Fideísmo é um método apologético que
busca proteger a fé através de um isolamento intelectual. Douglas Groothuis, em
seu livro “Christian Apologetics: A Comprehensive Case for Biblical Faith”,
afirma que o fideísmo se apresenta de diversas formas, mas essencialmente tenta
“tornar a fé uma realidade auto-afirmativa, fechada em si mesma, que dispensa o
reforço intelectual vindo do arsenal apologético clássico”. Fideístas acreditam
que, posto que a fé é um dom divino que serve como canal, como meio pelo qual
alguém se aproxima de Deus e O entende, a razão humana não é capaz de
fundamentar nenhuma religião. Alguns fideístas acreditam também que o pecado
está de tal forma arraigado à mente humana que qualquer tentativa racional
acaba prejudicada pelos efeitos do pecado.
O fideísmo parece ainda habitar nas
entranhas da igreja em nossos dias. E na hora que alguém diz “Você só precisa
ter fé e acreditar / Não precisa de evidências nem razão / Apenas tenha fé” em
resposta àquelas perguntas realmente significativas, é que o lado feio do
fideísmo vem à tona.
Naturalmente o fideísmo entra em
conflito com a apologética clássica no que tange à razão. Embora o pecado tenha
afetado cada porção da humanidade, a imagem de Deus permanece (Gn. 9. 5-6, Sl
8.1, I Cor. 11.7) e serve como fundamento para o uso da razão dentro do
discurso apologético. Igualmente, as Escrituras afirmam que Deus se revelou à
humanidade através da criação (Sl 19.1-6; At 14.15-17) e a humanidade é julgada
por rejeitar esta revelação (Rm 1.18-23). A própria passagem usa expressões
cognitivas que afirmam que alguém pode interpretar coisas sobre a natureza de
Deus de forma correta através da criação.
A apologética clássica também discorda
na forma em que os argumentos podem trabalhar para trazer pessoas a
Cristo. Embora a fé seja um dom de Deus (Ef 2.8), os crentes ainda são
comissionados a responder questões sobre sua fé (1Pe 3.15). A razão apologética
pode ser usada por Deus como o meio de conceder o gracioso dom da fé ao crente
em potencial. Enquanto a apologética clássica parece construir um exemplo a
partir do zero, o fideísmo se desculpa por não fazer nada além do arremedo de
uma defesa coerente. Fideístas podem defender seu ponto de vista reunindo amplo
suporte bíblico para a ideia de que o pecado permeou cada parte da existência
humana. Este sistema, entretanto, se autorrefuta. Simplesmente não há como
alguém apoiar a declaração “Você não é capaz de pensar em coisas desse tipo por
causa de sua mente pecaminosa” porque essa própria afirmação já se vale da razão.
“Você não é capaz de pensar em coisas desse tipo por causa da sua mente
pecaminosa” com uma mente completamente pecaminosa e privada de razão! Pode
alguém ler as Escrituras e entender a verdade ou isso requer um dom Divino de
entendimento?
Eu penso que os fideístas poderiam
apelar para suas próprias experiências intelectuais junto a Cristo e a
participação limitada que meros argumentos tiveram neste processo. Entretanto,
há centenas que poderiam fornecer seus testemunhos pessoais e descrever quão
significativa foi a apologética como maneira de entender as verdades de Cristo
em seus detalhes. Alguns fideístas podem sugerir que apelar para a teologia
natural seja uma desonra à revelação de Deus em Cristo. Doug Groothuis critica
o fideísmo apontando o papel vital e imprescindível da lógica, discutindo as
questões da razão e revelação geral, e mencionando o valor que estes argumentos
tiveram na vida de outras pessoas.
Traduzido por Ronaldo Berchol e
revisado por Maria Gabriela Pileggi.