos lagos; as colinas e montanhas, entretanto, não eram
abruptas e escabrosas, tendo em grande quantidade tremendos despenhadeiros e
medonhos abismos como hoje elas são; as arestas agudas e ásperas do pétreo
arcabouço da terra estavam sepultadas por sob o solo fértil, que por toda parte
produzia um pujante crescimento de vegetação. Não havia asquerosos pântanos nem
áridos desertos. Graciosos arbustos e delicadas flores saudavam a vista aonde
quer que está se volvesse”.[iv]
Sobre
essa criação, o homem foi constituído mordomo (Gn 1.26-28). White bem salienta:
“Ele
foi posto, como representante de Deus, sobre as ordens inferiores de seres.
Estes não podem compreender ou reconhecer a soberania de Deus, todavia foram
feitos com capacidade de amar e servir ao homem. Diz o salmista: ‘Fazes com que
ele tenha domínio sobre as obras das Tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus
pés: … os animais do campo, as aves dos céus, … e tudo o que passa pelas veredas
dos mares’. Sal. 8:6-8”.[v]
Dentro
desta perspectiva, é fundamental que todo Cristão entenda que Deus é um Deus de
amor, que Ele quer o melhor para Seus filhos e que Ele os regatou com Seu
próprio sangue.
[iii] O
Impostor que Vive em Mim, p. 24.