Mas, de acordo com um trabalho publicado recentemente na Nature, não se sabe qual a sua posição em relação ao limite do Sistema Solar e a sonda pode ainda levar algum tempo para ultrapassar essa última fronteira e entrar finalmente no espaço interestelar.
O Sistema Solar tem o formato de um cometa com uma cauda, que viaja pelo espaço, orbitando em torno do centro da Alfa do Centauro. O Sol está situado no centro da cabeça desse “cometa” e gira lentamente à volta do núcleo da nossa galáxia. Um dos efeitos da sua atividade é a emissão constante de um fluxo de prótons e elétrons que são expulsos do Sol com muita energia e velocidade, originando o vento solar.
Mas essas partículas vão desacelerando. Em teoria, existe uma fronteira em que as partículas já não empurram o meio intergaláctico, que tem uma constituição de partículas diferente. Mas até onde existe, o vento solar produz no espaço uma atmosfera própria chamada heliosfera que determina as fronteiras do Sistema Solar. À frente do Sol e devido ao movimento da estrela, a espessura da heliosfera é menor. É no limite dessa região que a Voyager 1, a sonda da agência espacial norte-americana (NASA), viaja.
Esperava-se, no ano passado, que a máquina ultrapassasse a fronteira do Sistema Solar, depois de suas medições mostrarem que as velocidades das partículas caíram para zero. Essa observação ia ao encontro do que os cientistas defendiam: a dado momento, depois de viajarem no espaço, as partículas solares deixariam de ter força para empurrar o espaço interestelar e, em vez disso, iniciariam um movimento lateral, tal como acontece quando um fluxo de água embate numa superfície sólida. Dessa forma, haveria uma região entre o espaço interestelar e a heliosfera chamado heliopausa.
Mas Robert Decker e Stamatios Krimigis, dois dos autores do artigo daNature, não mediram essa corrente lateral de partículas. “Concluímos que a Voyager 1 não está nesse momento perto da heliopausa, pelo menos na forma como [essa região] foi imaginada”, lê-se no artigo da equipe do laboratório de física aplicada da Universidade de Johns Hopkins. O que, em boa medida, significa que, mais de três décadas depois de ter saído da Terra, a sonda continua a nos surpreender com suas descobertas.
A Voyager 1 está hoje numa missão interestelar, mas nem sempre foi assim. O objetivo inicial dessa sonda e da Voyager 2 - a outra sonda da missão que também continua “viva” e também se dirige para os confins do Sistema Solar, apesar de não estar tão afastada da Terra -, era o estudo de Júpiter, Saturno e as luas que giram em torno desses planetas.
A Voyager 2 foi lançada a 20 de agosto de 1977. No mês seguinte, a 5 de setembro de 1977, a Voyager 1 saiu da Terra. A NASA aproveitou Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, os quatro planetas mais distantes do Sol, estarem em posições ótimas em suas órbitas para as sondas passarem por eles em tempo-recorde. Nos anos seguintes, as duas sondas passaram por Júpiter e Saturno. Mais tarde, a humanidade teve a oportunidade de ver as primeiras fotografias de sempre de Urano e Netuno tiradas pela Voyager 2. Desde que a sonda se afastou de Netuno para entrar em sua missão interestelar, em 1989, quase dez anos depois de a Voyager 1 rumar em direção à fronteira do Sistema Solar, que mais nenhum aparelho tirou imagens dos dois planetas mais longínquos.
Em 1990, começou oficialmente a missão interestelar. Hoje a Voyager 1 tem alguns instrumentos funcionando, mas continua a transmitir informação para a Terra, que demora 17 horas para chegar aqui. Para testar se existia um fluxo lateral de partículas, a equipe de Decker e Krimigis enviou um comando para a sonda girar em torno de si mesma sete vezes, mas não descobriu o movimento de partículas que procurava.
(Público via criacionismo)