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Pioneiro do adventismo |
Mudanças
radicais ocorreram no final do século dezoito e início do século dezenove.
Muitas mudanças de cunho político, social e religioso deram uma nova abertura
ao período que abrangeu o início do século dezenove. Mudanças tais que
proporciaram a alavancada do movimento adventista sabatista. A revolução
americana, francesa e a intensificação do período de liberdade e democracia
contribuíram para que o movimento tivesse liberdade de florescer livremente, o
que não ocorreria caso o movimento tivesse surgido no período medieval e
moderno com as inquisições, cruzadas e intolerâncias religiosas.
O
milerismo começou com um homem chamado Guilherme Miller, fazendeiro não muito
comum, era o mais velho entre 15 irmãos. Por sua curiosidade e sede pelo
conhecimento desenvolveu um conhecimento básico da Bíblia e através de muita
leitura, desenvolveu também um bom conhecimento da história secular. Em sua
jornada de estudos da Bíblia, ao perceber que os comentaristas bíblicos se
diferiam largamente entre si, decidiu usar somente a “Bíblia e uma Concordância
de Cruden”, e permitir que a Bíblia sozinha fosse sua própria intérprete.
Guilherme Miller estudou verso por verso da Escritura partindo de Gênesis e
terminando em Apocalipse, com o objetivo de, cuidadosamente, fundamentar
satisfatóriamente suas interpretações. Seu parcial conhecimento de história o
ajudou a compreender melhor as profecias de Daniel, podendo contribuir com
muitas das interpretações que apontavam para os últimos eventos e para a
segunda vinda de Cristo.
As
primeiras mensagens que Miller pregou incluíam os sinais da segunda vinda, o
dia escuro de 19 de maio de 1780, o miraculoso sinal da queda das estrelas em
13 de novembro de 1833 e posteriormente a profecia das 2300 tardes e manhãs.
Daniel 8:14 foi o principal ponto da esperança escatológica de Miller e de seus
ouvintes mais próximos. Com base neste verso, os mileritas trataram
extensivamente do santuário, das 2300 tardes e manhãs e da purificação do
santuário. Os estudos e as interpretações feitas por Miller levou-o à conclusão
de que a palavra “santuário”, em Daniel 8:14, seria uma referência da igreja
cristã qualificada como igreja do Deus vivo ou povo de Deus em todo o mundo,
além de o verdadeiro santuário que Deus havia construído através de
Cristo.
Embora
Miller sustentasse até o fim de sua carreira que o santuário representava a igreja,
aos poucos desenvolveu conceitos paralelos de que o santuário poderia também
referir-se à Terra. Para Miller, baseado na teoria dia/ano de Ezequiel 4:6-7 e
Números 14:34, os 2300 dias eram simbólicos por natureza e deveriam ser
compreendidos como 2300 anos literais. Ele alegava que, ao considerar cada dia
como um ano, estaria se harmonizando com os principais comentaristas
protestantes, e na predisposição de que o período das “setenta semanas” de
Daniel 9:24-27, que já haviam sido cumpridas como 490 anos, era apenas a
primeira parte dos 2300 anos, e se a primeira parte estabeleceu seu
cumprimento, a segunda e última parte que estenderia até 1843 também
estabeleceria cumprimento.
Miller
e seus seguidores entendiam que os 2300 dias se inciaria em 457 a.C. e findaria
em 1843 d.C. Ele havia se convencido de que, a publicação do decreto de
Artaxerxes para a reconstrução dos muros de Jerusalém, em 457 a.C., era a data
adequada para o início do período profético. É válido lembrar que, ele se
baseou dos melhores cronologistas e historiadores que pôde consultar. Os
cálculos sobre as profecias do tempo não eram exclusivos de Miller, uma vez
que, muitos outros estudiosos na primeira metade do século XIX também faziam
uso. Como visto, Miller acreditava que a purificação do santuário consistia da
purificação da terra e da igreja, que ocorreria imediatamente na segunda vinda
de Cristo, no final dos 2300 anos, mais precisamente entre 1843 e 1844.
Alberto
Timm, diretor associado do White State, esclarece que, para Miller “a Terra
seria “purificada pelo fogo” (2Pd. 3.7-12), e que a purificação envolvia a
destruição dos ímpios da Terra, a purificação do planeta da “maldição do
pecado”, e a preparação do mundo “para a recepção do estado da Nova Jerusalém”.
A igreja de Deus, “seria purificada pela sua total redenção do pecado, sendo
apresentada sem mácula ou ruga, e seria vestida de linho fino, puro e branco
(ICo 1.7-8; Ef 5.16; Fp 3.20-21; IJo 3.2; Ap 19.8)” (TIMM, 2000). Os cálculos
iniciais deste grande pregador o haviam conduzido “ao ano de 1843,
aproximadamente”. No início de 1843 ele publicou no New York tribune uma
carta a Jousé V.
Himes,
tornando claro o que ele queria dizer pela expressão. Miller compreendia que o
ano bíblico de 457 a.C. começara na primavera, ou mais especificamente, em 21
de março de 457 e que, portanto, o ano 2300 terminaria na primavera de
1843/1844. Desta forma, a purificação da Terra seria ou começaria em 1844.
Miller anunciou no Tribune que o tempo não estaria além de alguma ocasião entre
21 de março de 1843 e 21 de março de 1844. Mais tarde, perceberam que, a
profecia dos 2300 anos não podia terminar senão até o outono de 1844. Ao
estudarem o santuário mais detidamente concluíram que a purificação ocorreria
no décimo dia do sétimo mês (ano judeu) em 22 de outubro de 1844. Entrando no
ano que ficou conhecido como o ano do fim do mundo, Miller pregaria com mais
fervor as boas novas da salvação e da segunda vinda de Cristo fazendo grandes
apelos aos povos para se entregarem a Cristo. Suas mensagens consistiam em
arrependimento, busca do perdão e obediência à Sua palavra.
Miller
pregou a mensagem da vinda de Cristo para a data de 1844 por quase todo o
mundo. Este foi sem dúvida um dos maiores desapontamentos já presenciado pelo
mundo cristão. Os que aguardavam com anseio pela segunda vinda de Cristo,
ficaram totalmente perplexos, angustiados e desapontados. Eles haviam firmado
todas as suas esperanças neste grandioso e mais esperado acontecimento. Tal
desapontamento não foi tão agudo como deveria sê-lo no dia que se seguiu 22 de
outubro até a chegada de novas revelações por parte de Deus. Devido ao
desapontamento, muitos abandonaram a esperança, e embora muitos tenham
abandonado definitivamente a fé, com o tempo, alguns retornaram buscando suas
igrejas de origem enquanto que outros buscaram alguma nova igreja.
Dentre
os que mantiveram a esperança e a fé, houve entre eles, muitas subdivisões.
Poderíamos citar entre eles, dois grupos principais que surgiram como resultado
do desapontamento, sendo o movimento da porta fechada, que acreditava que a
data de 1844 estava correta, porém o evento da volta de Cristo
estava errado. Deste grupo é que surgiu o movimento adventista
sabatista que mais tarde seria conhecido como Adventistas do Sétimo Dia. Os
adventistas sabatistas, com base em Daniel 7:9-14, acreditavam que a data e os
cálculos de Miller estavam corretos, porém o evento estava errado. Chegaram a
esta conclusão porque perceberam em Daniel 7 que Cristo havia se dirigido ao
ancião de Dias e não à Terra. Passaram a entender que Jesus havia passado do
lugar santo para o santíssimo no santuário celestial (Hb 8:1,2; Ap 11:19).
Naquele mesmo período surgiria também o movimento denominado porta aberta. Este
movimento acreditava que a data estava errada. Deste mesmo grupo se
ramificariam os movimentos adventistas da mortalidade da alma e os evangélicos
adventistas.
Após
o desapontamento, grande confusão foi o que marcou o movimento adventista
milerita. A solidez que criaram ante aos cálculos matemáticos da volta de
Cristo lhes trouxe grande choque e desalinho. Devido à forte decepção, muitos
abandonaram a fé e imergiram no ceticismo, enquanto que outros retornaram as
suas igrejas maternas. Preponderante para o processo de reestruturação das
profecias concernentes à volta de Cristo, e da resolução das primeiras crenças
fundamentais foi a participação dos primeiros líderes em intensas reuniões e
grupos de exame da Bíblia. Reuniram-se em lugares diferentes (Portland/ME,
Washington/NH, Port Gibson/NY), com pensamentos doutrinários desconjunto que
mais tarde, após alcançarem a uniformidade, começaram a integrar as devidas
crenças em um sistema harmônico. Entre os primeiros pioneiros, podemos destacar
de forma bem significativa, José Bates, Tiago White e Ellen G. White.
Destes
três, provavelmente José Bates tenha sido o mais importante e influente para
aquele contexto, uma vez que era o mais velho, experiente e mais versátil no
conhecimento bíblico. A família White, na pessoa de Tiago e Ellen, também desempenharam
papel extremamente importante e significativo na formação das primeiras
doutrinas adventistas. As primeiras crenças foram erigidas durante um período
de três anos (1844-1847), e demandaram dos primeiros líderes, muita oração,
discussão e desmedido estudo da Bíblia. Como afirmou Tiago White em 1847, “a
Bíblia é uma revelação perfeita e completa. Constitui nossa única regra de fé e
prática” (TIMM, 2000). Outros pioneiros adventistas que foram importantes para
a igreja e para o seu desenvolvimento doutrinário: John Nevins Andrews
(1829-1883), John Norton Loughborough (1832-1924), John Byington (1798-1887),
J.H. Waggoner (1820-1889), Urias Smith (1832-1903), Anne Smith (1828-1855),
Frederick Wheeler (1811-1910), Hiran Edson (1806-1882).
Ao
longo de três anos (1844-1847), algumas crenças fundamentais foram
desenvolvidas e fundamentadas como resultado das intensas reuniões de estudo,
oração e discussão. Estas doutrinas são de característica peculiar aos
adventistas e houve uma ênfase maior em sua fundamentação devido ao confronto
com outros cristãos que não compartilhavam do mesmo pensamento. Crenças como 1)
A lei dos dez mandamentos e do sábado; 2) Segunda vinda de Cristo antes do
milênio; 3) Ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial; 4) Imortalidade
condicional da alma; e 5) da manifestação do dom profético na pessoa de Ellen
White, além de serem as primeiras crenças fundamentadas e erigidas pelos
primeiros líderes, foram aos poucos sendo integradas através dos dois
principais blocos peculiares, a) o Santuário de Daniel 8:14; b) e as três
mensagens Angélicas de Apocalipse 14:6-12.
Foi
através de uma maior influência de José Bates que houve a perfilhação da crença
da segunda vinda de Cristo em forma pessoal, visível e pré-milenial; da crença
da imortalidade da alma; do sábado como dia de descanso bíblico; da teologia do
Santuário e mais tarde, na data de 1846, ele ficou persuadido da legitimidade
do dom profético na pessoa de Ellen White. Tiago White e Ellen White, ambos
aceitaram significativamente as mesmas crenças abraçadas por José Bates,
entretanto, há evidencias de que Tiago White só se convenceria do dom profético
de Ellen somente no início de 1845.
Logo
após o ano de 1846, especialmente no começo de 1847, estes líderes se
encontravam conciliados nas principais crenças suscitadas, e agora remanescia o
dever de esmerar e expandir o pré-sistema de doutrinas com o objetivo de
transmiti-los aos outros. Dentro deste contexto, outros líderes vão reforçando
o corpo teológico da igreja dando suas devidas contribuições para uma maior
fundamentação das principais doutrinas adventistas. A propagação destas e
outras verdades estabelecidas se deram através de dois meios, mediante a obra
de publicação e das conferências bíblicas. As primeiras publicações foram
divulgadas por intermédio da produção de inúmeros folhetos e pequenos livros
que continham as verdades distintivas, ademais através das conferências
bíblicas, especialmente as realizadas nos anos de 1848, 1849 e 1850.
Os
adventistas sabatistas, com base em Daniel 7:9-14, acreditavam que a data e os
cálculos de Miller estavam corretos, porém o evento estava errado. Chegaram a
esta conclusão porque perceberam em Daniel 7:13 e 14, que Cristo havia se
dirigido ao ancião de Dias e não à Terra como supunha a mensagem de Miller.
Também, baseado em Apocalipse 14:7, entenderam que era “chegada a hora” e não o
dia do juízo. Isto os levou a compreender que naquela data Cristo, como
ministro do santuário celestial, iniciaria o juízo investigativo. Portanto, os
primeiros pioneiros, ao contrário da mensagem milerita, se convenceram de que o
santuário que seria purificado transmitia uma realidade celestial e não
terrestre. Na data de 23 de outubro de 1844, Hiram Edson, através da famosa
visão no milharal, chegaria à compreensão definitiva que o santuário a ser
purificado não podia ser nada que estivesse relacionado à Terra, portanto o
acontecimento tinha que estar vinculado ao santuário celestial.
Durante
uma pequena caminhada ao milharal, conforme narrou Edson, “detive-me quase a
meio do caminho” e “o céu parecia aberto aos meus olhos....Vi, distinta e
claramente que, em lugar de nosso Sumo Sacerdote sair do Santíssimo do santuário
celestial para vir á Terra, no décimo da do sétimo mês, no fim dos 2300 dias,
Ele havia entrado pela primeira vez naquele dia no segundo compartimento
daquele santuário; e que Ele tinha uma obra a realizar no Santíssimo antes de
retornar à Terra” (TIMM, 2000). Estudos subsequentes estabeleceram fundamentos
bíblicos para dar suporte a esta crença, e tanto Edson quanto os demais
pioneiros foram convencidos por tal revelação.
É
importante compreender que não foram as visões de Edson ou de Ellen White que
deram uma definição absoluta para tal crença, pois, estudos relacionados à
mesma compreensão já era conhecido por alguns estudantes conservadores,
liberais e dispensacionalistas da época. Portanto, assim ficou definido Daniel
8:14, que os 2300 dias/anos iniciariam com o decreto de Artaxerxes em 457 a.C.
(Dn 9:25), terminando exatamente no ano de 1844. Esta predição revelaria que
neste ano Cristo passaria do compartimento santo do santuário para o
santíssimo, inaugurando a purificação do santuário celestial, ou seja, estaria
sendo estabelecido o início da primeira fase do juízo denominado como juízo
investigativo que perdurará até a segunda vinda de Jesus com o objetivo de
estabelecer o juízo pré-advento e instaurar a expiação para o processo de apagamento
dos pecados.
Gilberto Theiss - Bacharel em Teologia e especialização em filosofia
Referências
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