Desculpe-me, mas não sou pastor!

Raiava o dia sobre o Mar da Galiléia. Os discípulos já cansados de tanto trabalho durante a noite, porém sem nenhum fruto de todo o esforço, ainda estavam em seus barcos. (Mt 4:18-22). Naquela manhã, Jesus ali se apresentara. A multidão se aglomerou ao Seu redor e Jesus entrou no barco para melhor ser visto e ouvido por todos. Ali Cristo ensinou a multidão sobre como alcançar a vida eterna.

Que cena era aquela, o Deus eterno dentro de um humilde barco de pescador, proclamando as boas novas de salvação aos desafortunados na vida. Aquele que era o mais exaltado nos céus, estava declarando àquele povo os grandes e eternos princípios do Seu verdadeiro reino. A multidão, aos poucos, se aglomerava cada vez mais para ouvir as palavras de um homem que não era um simples homem, era o próprio Criador, e não só o Criador, mas Aquele que, com o Seu poder, mantém os mundos, as leis e as vidas em todo o vasto universo.

Além da multidão ali presente, tinha Jesus em mente os desafortunados de todos os tempos, inclusive do futuro. Olhando através dos séculos, contemplou pessoas nas prisões, jogados aos cantos das ruas, sofrendo opressões, injustiçados, sem direção na vida, doentes e escravos de satanás. Olhando dentro da lupa do tempo futuro, viu pessoas, e dentre elas eu e você, isso mesmo, VOCÊ.

As pessoas que ali estavam encontraram paz e esperança para suas vidas. A mensagem das boas novas soou de maneira poderosa nos corações daquele povo. E assim deve esta mensagem soar aos ouvidos de todos em nossos dias.

O Chamado

Acabando todo o discurso, Jesus agora se volta para outro público - os discípulos. Olhando com o olhar bem fixo aos olhos de Pedro lhe diz: “ Lança as redes”. Mas a bíblia apresenta um Pedro já meio que desanimado. Acabara de pescar a noite toda e não teve nenhum êxito. Comparou todo o seu esforço e luta com aquilo que podia desempenhar no futuro, e tudo lhe parecia ser muito frustrante e desanimador devido a tanto fracasso. Sua própria profissão e ocupação lhe falhavam naquele momento. Olhou para Jesus com palavras de desânimo e disse: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a Tua palavra, lançarei a rede.”

Os discípulos eram pescadores experientes. Trabalharam arduamente no momento mais propício para pescar com redes. Mas não conseguiram nada. Agora, depois de tanto fracasso em um horário não muito adequado, meio que desanimados, lançaram as redes ao mando do mestre. O que aconteceu? Tão grande era a carga de peixes em ambos os barcos, que se viram ameaçados de ir a pique.

Nesta circunstância, depois de Pedro e os demais terem presenciado as palavras de salvação e os milagres de Jesus, algo extraordinário aconteceu no coração e na mente deles. Veja bem, é exatamente neste contexto que Jesus faz o grande chamado àqueles homens. Até o momento, nenhum deles se havia inteiramente unido a Jesus como Seu colaborador. Tinham testemunhado e ouvido muitas coisas, não haviam, porém, abandonado de todo, suas ocupações anteriores. Não haviam se dedicado da forma como deveriam na obra de Deus. Agora, Jesus os convidava a abandonar a velha vida de pescadores comuns para se tornarem verdadeiros pescadores, porém de vidas humanas.

Meu querido leitor, Deus tem um chamado também especial para você. Todos nós temos recebido um chamado especial dAquele que nunca erra. Eu sei que neste momento muitos dos que estão lendo este artigo devem estar chorando ou sentindo um toque especial no coração. Se você é uma dessas pessoas, não tenha dúvidas que Deus o está chamando para uma obra especial e grandiosa.

O chamado de Deus atinge todas as pessoas e em todas as classes, níveis e dons. Nem todos são chamados para serem pastores, mas todos são chamados para serem pescadores espirituais. O ministério é vasto e precisa ser exercido, mas é importante entender que Deus têm flores diferentes em seu jardim. Todos nós somos chamados para exercer um ministério e, em muitos casos, bem diferentes do que imaginamos.

Alguns ficam atormentados, pois sentem que foram chamados por Deus, mas não sabem discernir ao certo em como exercer este ministério.

Deus chamou a todos para uma obra especial e grandiosa. Se o seu grande problema consiste em "como realizar", entenda que, a princípio, Deus precisa apenas de sua disposição e paixão: “para” e “pela” obra. O resto, capacitação, talento e habilidade, o grande Artista, há de suprir.

Mas e os que não fizeram teologia? Como ser pescadores espirituais?

Na história que acabamos de ler, percebemos que os discípulos não cursaram a faculdade de teologia nas escolas dos profetas que existiam na época. Não que Jesus fosse contra essas escolas, pelo contrário, foi o próprio Deus quem erigiu tais centros de educação espiritual. O detalhe é que nem todos passam por estas escolas, mas a certeza é que TODOS são chamados, os cursados e os não cursados. Deus chamou homens incapacitados para estudarem em uma outra escola, onde o professor era o próprio Jesus. Esta realidade evidencia que somente Deus pode oferecer a capacidade e os dons necessários para sua obra. As escolas são importantes, mas são insuficientes. Há algo que não é possível aprender apenas nas escolas - o que exige comunhão profunda com Deus, paixão pelos que se encontram perdidos e lutas diárias com o próprio eu. Hoje, além dos pastores que dirigem a igreja, o Senhor deseja capacitar e preparar você. Jesus quer ser o seu instrutor, o seu professor. Saiba que, embora a faculdade seja importante e tenha o seu devido lugar, verdadeiros pastores, obreiros e missionários, não são formados nas salas de aula, mas aos pés de Cristo e com disposição para ser útil.

Verdadeiros pastores não se formam nos centros acadêmicos ou na conquista do diploma. Ser pastor é um dom, é vocação, é um chamado que vem do céu, que não dispensa a faculdade, mas ao mesmo tempo, depende especialmente de outros fatores ainda mais relevantes. As escolas são necessárias para desenvolver certas habilidades, mas a vocação ministerial, seja leiga ou não, só pode ser adquirida no trono da graça.

Formar-se em teologia, pode até oferecer um diploma para ser um teólogo ou um profissional, mas jamais formará pastores na essência, sacerdotes, homens de fé e espirituais. Pastor se forma no dia a dia, exercendo o chamado de Deus na igreja, nos pequenos grupos, nos estudos bíblicos, nas orações com as pessoas, no auxílio aos desafortunados, com joelhos no chão e com relacionamento íntimo e duradouro com Deus.

É possível que exista pessoas formadas pelas escolas de teologia, porém desprovidas da credencial divina para serem pastores, assim como também é possível que exista muitos membros leigos nas igrejas que sejam verdadeiros pastores na essência. Esta realidade não diminui a importância do ministério pastoral, mas valoriza o ministério de homens e mulheres leigos que oferecem suas vidas e o seu tempo para um ministério voluntário e que também possui as credenciais do Céu. O que é importante compreender é que todos nós temos um chamado, porém podemos exercer o chamado de Deus de maneiras diferentes. Como já foi mencionado, Deus têm flores diferentes em seu jardim. Os pastores exercem uma função ministerial diferente e de maior responsabilidade espiritual, mas os demais irmãos, também exercem um chamado nobre e diferenciado - funções diferentes que completam o corpo de Cristo.

Lembre-se, a nossa profissão nesta terra não é ser mecânico, não é ser jardineiro, não é ser operador de micro, não é ser advogado, não é ser empresário, não é ser bombeiro, não é ser eletricista. O que você faz, na verdade, é apenas um bico, porque a sua verdadeira profissão é ser pescador de homens, porta voz do céu e embaixador de Cristo. E essa credencial, não é somente para aqueles que se formam no curso de teologia, mas para todos os que aceitam o chamado dAquele que é o dono do chamado.

Reflexão:

"A obra de Deus na Terra nunca poderá ser terminada a não ser que os homens e as mulheres que constituem a igreja participem do trabalho e unam os seus esforços aos dos pastores e oficiais da igreja" (Obreiros Evangélicos, pág. 352).

Pr. Gilberto Theiss - Graduado em Teologia, pós-graduado em filosofia e ciência da religião. No momento atua como pastor no estado do Ceará.