Jesus entrou no santíssimo antes de 1844?

Moisés entrou no Lugar Santíssimo como parte do ritual de inauguração (Êx 26:33, 34; 40:9; Lv 8:10-12; Nm 7:1, 89; cf. Hb 9:21). A inauguração do santuário celestial também envolveu a unção do Santíssimo (Dn 9:24). Ou seja: o Dia da Expiação não é o único ritual que inclui entrada no Santíssimo. Cristo, por ocasião de Sua ascensão, entrou no santuário celestial para inaugurar seus serviços (o que incluía a entrada no Santíssimo), não para dar início ao ministério do Dia da Expiação. Em palavras simples, Jesus entrou no Santíssimo antes de 1844 para inaugurar Seu sacerdócio, e entrou no Santíssimo em 1844 para efetuar a purificação do santuário celestial (Dia da Expiação).

Ellen White descreve de duas formas a entrada de Jesus no Santíssimo (onde fica o propiciatório), na Inauguração:

“Ainda carregando humanidade, Ele ascendeu ao céu, triunfante e vitorioso. Ele tomou o sangue da expiação, aspergiu sobre o propiciatório e sobre suas próprias vestes e abençoou o povo. Em breve Ele aparecerá pela segunda vez para declarar que não há mais sacrifício pelo pecado” (RH, 13/11/1913).

“Ainda carregando humanidade, Ele ascendeu ao céu, triunfante e vitorioso. Ele levou o sangue da expiação ao Santíssimo, aspergiu sobre o propiciatório e Suas próprias vestes e abençoou o povo. Em breve, Ele aparecerá pela segunda vez para declarar que não há mais sacrifício pelo pecado” (ST, 19/4/1905)

As entradas no Santíssimo têm funções diferentes. Esse é o problema de décadas de ênfase apenas no aspecto “geográfico” de 1844, e não na função. 1844 não tem a ver com “entrou no Santíssimo”, e ponto. Tem a ver com “entrou no Santíssimo para…”, a ênfase deve ser no que Jesus foi fazer ali, a função, o ministério.

Curiosamente, no próprio site do MV você encontra o livro O Ritual do Santuário, de M. L. Andreasen, onde ele diz que a Inauguração incluiu, sim, a unção do Santíssimo:

“Não somente Arão é ungido, mas também o tabernáculo. ‘Então Moisés tomou o azeite da unção, e ungiu o tabernáculo, e ungiu o altar e todos os seus vasos, como também a pia e a sua base, para santifica-los’ (Lv 8:10, 11). Essa unção incluía toda a mobília, tanto do santo como do santíssimo (Êx 30:26-29)” (p. 57).

Andreasen continua: “Quando, no primeiro dia da semana, Cristo ressuscitou, necessário Lhe era subir ao Pai para ouvir as palavras da divina aceitação do sacrifício. Na cruz, Sua alma estava em trevas. O Pai, dEle ocultara o rosto. Em desespero e angústia, Cristo exclamara: ‘Deus Meu, por que Me desamparaste’? (Mt 27:46)” (p. 148).

“Agora, tivera lugar a ressurreição. A primeira coisa que Cristo tinha a fazer, era aparecer na presença do Pai e ouvir-Lhe as bem-aventuradas palavras de que Sua morte não fora em vão, mas aceito estava amplamente o sacrifício. Cumpria-Lhe, assim, ascender ao céu e, em presença do universo, ouvir do próprio Pai palavras de certeza; então, devia volver à Terra aos que ainda Lhe pranteavam a morte, ignorando Sua ressurreição, e a eles mostrar-Se abertamente. Assim o fez” (p. 149).

Na versão inglesa do livro ainda há um trecho onde Andreasen (1947) descreve a cerimônia de inauguração, citando Ellen White:

“Será lembrado que na inauguração de Arão como sumo sacerdote ‘tomou Moisés também do azeite da unção, e do sangue que estava sobre o altar, e o espargiu sobre Arão e sobre as suas vestes, e sobre os seus filhos, e sobre as vestes de seus filhos com ele; e santificou a Arão e as suas vestes, e seus filhos, e as vestes de seus filhos com ele’ (Lv 8:30). A este respeito, pondere a seguinte declaração: ‘Ainda carregando humanidade, Ele ascendeu ao céu, triunfante e vitorioso. Ele levou o sangue da expiação ao santíssimo, aspergiu sobre o propiciatório e Suas próprias vestes e abençoou o povo. Em breve, Ele aparecerá pela segunda vez para declarar que não há mais sacrifício pelo pecado’ (Ellen G. White, Signs of the Times, 19 de abril de 1905).

“Assim como as vestes de Arão foram aspergidas por ocasião da dedicação do santuário, Cristo aspergiu Suas próprias vestes e o propiciatório. Ele dedicou a Si mesmo e o santuário à obra da redenção. Ele havia sido oficialmente instalado no cargo. Ele estava sentado à direita de Deus e investido de todo o poder. Seu sangue foi derramado, mas ainda não foi ministrado. Seu primeiro ato oficial como sumo sacerdote foi aspergir o sangue em Suas próprias vestes e na dispersão da misericórdia, dedicando a Si mesmo e ao santuário celestial. Assim como Arão, depois de ser aspergido com sangue, começou sua obra no primeiro compartimento do santuário (Lv 9:23), o mesmo fez Cristo. A partir deste estudo, torna-se claro que na ascensão de Cristo ao céu ocorreu uma inauguração.”

Ou seja, Daniel Silveira está contra a Bíblia, contra Ellen White e contra Andreasen. É um combo.

Sendo mais claro: a inauguração do tabernáculo e da aliança não foi efetuada por Arão, mas por Moisés. Portanto, não é estranho Jesus ser comparado a Moisés na inauguração do santuário celestial. A quem Ele seria comparado, se não a Moisés?

Em Hebreus, Moisés é um tipo de Jesus (3:1-6; 9:15-24). Moisés atuou como rei e como sacerdote, inaugurando a aliança, e inaugurando o santuário. Moisés entrou no Santíssimo como parte dos ritos de inauguração (Ex 26:33; 40:1-9; Lv 8:10-12; Nm 7:1). Em Salmo 99:6, Moisés é colocado “entre os sacerdotes”, ao lado de Arão.

(Pastor Isaac Malheiros é professor no Instituto Adventista Paranaense) via (Michelson Borges)