As 13 divisões da igreja adventista espalhadas pelo mundo não
poderão autorizar a ordenação de mulheres ao ministério pastoral. O voto foi
tomado nesta quarta-feira, 8 de julho, na assembleia que reúne líderes mundiais
da igreja na cidade de San Antonio, Texas (EUA). Dos 2.363 delegados, 1.381
(58%) votaram “não” e 977 (42%) “sim”. Houve cinco abstenções.
O assunto vem sendo
discutido pela igreja desde o ano de 1990, quando ocorreu a primeira votação e
76% decidiram pela não ordenação das mulheres. Numa segunda votação, realizada
durante a assembleia de Utrecht, na Holanda, 69% também se manifestaram
contrários.
Cinco anos depois, na
sessão da Associação Geral de Atlanta, em 2010, a pauta veio à tona novamente,
acompanhada de uma solicitação para que o assunto fosse reapresentado. Durante
dois anos, teólogos de todo o mundo formaram um comitê para tratar do
assunto. As conclusões obtidas a partir do estudo aprofundado do tema
resultaram numa declaração de consenso sobre a teologia adventista da ordenação
(leia o documento abaixo).
Em outubro de 2014, o Concílio Anual da
Associação Geral da Igreja Adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA),
decidiu inserir o item na agenda da 60ª assembleia. A proposta de se promover
uma terceira votação sobre o tema recebeu 243 votos favoráveis e 44 contra
(houve três abstenções).
Ponto em questão
A pergunta em questão na tarde de hoje foi se as
divisões (ou escritórios administrativos da Igreja Adventista) devem permitir
que as mulheres sejam ordenadas como pastoras. Por ser o item mais sensível da
agenda da 60ª assembleia da igreja, o presidente mundial dos adventistas, Ted
Wilson, apelou aos delegados para que buscassem a Deus em oração antes de
manifestar sua decisão nas urnas.
Sem perder esse espírito, ao longo de toda a tarde,
enquanto dezenas de delegados manifestavam publicamente diferentes opiniões a
respeito do tema, a reunião administrativa foi interrompida pelo presidente da
mesa, pastor Michael Ryan, para momentos de oração.
Após a decisão, em um discurso solene, o líder
mundial dos adventistas reiterou que a votação nesta assembleia não encerra com
vencedores ou perdedores. Segundo ele, mais do que nunca a igreja precisa
seguir unida e com o foco na missão. [Márcio Tonetti, equipe RA]
DECLARAÇÃO CONSENSUAL SOBRE A
TEOLOGIA ADVENTISTA DA ORDENAÇÃO
VOTADO o recebimento e o endosso do documento
“Declaração Consensual sobre a Teologia Adventista da Ordenação”, que afirma o
seguinte:
Em um mundo alienado de Deus, a igreja é composta
por aqueles que Deus reconciliou consigo mesmo e uns com os outros. Por meio da
obra salvadora de Cristo, seus membros estão unidos em missão pela fé mediante
o batismo (Ef 4:4-6), tornando-se um sacerdócio real, cuja missão é “anunciar
as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe
2:9). Os cristãos recebem o ministério da reconciliação (2Co 5:18-20), chamados
e capacitados pelo poder do Espírito e pelos dons que Ele derrama sobre cada um
para cumprir a comissão evangélica (Mt 28:18-20).
Embora todos os cristãos sejam chamados para usar
seus dons espirituais no ministério, as Escrituras identificam algumas posições
específicas de liderança que eram acompanhadas da ratificação pública pela
igreja de que tais pessoas atendiam os requisitos bíblicos (Nm 11:16, 17; At
6:1-6; 13:1-3; 14:23; 1Tm 3:1-12; Tt 1:5-9). Revela-se que vários desses
endossos envolviam a “imposição de mãos”.
As versões da Bíblia em inglês usam a palavra ordenar para
traduzir muitas palavras diferentes em grego e hebraico que exprimem a ideia
básica de selecionar ou nomear, descrevendo a
colocação de tais pessoas em seus respectivos ofícios. Ao longo da história
cristã, o termo ordenação adquiriu significados que vão além
do que as palavras originalmente subentendiam. Levando em conta esse contexto,
os adventistas do sétimo dia entendem que ordenação, no sentido bíblico, é a
ação da igreja de reconhecer publicamente aqueles a quem o Senhor chamou e
capacitou para o ministério na igreja local e global.
Além da função única dos apóstolos, o Novo
Testamento identifica as seguintes categorias de líderes ordenados: os
presbíteros e presbíteros-chefes (At 14:23; 20:17, 28; 1Tm 3:2-7; 4:14; 2Tm
4:1-5; 1Pe 5:1) e os diáconos (Fp 1:1; 1Tm 3:8-10). Ao passo que a maioria dos
presbíteros e diáconos ministrava em contextos locais, alguns presbíteros eram
itinerantes e supervisionavam um território maior, formado por várias
congregações, função que pode refletir o ministério de indivíduos como Timóteo
e Tito (1Tm 1:3, 4; Tt 1:5).
Por meio do ato da ordenação, a igreja confere
autoridade representativa sobre indivíduos para a obra específica de ministério
à qual são nomeados (At 6:1-3; 13:1-3; 1Tm; Tt 2:15). Tais papéis podem
incluir: representar a igreja, proclamar o evangelho, ministrar a Ceia do
Senhor e o batismo, plantar e organizar igrejas, guiar os membros e cuidar
deles, opor-se a falsos ensinos e prover serviço geral para a congregação (cf.
At 6:3; 20:28, 29; 1Tm 3:2, 4, 5; 2Tm 1:13, 14; 2:2; 4:5; Tt 1:5, 9). Embora a
ordenação contribua para a ordem da igreja, ela não confere qualidades
especiais aos indivíduos ordenados, nem introduz uma hierarquia monárquica na
comunidade da fé. Os exemplos bíblicos de ordenação incluem a concessão de um mandato,
a imposição de mãos, jejum e oração e a entrega das pessoas separadas à graça
de Deus (Dt 3:28; At 6:6; 14:26; 15:40).
Os indivíduos ordenados dedicam seus talentos ao
Senhor e à sua igreja em serviço vitalício. O modelo básico de ordenação foi a nomeação
dos doze apóstolos (Mt 10:1-4; Mc 3:13-19; Lc 6:12-16) e o modelo supremo de
ministério cristão é a vida e a obra de nosso Senhor, que não veio para ser
servido, mas, sim, para servir (Mc 10:45; Lc 22:25-27; Jo 13:1-17). [Tradução: Cecília
Eller Nascimento]