Quem é Jesus Cristo?
Pr. Gilberto Theiss
Reações
diante de Jesus (Sábado e Domingo)
Notadamente a história de Jesus tem sido surpreendente por
estar, especialmente, permeada de fatos sobrenaturais. É exatamente por esse motivo que ela é amada por muitos e, todavia,
rejeitada por outros como sendo verídica.
Acredita-se que até o
século XVIII era pouco o interesse em evidenciar os fatos que tornassem
autêntico os evangelhos. Mas, com o tempo, essa realidade mudou. Assim descreve
o teólogo espanhol Julián Carrón: "Desde o início, a Igreja Católica
acreditou que os Evangelhos tivessem origem na figura histórica de Jesus, e
sempre os considerou testemunhos de fatos acontecidos. Apesar disso, a partir
do iluminismo, alguns estudiosos começaram a achar que os Evangelhos não tinham
valor histórico e que era preciso encontrar outro tipo de correspondência entre
eles e os fatos"[1]. Mas,
embora haja céticos quanto ao fato de Jesus ter realmente existido da maneira
como narram as Escrituras, é preciso reconhecer que, do ponto de vista
científico historiográfico, essas narrativas bíblicas seguem fielmente todos os
critérios e padrões necessários para dar sustento, embasamento e credibilidade
histórica. Por exemplo, Lucas, que não era apóstolo e nem judeu, fala dos
imperadores Cesar Augusto, Tibério; cita os governadores da Palestina: Pôncio
Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás (Lc 2,1;3,1s); Mateus e Marcos
falam dos partidos políticos dos fariseus, herodianos, saduceus (Mt 22,23; Mc
3,6); João cita detalhes do
Templo: a piscina de Betesda (Jo 5,2), o Lithóstrotos ou Gábala (Jo 19, 13), e
muitas outras coisas reais confirmadas pela história secular.
Outro detalhe interessante é que os apóstolos e os
evangelistas não podiam mentir. Eles jamais teriam inventado um Messias do tipo
de Jesus: Deus-homem, crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os
gregos (1Co 1:18-23). O ponto em questão é que os relatos dos Evangelhos
mostram um Jesus bem diferente do modelo do Messias "libertador
político" que os judeus aguardavam ansiosamente por centenas de anos. Outro
fato curioso é que homens rudes da Galiléia, como demonstravam ser, não teriam
condições de forjar um Jesus tão sábio, santo, inteligente, desconcertante e,
acima de tudo, amável e dócil com as classes mais desfavorecidas e
drasticamente rejeitadas pelos próprios judeus.
Para complicar um pouco mais, a doutrina que Jesus pregava
era de difícil vivência. Aqueles que desejam atrair multidões através da venda
de suas ideias nunca projetariam um herói como foi Jesus com princípios tão
difíceis de serem seguidos. O romano Tácito, por exemplo, classificava o
cristianismo como "desoladora superstição", e Minúcio Felix falava de doutrina indigna dos gregos e
romanos.
Alguns concluem, portanto, que a história de Jesus não passou
de um mero mito. Mas será que poderia um mito ter vencido o imensurável e poderosíssimo
Império Romano? Será que uma fábula poderia sustentar milhares de martírios e
perseguições por centenas de anos?
Tertuliano de Cartago, no terceiro século, escreveu: "o
sangue dos mártires era semente de novos cristãos"[2]. Será
que um mito poderia provocar tantas conversões? Será que uma lenda poderia manter
uma Igreja que começou com um pequeno grupo de 12 homens judeus e após 2000
anos ainda possuir uma estrutura tão forte, poderosa e sólida entre raças e
nações diferentes?
Outro fato que corrobora para a autenticidade histórica da
vida de Jesus é que os fragmentos que constroem os evangelhos, comparados com
outros documentos históricos, além de serem vantajosamente em maior número,
mais de cinco mil cópias, são também os escritos que mais próximos estão do Seu
personagem principal. Sobre este fato escreveu Wilson Parosqui: “O elevado
número de documentos existentes faz com que o NT [Novo Testamento] tenha muito
mais apoio textual que qualquer outro livro nos tempos antigos, seja em se
tratando das obras de Homero, dos autores trágicos áticos, de Platão, de Cícero
ou de César.”[3]
Por esse motivo, os documentos que retratam a existência de Jesus, sob os
critérios científicos são de longe, ou deveriam ser, os mais
críveis que os documentos que retratam a existência de Eurípedes, Sófocles, Platão, Catulo, Lucrécio, Terêncio,
Lívio, Virgílio e Alexandre o grande.
Para os céticos que desconfiam das Escrituras, embora não
haja razão sólida para descrer, ainda temos fontes extra-bíblicas da existência
de Jesus. O romano Tácito, ao descrever o incêndio de Roma por volta de 116
d.C. apresentou uma pequena informação sobre os Jesus e Seus seguidores.[4] Flávio Josefo, historiador judeu
(37-95), escreveu: "Jesus, homem sábio, se é que se pode
chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem
inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns
gregos, Ele era tido como o Cristo.“[5] O Talmud[6],
Suetônio e Plínio[7] também
contribuem como fontes não bíblicas para o embasamento histórico de Jesus.
Não há dúvidas quanto à credibilidade desses documentos e sob
esta perspectiva é que podemos também sustentar as narrativas que apresentam um
Jesus não apenas histórico, mas também sobrenatural. Se as narrativas, do ponto
de vista científico com detalhes históricos, sociais, políticos, geográficos, estão
corretas, isto nos oferta um bom motivo para crer também nos milagres de
Cristo. Sob a premissa filosófica, a história confirma os fatos sobre Jesus, e
Jesus fez milagres, e os milagres só podem ser feitos por Deus, logo, Jesus de
fato era o Deus encarnado. Foram justamente esses feitos que deram sustento às
prerrogativas de Jesus, em perdoar pecados (Lc 5:24), assumir a posição de
Messias (Lc 4:16-30), e de ser na mais pura essência, o
pão da vida (Jo 6:35,41,48,51);
a luz do mundo (Jo 8:12); a porta das ovelhas (Jo 10:7,9); o bom Pastor (Jo 10:11,14); a
ressurreição e a vida (Jo 11:25);
o caminho, e a verdade e a vida (Jo 14:6) a videira verdadeira (Jo 15:1,5), e o
grande “Eu Sou” (Deus) (Jo João 8:58).
No início isso não pareceu ficar claro, mas no decorrer do
ministério de Jesus, como nos dias de hoje, as multidões O seguiam ou
pelo interesse no perdão dos pecados ou nos Seus favores sobrenaturais.
Filho
de Deus e Filho do homem (Segunda e terça)
A expressão “Filho do Homem” é apresentada no Novo Testamento
cerca de 88 vezes. Essa expressão, em sentido divino, aparece em Daniel
7:13-14: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha
com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.
Foi-lhe dado domínio, e glória, e o
reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído."
O termo "Filho do Homem" era um título. Quando
Jesus usou esse termo (Mt 26:64), Ele estava atribuindo a profecia do “Filho do
Homem” de Daniel a Si mesmo. Os judeus daquela época com certeza estariam bem
familiarizados com o termo e a quem se referia. Ele estava proclamando ser o
Messias, o libertador divino que viria a Seu povo. Jesus parece ter unido os
papéis do Servo sofredor humano e do soberano Filho do homem de Daniel 7:13,
14. Ele unificou as duas verdades de que Ele era de fato o Deus YHWH que havia
se humanado para se tornar conhecido e para salvar a humanidade.
Jesus era 100% Deus (João 1:1), mas para
estabelecer o plano de redenção, como Messias, Ele também havia se tornado um ser humano (João 1:14). 1
João 4:2 nos diz: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em
carne é de Deus." Ellen White
descreve que “Ele devia vir como um membro da família humana, e estar como um
homem perante o Céu e a Terra. Viera para tomar o lugar do homem, para
penhorar-Se em lugar do homem, pagar o débito dos pecadores. Devia viver uma
vida pura na Terra, e mostrar que Satanás havia dito uma mentira ao pretender
que a família humana lhe pertencia para sempre, e que Deus não lhe podia tirar
os homens das mãos.”[8]
O
Cristo de Deus e a transfiguração (Quarta, quinta e sexta)
A confissão de Pedro é um divisor de águas a partir desse
momento. Para Pedro, e consequentemente para os demais discípulos, a identidade
de Jesus parece ficar mais clara. Nesse momento, a história passa de ensino e demonstração de autoridade para
confissão e chamado ao discipulado[9].
Logo em seguida, Jesus explica o seu
verdadeiro papel como Messias, que teria de sofrer (9:21, 22), e aqueles que aceitassem
o Seu convite deveriam também passar por grandes adversidades (9:23-27). Em
contraposição aos relatos de vocação (5:1-11. 27:32), a cruz é inserida no centro desse convite. Os discípulos recebem os primeiros lampejos do
verdadeiro significado de Ele ser o Cristo, e das tribulações advindas deste conceito. A expressão “o
Cristo” era justificada em sua prerrogativa divina e em Seus atos
sobrenaturais, mas este sentido também deixava claro a definição do “discipulado”[10].
Jesus foi enfático ao afirmar: “se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os
seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer
e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar
nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá
a vida verdadeira.” (v. 23-25).[11]
Jesus não esteve se referindo às
vicissitudes da vida, mas do compromisso diário com o reino de Deus e o chamado
ao discipulado. Talvez o martírio ainda estivesse em foco, mas a lealdade
diária ao mestre e a seu modo de vida. Pelo menos
deve ter sido essa a compreensão inicial dos apóstolos. Sendo este o foco ou não,
o que sabemos é que, mais tarde, o martírio seria o resultado final de todo o
comprometimento inicial. O discipulado faria dos passos de Jesus em Seu sofrimento, perseguição e morte, os
passos dos discípulos e de muitos outros que O seguissem ao longo da história.
A transfiguração de Jesus foi mais um
episódio de confirmação divina da divindade de Cristo e de seu caminho até a cruz.[12]
Novamente, a exemplo da oração de Jesus em Seu batismo, Lucas foi o único que registrou como Jesus esteve orando no
momento da transfiguração. O escritor, provavelmente, desejava mostrar como os
olhos dos discípulos se abriram ao contemplar aquela cena gloriosa. Sua
aparência e suas vestes adquiriram forma cheia
de resplendor jamais visto. Também puderam contemplar a presença viva daquele que havia morrido, porém ressuscitado e daquele que havia sido transladado ao Céu sem ver a morte.
Moisés é o exemplo daqueles que descem a sepultura, todavia, serão resgatados
dela na manhã da ressurreição (Jo 11:24; Jo 5:28, 29; Dn 12:1,2; I Ts 4:16,
17), enquanto que Elias se torna o exemplo dos fiéis da última geração, que
virão da grande tribulação e que não verão a morte (I Ts 4:17; Ap 7:13, 14;
14:1-5). Segundo alguns comentaristas, em consonância com Isaías 8:20 e Mateus
5:17, Moisés também representava no monte da transfiguração a lei de Deus, a
Torá, enquanto que Elias representava os profetas, os testemunhos.[13] Eles
falaram com Jesus sobre a sua partida (do grego êxodos), isto é, de sua morte e
ressurreição, confirmando assim o que Jesus havia profetizado no verso 22.[14] No
entanto, o mais importante nesse ocorrido estava na nuvem, de onde surgiu a voz
de Deus falando as palavras uma vez proferidas no batismo de Jesus (3:22), mas
dessa vez se dirigindo aos discípulos. Nesta ocasião “Os discípulos
contemplaram com temor e espanto a excelente majestade de Jesus e a nuvem que
os cobriu e ouviram a voz de Deus com terrível majestade, dizendo: ‘Este é o
Meu Filho, o Escolhido; ouçam-no’”.[15]
Gilberto Theiss é
formado em Teologia pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, com
Especialização em Filosofia pela Universidade Cândido Mendes. Atualmente é
pastor no estado do Ceará pela Associação Costa Norte da Igreja Adventista do
Sétimo Dia.
REFERÊNCIAS
[1]BOSCOV, Isabela,
Revista veja online. Disponível em: <
http://veja.abril.com.br/151204/p_102.html > acesso em 06-04-2015.
[2] KAPELINSKI,
Igor. A Bíblia é Verdadeira? São
Paulo: Clube de Autores, 2009. P. 159.
[3] PAROSQUI, Wilson. Crítica textual do Novo
Testamento, p. 19.
[4] Ver Anais XV,44
[5] Ver Antiguidades Judaicas, XVIII, 63a.
[6] Ver Tratado
Sanhedrin 43a do Talmud da Babilônia.
[7] Ver Epístolas, I.X 96.
[8] WHITE, Ellen G. Para
Conhecê-Lo [MM 1965], São Paulo, Tatuí. Casa Publicadora Brasileira, 1965. P.
26.
[10] BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY,
R. E. (Ed.) Novo Comentário
Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento e artigos Sistemáticos. Santo André: Academia
Cristã, 2011. P. 266
[12] BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY,
R. E. (Ed.) Novo Comentário
Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento e artigos Sistemáticos. Santo André: Academia
Cristã, 2011. P. 266
[14] Ibd.
[15] WHITE, Ellen G.
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, P. 1261, 1262; Ver Primeiros
Escritos, p. 162-164.