Preferiria
não disponibilizar esse post a você, amigo (a) leitor (a). Afinal, quando
conseguirmos solucionar uma disputa entre irmãos seguindo o conselho de Jesus
em Mateus 18:15-17, Deus é honrado, relacionamentos são preservados e novas
amizades podem corar de alegria nossas vidas.
Porém,
sendo que não foi possível resolver uma questão – fruto do sentimento
antiadventismo – por amor à verdade e respeito aos alunos de teologia do
Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, terei que
tornar pública a resposta a seguir.
No
dia 8 de agosto de 2013 enviei o primeiro e-mail à Instituição, demonstrando
que o palestrante Luciano Sena, ao abordar a temática “adventismo” na 1ª Semana
Teológica de 2013, foi tremendamente antiético, sem rigor acadêmico e sem
comprometimento com a verdade dos fatos.
Antes,
realizei um telefonema e fui muito bem atendido pelo Rev. Ageu Cirilo de
Magalhães Junior, que prometeu analisar o conteúdo de meu e-mail e tomar as
devidas providências quanto ao vídeo disponibilizado no YouTube no canal do
referido Seminário, no linkhttp://www.youtube.com/watch?v=dfJYyh9Jxoo
Porém,
após ler meu e-mail, no dia 26 de agosto o Reverendo me escreveu o seguinte:
“Li
e consultei o preletor sobre as suas objeções. Para cada argumento seu, ele tem
contra-argumentação bem plausível”.
Particularmente,
duvido que o respeitável reverendo tenha comparado a palestra de Luciano Sena,
do Ministério Cristão Apologético (MCA), com as fontes primárias adventistas
que lhe apresentei. Porém, ele tem o direito de proceder assim, mesmo que os
internautas e alguns alunos do Seminário vejam por si mesmos que Sena nada
conhece sobre adventismo, e que o Seminário José Manoel da Conceição, dessa
vez, não foi totalmente comprometido com o rigor acadêmico.
Creio
como o Reverendo que todos têm o direito de defender suas crenças (nesse caso,
Sena). Todavia, a maneira como as crenças de uma pessoa são
defendidas deve refletir um dos maiores princípios do cristianismo: a verdade
(Jo 14:6; 8:32). Quando uma defesa doutrinária não é feita sobre esse
princípio, além do descrédito, as pessoas envolvidas sofrem grande prejuízo
espiritual e comprometem a espiritualidade de outros. Consequentemente, terão
de dar contas disso (Ec 12:13, 14)
Sendo
assim, logo abaixo você terá, na íntegra, as considerações que fiz às palestras
de Luciano Sena. Apenas umas poucas correções foram realizadas para publicar o
texto na internet. Antes, permita-me comentar brevemente sobre um dos
principais “pressupostos” de Sena em sua avaliação e rotulação do adventismo
como uma “seita herética”.
UM
TIRO NO PRÓPRIO PÉ
Poderá
não acreditar, mas, um dos pressupostos sobre os quais Luciano “se mantém em
pé” para sustentar suas conclusões de que o adventismo é uma “seita” é a
descrença de pioneiros adventistas na doutrina da Trindade, nos primórdios do
movimento (no e-mail enviado ao Seminário Presbiteriano você terá maiores
informações sobre o assunto).
Todavia,
o referido evangelista não parou para pensar que não se avalia todo um sistema
doutrinário e muito menos a sinceridade das pessoas por suas crenças
equivocadas passadas. Se esse tipo de argumento for válido, então Sena atirou
no próprio pé, pois, segundo ele mesmo (poderá conferir na palestra, logo no
início, por volta do tempo 0:02:36), foi uma Testemunha de Jeová por pouco mais
de oito anos. Ou seja: um oponente à doutrina da Trindade.
Assim
como não é correto julgar a honestidade e integridade pessoal de Luciano Sena
por ele um dia ter sido antitrinitariano, não é justo julgar a sinceridade de
pioneiros adventistas. Não seria conveniência de Sena julgar o passado de
pioneiros adventistas sendo que o passado dele não foi muito diferente? Medite
nisso, amigo (a) leitor (a).
Convém
destacar outros pontos, negligenciados por Luciano Sena e que o Seminário
Reverendo José Manoel da Conceição não fez questão de se aprofundar para o
benefício dos próprios alunos.
A
leitura do capítulo 13 da obra A Trindade: como entender os mistérios da
pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2003), intitulado “Trindade e Antitrinitarianismo na
História do Adventismo” (p. 216-230) teria revelado (entre muitas outras
coisas) tanto para Sena quanto para o Seminário que:
1º:
Mesmo havendo um predomínio do antitrinitarianismo no adventismo entre
1846-1888, em 1869 Roswell F. Cottrell observou que nesse período existia “uma
multidão de pontos de vista” sobre a Trindade. Isso significa que qualquer
argumento que sugira que “todos” os pioneiros eram antitrinitarianos, é um
argumento mentiroso.
2º:
Eles rejeitavam veementemente (mesmo sem ter a plena compreensão da doutrina)
era a doutrina da Trindade como apresentada pelos credos cristãos da época,
especialmente um credo Metodista de 1856, que dizia o seguinte: “[...] existe
um único Deus vivo e verdadeiro, sempiterno, sem corpo ou partes [...]” (Citado
em A Trindade…, p. 234).
Eles
não rejeitavam a importância da doutrina de Deus manifesto em Três Pessoas
(mesmo crendo no Espírito como sendo o “poder de Deus” ), mas a doutrina
Tradicional da Trindade que continha elementos não bíblicos supracitados e
que são negados até hoje pelos adventistas e por qualquer outra denominação
Protestante e Trinitariana.
Por
que tais informações não foram passadas aos alunos que estiveram presentes na
1ª Semana Teológica de 2013 realizada no referido Seminário Presbiteriano? É do
espírito acadêmico essa seletividade de informações?
Quem
estiver interessado (a) em se aprofundar no estudo desse tema poderá ler a obra
supracitada, que pode ser adquirida com a editora Casa Publicadora Brasileira
pelo site ww.cpb.com.br .
Agora,
após esses breves esclarecimentos, veja a seguir o e-mail em que demonstro, com
base em fontes primárias, as distorções de Luciano Sena, do Ministério Cristão
Apologético, e que, infelizmente, foram tidas como “plausíveis” pelo Seminário
Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição.
E-MAIL
Estimado
Reverendo Ageu:
Primeiramente
quero lhe agradecer pela maneira educada e cristã como me atendeu.
Sou
Leandro Quadros, jornalista que ontem conversou com o senhor sobre a palestra
de Luciano Sena, apresentada na 1ª Semana Teológica 2013 realizada no Seminário
JMC.
O
motivo é fazer um breve comentário sobre a abordagem metodológica e citação das
fontes primárias por parte de Sena. Como afirmei em nosso telefonema, a maneira
como ele apresentou o adventismo desprestigia uma Instituição séria como a de
vocês, e Deus sabe que não falo isso por demagogia, pois, vosso trabalho é
coisa séria mesmo.
Fiz
várias anotações sobre a palestra de Luciano Sena, mas, serei sintético nesse
e-mail (gostaria de ser mais ainda, mas, vejo que não será possível…) para não
ocupar muito seu tempo. Meu principal objetivo é lhe informar sobre a maneira
nada acadêmica como ele cita as fontes. Infelizmente, Luciano deixou que seu
sentimento antiadventismo comprometesse sua pesquisa.
Deter-me-ei
apenas na forma como ele se utiliza das fontes primárias, sem entrar no mérito
doutrinário. Se um dia o Reverendo achar isso necessário, poderá contar comigo
para maiores esclarecimentos.
1º: Luciano
afirma que “os problemas que os adventistas enfrentam para justificar 1844 são
parecidos com o problema das TJ quanto à data de 1914”.
Se
o referido palestrante conhecesse a série abalizada de 7 volumes sobre a
Teologia Adventista do Santuário Celestial, jamais faria uma afirmação dessas.
Nessa
coleção preparada pelo Comitê de Daniel e Apocalipse do Biblical Research
Institute da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, publicada pela
primeira vez em língua inglesa em 1993, é possível perceber que a base para a
crença adventista na interpretação de Daniel 8:14 são estudos exegéticos
realizados por eruditos adventistas reconhecidos no meio protestante como os
doutores William Shea, Hans K. LaRondelle e Kenneth A. Strand (entre outros).
Portanto,
não há qualquer tipo de “rearranjo” que possa ser comparado aos estudos das
Testemunhas de Jeová. Tal “comparação” é tendenciosa e não condiz com a
verdade.
2º: Ele
também argumenta que “os pioneiros adventistas eram antitrinitarianos”. A forma
como a informação foi apresentada é bastante tendenciosa e, se ele houvesse
feito uma consulta à obra A Trindade: como entender os mistérios da pessoa
de Deus na Bíblia e na história do cristianismo, na 3ª seção intitulada
“Trindade e Antitrinitarianismo da Reforma ao Movimento Adventista”, ele
saberia que, mesmo pioneiros adventistas sendo antitrinitarianos por serem
oriundos da Conexão Cristã, o antitrinitarianismo predominou entre 1846 e 1888.
Após essa data, o adventismo viveu mais quatro fases, até a mudança de
paradigma entre os anos de 1898 e 1915, tendo Ellen White como a
maior expositora da doutrina Trinitariana.
Por
isso, a afirmação de Luciano de que “não se sabe se Ellen G. White era
Trinitariana” é absurdamente infundada, especialmente à luz de citações dela em O
Desejado de Todas as Nações, publicado em 1898, p. 19 e 530, onde ela fala da
pré-existência de Jesus Cristo e inclusive afirma: “Em Cristo há vida original,
não emprestada, não derivada” (p. 530). Além disso, Luciano desconhece por
completo (ou ignorou) as citações Trinitarianas da referida autora na obraEvangelismo,
p. 615-617, onde ela menciona das “três pessoas vivas pertencentes ao trio
celeste” e apresenta o Espírito Santo como uma Pessoa Divina.
É
muito estranho que um palestrante ignore o todo da história e fontes
primárias importantes para “provar” que se “a base do adventismo é herética,
então todo o resto o é”. O Reverendo e eu sabemos que mudanças de paradigmas,
mais do que indicar ‘heresia acompanhada de desonestidade’, indicam crescimento
e, no meio acadêmico e científico esse espírito é vital para aqueles que
seriamente se comprometem com a busca pela verdade.
3º: Ele
também alega que rejeitamos nossa origem denominacional atribuindo a marcação
de datas ao batista William Miller. Porém, isso não é verdade. Mesmo o
adventismo sendo interdenominacional em seus primórdios, reconhecemos nossa
origem milerita, tanto que um dos mais de 20 grupos que surgiram após o
desapontamento, é o que hoje se conhece como Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Uma leitura da obra História do Adventismo, de C. Merwyn Maxwell teria
revelado isso a Luciano Sena, pois, nela o historiador adventista
constantemente cita Miller como pai do milerismo adventista.
A
alegação de que “os adventistas hoje não compartilham do conceito que Ellen
White tinha de Miller” também é falsa. Há biografias inteiras escritas por
historiadores adventistas sobre o pai do movimento milerita, entre elas a obra
de Sylvester Bliss, intitulada Memoirs of William Miller (Berrien
Springs, MI: Andrews University Press, 2005).
Já
a afirmação de que Ellen White ensina que Miller foi o “primeiro a calcular o
período dos 2.300 anos de Daniel 8:14” também é inverídica e não pode ser
apoiada pelo que ela escreveu e nem mesmo pelas obras adventistas. Em sua tese
doutoral traduzida para língua portuguesa em 2002 com o título “O Santuário e
as Três Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das
Doutrinas Adventistas”, Alberto R. Timm é muito claro em sua exposição quando
afirma que, mesmo Miller tendo provido “um dos cálculos cronológicos mais
precisavamente ‘elaborados e aperfeiçoados’ das profecias bíblicas mostrando o
iminente cumprimento desse evento [2ª vinda de Cristo]” (p. 15), esse pioneiro
não foi o primeiro a realizar esse tipo de estudo em torno de Daniel 8:14. Na
p. 14 Timm informa que antes de Miller “muitos intérpretes protestantes ficaram
convencidos, mediante estudos das profecias bíblicas, de que Cristo viria em
seus dias”.
Na
obra Questões Sobre Doutrina (ed. de 2009), também negligenciada por
Luciano Sena, na página 233, são mencionados eruditos protestantes que assim
como Miller chegaram ao ano de 1843 no estudo de Daniel 8:14 antes do
fundador do milerismo. Na referida obra são mencionados John A. Brown, que
publicou suas convicções em 1810; Birks, em 1843; William C. Davis, também em
1810, que do mesmo modo olhava para os anos 1843, 1844 ou 1847 como marcando o
início de acontecimentos importantes na profecia bíblica. Entre esses eruditos
que chegaram a tais conclusões antes mesmo de William Miller se destacam também
o Dr. Joshua L. Wilson, da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana; o
bispo episcopal John P. K. Henshaw; Alexander Campbell. Mais de 60 homens no
começo do século 19 aguardavam o término da profecia de Daniel 8:14 (2.300
tardes e manhãs) para uma dessas três datas.
Mais
uma vez o responsável pelo Ministério Cristão Apologético (MCA) vergonhosamente
distorce o adventismo motivado muito mais pelo preconceito do que pelo amor à
informação e à precisão acadêmica.
4º: Sobre
a expiação realizada pelo bode Azazel, que cremos ser Satanás, não se pode
realizar uma exposição do que pensa o adventismo sobre o assunto sem a leitura
do capítulo “O Significado de Azazel”, da obra Questões Sobre Doutrina (publicada
na década de 50), disponível em português desde 2009. Na p. 286 da referida
obra Sena saberia que a identificação de Azazel com Satanás (reconheço que é um
assunto muito controverso entre adventistas e evangélicos) não é feita apenas
por adventistas, mas, por eruditos de outras confissões religiosas, entre eles
Samuel M. Zwemer,presbiteriano.
Já
a leitura das páginas 288-290 revelaria ao palestrante que, na concepção
adventista, a expiação de Azazel não era vicária, mas, retributiva. Por isso,
pôde ser afirmado em tal obra, com a consciência tranquila diante de Deus, que
“Os adventistas do sétimo dia rejeitam, portanto, inteiramente qualquer ideia,
sugestão ou inferência de que Satanás seja em certo sentido ou medida o
portador de nossos pecados. Esse pensamento nos causa horror, é terrivelmente
sacrílego [...]” (p. 289).
Infelizmente,
esse tipo de acusação também faz parte da teologia sistemática de Franklin
Ferreira e Alan Myatt (São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 615-617), mas, após
concluir minha dissertação intitulada “Críticas aos adventistas na mídia
brasileira”, mandarei uma cópia aos referidos autores, na esperança de que
corrijam esse tremendo erro.
5º: Ao
citar a obra Nisto Cremos, Sena literalmente reinterpretou a crença
fundamental número 18 (“O Dom de Profecia”) para afirmar que “seguimos Ellen G.
White”. Se ele tivesse lido (ou não ignorado) a página 289, teria informado aos
alunos do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição que
“Os escritos de Ellen White não constituem um substituto para a Bíblia. Não
podem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição
única, pois são o único padrão pelo qual os seus escritos [de Ellen White] – ou
quaisquer outros – devem ser julgados e ao qual devem estar
subordinados”.
É
incrível como ele não faz questão de informar isso aos alunos do curso que,
devido à tendenciosidade de Luciano Sena e sentimento antiadventista (revelado
nas diversas vezes em que diz “não gostar de nada que venha de Ellen G.
White”), receberam informações secundárias e de péssima qualidade.
A
leitura de minha réplica ao Centro Apologético Cristão de Pesquisas (CACP)
intitulada “A visão contaminada do CACP” teria esclarecido a ele que os
adventistas, ao crerem que Ellen G. White é mensageira de Deus, não a colocam
no mesmo nível de importância que as Escrituras. O fazem apenas no
que diz respeito ao grau de inspiração, por não crerem que profetas
não-canônicos sejam menos inspirados que profetas canônicos (cf. 2Cr 29:29;
8:29).
O
artigo em que refuto as alegações de João Flávio Martinez pode ser lido
clicando aqui . No referido post apresento a posição oficial da
IASD, bem como a compreensão de Ellen G. White a respeito dos próprios escritos
e sua relação com a Bíblia.
6º: Ao
comentar sobre a Inerrância Sena diz que “suspeita” ser Ellen White adepta da
Inerrância absoluta, para argumentar que os adventistas atualmente “negam” a
posição da própria profetisa. Não sei como um pesquisador pode chegar a uma
conclusão dessas ao ler os que ela escreveu sobre o assunto na obra Mensagens
Escolhidas, vol. 1, p. 21. Em 1886 ela afirmou:
A
Bíblia foi escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e
exprimir-se de Deus. Esta é da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha
representado. Os homens dirão muitas vezes que tal expressão não é própria de
Deus. Ele, porém, não Se pôs à prova na Bíblia em palavras, em lógica, em
retórica. Os escritores da Bíblia foram os instrumentos de Deus, não Sua pena.
Olhai os diversos escritores.
Não
são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A
inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio
homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. As
palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa.
A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade
humanas; assim as declarações do homem são a Palavra de Deus.
Na
página 22 ela continua explicando sua posição sobre o processo de inspiração
das Escrituras sem dar qualquer margem para a opinião infundada de Luciano Sena
de que ela, “talvez”, acreditasse na Inerrância absoluta.
Na
mesma palestra Sena se contradiz. Enquanto ele “acha” que Ellen G. White cria
na Inerrância absoluta, num determinado momento ele afirma que os adventistas
“rejeitam a Inerrância [absoluta] por causa de Ellen G. White”. Essa
contradição aberta revela que Sena desconhece por completo a posição de Ellen
White sobre o método de inspiração das Escrituras, e que ele foi bastante
arrogante em querer colocar “na boca” da co-fundadora do adventismo algo que
ela nunca sonhou em dizer.
Avalie,
irmão e Reverendo Ageu, o tipo de informação que tal palestrante levou até os
alunos do Seminário Presbiteriano JMC e veja se esse vídeo no YouTube,
assistido até o momento por mais de 700 pessoas, não compromete a credibilidade
acadêmica de uma Instituição séria como a de vocês.
Além
disso, Sena não fez questão de informar aos alunos que a crença adventista na
autoria humana da Bíblia nada tem a ver com a posição dos teólogos liberais. Se
ele tivesse lido atentamente o capítulo “A Natureza da Bíblia: Isenta ou
Repleta de Erros?”, escrito por Samuele Bacchiocchi (citado repetidas vezes por
Luciano Sena) na obra Crenças Populares: o que as pessoas acreditam e o
que a Bíblia realmente diz (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012),
p. 11-47, teria informado aos alunos que, mesmo não sendo Inerrantes absolutos
por crer que a Bíblia é a perfeita Palavra de Deus na imperfeita linguagem
humana, cremos que “As Escrituras Sagradas são a infalível revelação de Sua
vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o autorizado
revelador de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história” (Nisto
Cremos, 2003, p. 14).
Isso
é tão evidente para o pesquisador sério que nunca fomos questionados
severamente por isso, considerando que estamos entre os poucos que creem na
literalidade dos primeiros 11 capítulos do Gênesis – o que é vital para nossa
mensagem em torno da doutrina do sábado como lembrete do Deus Criador,
Mantenedor e Salvador (Êx 20:8-11; Hb 4).
Além
disso, no livro Conselhos Para a Igreja Ellen White dedica o capítulo
13 para exaltar a Bíblia como sendo a Palavra de Deus e não apenas como um
livro que “contenha” tal Palavra.
7º: Também
absurda e inverídica é a afirmação de que “os adventistas creem que em cada
mundo há seu próprio Adão e que só o nosso caiu”. Não é isso o que o Nisto
Cremos (ed. de 2008), p. 90 e 91, afirma. Na referida obra o termo “Adões”
no plural é empregado, realmente, como referência a seres de mundos não caídos
(com base em Jó 1:6-12), porém, não há a mais remota ideia de que “cada mundo
tenha seu próprio Adão”. O termo plural usado no contexto se refere aos “Filhos
de Deus” (Jó 1:6-12) de mundos não caídos, de modo que a “explicação” de Sena é
pura invenção da própria mente dele, resultante de uma leitura superficial ou
manipulação do texto do livro Nisto Cremos.
8º: Desconheço
até o momento qualquer fonte primária adventista que afirme ter sido a Igreja
Católica quem “inventou o domingo”. Na verdade, a leitura de algumas obras
essenciais revelam que mesmo os adventistas sendo convictos de que a
observância do domingo esteja intimamente relacionada ao papado (veja-se O
Grande Conflito, p.p. 54, 446, 449 e 579), a história da observância do domingo
é muito mais abrangente do que isso. Se ele tivesse lido, por exemplo, a obra The
Sabbath in Scripture na History, editada por Kenneth A. Strand e publicada em
1982, ele veria que os eruditos adventistas abarcam a substituição do sábado
pelo domingo de uma perspectiva histórica bem mais sólida especialmente na
segunda parte do livro, intitulada “Sabbath and Sunday In Christian Church”.
Sete capítulos foram dedicados ao assunto, sem que a origem do domingo tenha
sido atribuída unicamente ao papado.
Outra
obra muito útil para o palestrante seria o livro de Alberto R. Timm, intitulado O
Sábado na Bíblia, publicado em 2010, onde o autor faz menção à tese de Samuele
Bacchiocchi defendida na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, intitulada
“From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday
Observance in Early Christianity”. A mesma foi publicada em 1977 e nela se
percebe que, além de o papado ter certa influência no estabelecimento do
domingo, a origem da observância do primeiro dia foi na igreja de Roma, por
volta do 1º século, entre cristãos primitivos que observaram o sábado
juntamente com o domingo. O papado entra em cena alguns séculos depois, bem
como o edito de Constantino em 321 d.C que exaltou o domingo, apenas na esfera
civil.
O
fato de Luciano Sena utilizar dessa metodologia antiacadêmica não me surpreende
porque já tive diversos contatos com ele, dando respostas às suas acusações
sem, contudo, obter da parte dele pelo menos um reconhecimento de que errou na
forma como citou as fontes primárias.
Porém,
quando a questão envolve um Seminário Teológico como o JMC, a coisa fica mais
séria porque alunos estão obtendo informações falsas que, além de desonrar a
Deus (Êx 20:16), podem comprometer todo um trabalho de ensino realizado por
profissionais comprometidos como vocês. Por isso, assisti a toda a palestra no
YouTube e decidi escrever e telefonar para o Reverendo.
Há
muita coisa que ele disse sobre a teologia da Lei, da Expiação e da Trindade
que não refletem o posicionamento oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Porém, não me delongarei mais do que já fiz porque não devo ocupar seu tempo
que, com certeza, é precioso em vista dos seus diversos compromissos
acadêmicos.
Despeço-me
agradecido por sua atenção que me foi dispensada, colocando-me à sua disposição
para maiores esclarecimentos e, ao mesmo tempo, confiante de que, com base
nessas informações, o Reverendo tomará as devidas providências.
Um
abraço,
Leandro
Quadros.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Com
base nas informações e argumentação extraída de fontes primárias, é possível
amigo (a) leitor (a) crer na qualidade da investigação de Luciano Sena? Pode-se
concordar com a afirmação do respeitável Reverendo Ageu Cirilo de Magalhães
Junior, de que para cada argumento meu Sena“tem contra-argumentação bem
plausível”?
Espero
com ansiedade o dia em que o sentimento adventismo não comprometa de maneira
tão significativa a pesquisa de um oponente.
Desejo
de coração que os alunos desse respeitável seminário presbiteriano tenham à
disposição deles as fontes primárias, fornecidas pelo próprio Seminário, que
eventualmente possam comprovar a “plausibilidade” da contra-argumentação de
Luciano Sena.
Um
abraço a todos
Fonte: (Novo Tempo)