COMENTÁRIO DA LIÇÃO 8 – CONFIANDO NA BONDADE DE DEUS (HABACUQUE)


COMENTÁRIO DA LIÇÃO 8  – CONFIANDO NA BONDADE DE DEUS (HABACUQUE)

SÁBADO – INTRODUÇÃO (Habacuque 1:1-17)

“A Terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2:14).

O livro de Habacuque é difícil de ser datado, mas, algumas inferências aos Caldeus (1:6) nos faz deduzir que, provavelmente, Habacuque tenha profetizado em algum momento próximo à destruição de Nínive em 612 a.C., no entanto, há aqueles que creditam em sua narrativa para um período mais próximo de 605 a.C., quando começou a reinar em Babilônia Nabucodonosor. Habacuque não tinha uma identidade certa, mas, sua personalidade é claramente revelada. Um homem profundamente temente e sincero para com Deus, sinceridade esta ao ponto de levar o profeta a não hesitar em cobrar de Deus as promessas que fizera.  Esta cobrança não diminui a fé de Habacuque, pois, ele demonstra ter profunda consciência do poder do Criador (3:16), e também conhecimento do interesse e cuidado de Deus por ele (3:17,18). Este livro nos ensina uma lição muito poderosa e preciosa, que, questionar a Deus, ou, cobrá-Lo por determinadas promessas não é inaceitável e nem falta de confiança, mas, a exemplo de Jacó, significa viver uma vida perseverante de lutas com Deus. 

A grande realidade é que, momentos difíceis na vida podem gerar diversas aflições que tendem a colocar em risco nossa própria fé, e, é justamente para não perder a fé que alguns filhos de Deus cobram e questionam a Deus por Seus cuidados prometidos. A exemplo de Jó, o interessante é que Deus não condenou Habacuque por tal comportamento. Em nossos dias, assim como Habacuque,  esperamos as respostas de Deus para nossas súplicas, e, muitas das vezes até lutamos perseverantemente por elas. O que não podemos é permitir que as perplexidades da vida assolem e abalem nossa confiança a ponto de não termos fé suficiente nem mesmo para lutar e cobrar do Onipotente suas promessas. Lutar com o Deus invisível também significa colocar a fé em prática.

DOMINGO – PROFETA PERPLEXO (Habacuque 1)

Observando os demais profetas, percebemos uma notável diferença em Habacuque, pois, enquanto os demais levam mensagens de Deus ao povo, Habacuque se dirige a Deus com duas surpreendentes perguntas; sendo a primeira (1:2-4): Por que os perversos não são punidos?

Nesta ocasião, Deus quebra o Seu silêncio e oferece ao profeta uma notável resposta de juízo aos perversos (1:5-11). O pedido por Habacuque por justiça encontra-se com a tenebrosa resposta de Deus de condenação e juízo contra Judá mediante o braço forte da Babilônia. Deus permitiria que os Caldeus oprimissem os rebeldes de Judá em consequência das práticas da injustiça e rebelião contra o Onipotente. Os Babilônicos eram um dos impérios mais temidos naquele tempo, pois, seus exércitos eram implacáveis em suas conquistas dizimando vidas e oprimindo severamente seus escravos. Interessante observar que, um dia, Babilônia espiritual será implacável em suas perseguições contra o povo de Deus, no entanto, assim como Deus esteve presente com Seu povo fiel do passado, Ele também estará com Seu povo do presente em meio ao conflito final. A opressão e juízo recairão sobre os impenitentes do mundo, mas, de maneira especial contra os impenitentes que vivem sob a faixada da religião. 

Aqueles que, como os povos em Judá, viveram de maneira inconsequente e irresponsável diante de Deus serão sofreram a pena da transgressão. A injustiça reina no mundo, mas também vive na vida de muitos que professam viver a verdade, e, por conta de uma conduta com oportunidades espirituais desperdiçadas, irão de encontro as mais estranhas consequências de sua rebeldia. Como bem expressou A.W. Tozer “Santos sem santidade são a tragédia do cristianismo”, e Saramago ao ser questionado com uma pergunta capciosa, “Como podem homens sem Deus serem bons?”, sua resposta foi contundente ao afirmar: “Como podem homens com Deus serem tão maus?” Mas, embora pareça que Deus esteja em profundo silêncio diante de tantas coisas estranhas acontecendo pelo cristianismo ao nosso redor, chegará o momento em que Ele quebrará o Seu silêncio para julgar cada um segundo a suas obras, e este juízo começará exatamente pela casa de Deus, pelos anciãos e pelos pastores (Ez 9:5-6).

SEGUNDA – VIVENDO PELA FÉ (Habacuque 2:2-4)

A fé que o profeta tem em Deus não pode ser questionada, pois, mesmo ele sendo tão incisivo em cobrar de Deus uma resposta, Deus o responde por compreender que seus questionamento eram razoável. Não vemos em nenhuma narrativa do livro o Onipotente corrigindo ou advertindo Habacuque. No entanto, a resposta de Deus não se materializa apenas para consolar o profeta, mas, também todos os justos sofredores de seu tempo. As boas novas de libertação e restauração deveriam ser tão bem anunciadas que, qualquer um que ali passasse, pudesse ter acesso a ela. “O justo viverá pela fé” demonstra claramente até onde os justos estão dispostos irem para permanecer fieis a Deus, mesmo à custa de muito sofrimento e opressão. 

Em nossos dias esta expressão deve encontrar guarida na vida dos justos com mais intensidade, pois, a opressão, dificuldades, injustiças e a maldade de uma geração sem Deus têm estado tão próximas dos que pretendem viver ao lado da verdade a ponto de condicionar muitos a desistência e derrotas espirituais. Somente o justo é que realmente ficará em pé diante de tanta adversidade. A igreja em nossos dias é como um ônibus onde pessoas entram e saem a todo o momento, ou seja, são poucos os que permanecem firmes. A grande realidade é que, por estarmos justamente às portas do fim, Satanás não poupará esforços para destruir a fé dos justos. Outro fato importante tem haver com as investidas de Babilônia no passado contra Jerusalém, pois elas podem significar um pré-anúncio do que ocorrerá no futuro com os justos. Observe:

1º INVESTIDA

(Passado) - Em 605, Babilônia invade Judá e promove um assalto cultural religioso.
(Futuro) - Babilônia espiritual promoverá investidas contra a verdade estabelecendo diversas campanhas a favor de suas heresias influenciando o mundo inteiro (Apocalipse 16:13 e 14). O domingo é tratado e propagado como um dia memorável à família. Já que é favor da família, qualquer um que se oponha, seria como se estivesse se opondo à família. As dificuldades para se guardar o sábado hoje, remonta claramente o princípio do exílio que Babilônia espiritual pretende impor sobre o mundo dificultando a vida dos justos. Não é atoa que o domingo se tornou o dia memorável de descanso em todo o planeta. Este foi um trabalho desenvolvido em longo prazo. Por conta da opressão com estudos e trabalhos no Sábado, muitos desistem no meio do caminho.

2º INVESTIDA

(Passado) - Em 597, Babilônia invade novamente Judá, promovendo um assalto para impor sua autoridade e domínio.
(Futuro) - Babilônia espiritual promoverá seu domínio através da imposição definitivamente do "chamado sinal da besta" (Apocalipse 13:15-18; Sofonias 2:1).

3º INVESTIDA

(Passado) - Em 586, Babilônia invade novamente Judá, promovendo um assalto de destruição.
(Futuro) - Babilônia espiritual, promoverá um decreto de morte a todos os que não aceitarem o seu sinal em detrimento do sinal de Deus (Apocalipse 13:15; contrastar com Ezequiel 20:12 e 20). Como muitos não caíram com as opressões das primeiras investidas, Satanás, de uma vez por todas, resolve destruir os cristãos teimosos que insistem com a ideia fixa de obedecer a Deus a qualquer custo. Este grupo nós o chamamos de, genuinamente, “os que viverão pela fé”.

A mensagem de Habacuque quanto à resposta de Deus mostra de maneira absoluta que as esperanças dos justos não estão neles, mas, em Deus. Somente os que perseverarem até o fim serão guardados da provação final (Ap 3:10). Deus mesmo será o seu escudo e socorro bem presente da tribulação (Sl 46:1). A fé em Jesus é o alicerce de toda e qualquer esperança. Nada mais pode escudar-nos da tribulação espiritual, física ou da perdição eterna. Esta foi a esperança para os justos de Judá, e esta será a esperança para os justos de nosso tempo.

 TERÇA – A TERRA SE ENCHERÁ – (Habacuque 2).

Surpreendente a declaração de Habacuque no verso 2: “O Senhor me respondeu [..}”. No verso 3 o profeta foi enfático ao afirmar que na resposta que Deus dera em visão o juízo divino cumprir-se-á no tempo determinado e se apressa para o fim sem falhar. Mesmo que atrase, o juízo de Deus será certo. Depois, em sequência, Habacuque apresenta os 5 ais divinos, ou seja, o juízo e condenação. Na estrutura dos ais, percebemos que: Primeiro, houve a menção dos pecados; depois, o anúncio do castigo; por fim, a indicação da causa do juízo divino (Conferir. Is 5:8-23; 10:1; 28:1; Am 5:7,18; 6:1. Conferir também Lc 6:24-26).

Observe mais atentamente o pronunciamento dos ais:

Do tempo de Habacuque:

1º “ai” (2:6-8) – Contra os que acumulam do que não lhes pertence por direito. Uma clara advertência aos que ganham de maneira desonesta. Através do roubo, apropriações indevidas, e outras práticas de subornos e corrupção.

2º “ai” (2:9-11) – Contra os que lucram através da prática da injustiça e da perversidade. Os prédios e casas adquiridos de maneira desleal servirão de testemunho contra estas pessoas.

3º “ai” (2:12-14) – Contra os que edificam as cidades com sangue e iniquidade com o objetivo de assegurar definitivamente a posse das terras. Contemporâneo de Habacuque, o profeta Jeremias utiliza as mesmas palavras de juízo (Jr 51:58) contra os que maquinam contra as leis naturais, morais e contra a própria vida para chegar a tais objetivos.

4º “ai” (2:15-17) – Contra os que dão a beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor, e que o embebeda para lhe contemplar a vergonha. Os ímpios não apenas se envolveram em perversidades, mas, influenciaria outros a fazerem o mesmo para lhes tirar proveitos de sua falta de decência, mediante a corrupção e engano.

5º “ai” (2:19-20) – Contra os idolatras. Insinuado neste ai estão as práticas idólatras que havia se tornado comum entre os ímpios de Judá.

Para o tempo final:

Os “ais” divinos recaíram sobre Judá trazendo ruína, destruição e escravidão, e, de maneira especial, em nossos dias, os mesmos “ais” são pronunciados contra todos os que cometem as mesmas práticas. Em outras palavras, a menor das transgressões ou a injustiça em seu menor ato, não estarão isentos do juízo de Deus. A menor de todas as práticas de perversidade estão claramente visíveis na lupa dAquele que se assenta no trono para julgar. Todas as coisas passarão em revista perante Deus e absolutamente nada se perderá. Embora possamos esconder algo dos homens, jamais seremos capazes de esconder algo dos olhos de Deus. Ellen White afirma que “Deus permite que os ímpios prosperem e revelem inimizade para com Ele, a fim de que, quando encherem a medida de sua iniquidade, todos possam, em sua completa destruição, ver a justiça e misericórdia divinas. Apressa-se o dia de Sua vingança, no qual todos os que transgrediram a lei divina e oprimiram o povo de Deus receberão a justa recompensa de suas ações; em que todo ato de crueldade para com os fiéis será punido como se fosse feito ao próprio Cristo”. (O Grande Conflito, p. 48).

QUARTA – LEMBRANDO A GLÓRIA DIVINA (Habacuque 3)

O capítulo 3 é o encerramento deste pequeno livro e apresenta uma conclusão em formato de oração, assumindo a glória de Deus por quem Ele é (2, 3b, 4), e por suas ações (3a, 5-15). O profeta menciona os grandiosos atos de Deus no Êxodo em sua poderosa ação no monte Sinai, além da gloriosa conquista da terra prometida. Seu poder contra os majestosos exércitos inimigos inspira grande espanto e admiração. No entanto, embora terrível em Seus juízos, Ele também é tremendamente poderoso em amor, misericórdia, compaixão e proteção. Habacuque unifica os dois lados de Deus que parecem ser antagônicos, e, como Moisés, estabelece intercessão por Israel solicitando que Deus se lembre de seus feitos de misericórdia do passado para serem também aplicados no presente.

Como Habacuque, devemos evocar o juízo de Deus sobre a impiedade, mas, ao mesmo tempo, clamar por Sua misericórdia. A glória divina não deve ser apenas lembrada pelas máximas dos “ais” de Deus, mas, especialmente pelas máximas do Seu amor, bondade e misericórdia. Isto não significa que os pecadores rebeldes e desobedientes devam ser tratados da mesma maneira em que os pecadores arrependidos, convertidos e perdoados. Na verdade, o clamor de Habacuque entoa o clamor semelhante ao de Abraão quando demonstrou preocupação com os arrependidos de Sodoma. O salmo de Habacuque estabelece uma ponte entre a misericórdia de deus e os pecadores de Judá arrependidos. Esta mensagem do profeta não compreende apenas a mensagem de seu livro, mas, na sua amplitude, de todo o evangelho.

QUINTA E SEXTA – DEUS É NOSSA FORÇA (Habacuque 3:17-19)

Habacuque termina o livro demonstrando profunda confiança em Deus, tanto em Seu poder de juízo, quanto em Seu poder de misericórdia. Ele compreende perfeitamente que sua fé pode e deve ser depositada em Deus por conta de Sua capacidade de cumprir com exatidão suas promessas, que, uma vez feitas, certamente irão de encontro ao cumprimento. Como profeta e como conhecedor do caráter divino, não podia encerrar de outra forma, demonstrando coragem e confiança na atitude de Deus quanto aos incrédulos e quanto aos arrependidos. Esta confiança nos estimula a cultivar fé em Deus de maneira tão profunda que, mesmo em meios as piores tribulações, ainda sejamos capazes de repousar tranquilamente. A revelação declara que ‘em meio a tempestade do juízo, os filhos de Deus não terão motivos para receios”. ‘O Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel’. (Jl 3:16). O dia que traz terror e destruição aos transgressores da lei de Deus, trará aos obedientes ‘gozo inefável e glorioso’ (1Pe 1:8). ‘Congregai os Meus santos’, diz o Senhor, ‘aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios. E os céus anunciarão a Sua justiça; pois Deus mesmo é o Juiz’” (Sl 50:5, 6; Patriarcas e Profetas, p. 341).

Gilberto G. Theiss é formado em teologia pelo Seminário Adventista do IAENE, Especialização em filosofia pela UCM, Extensão em arqueologia pela UEPB, e, leitura e interpretação pela UNISEB. No momento coordena o centro de capacitação teológica Alto Clamor, e exerce a função integral de pastor distrital na cidade de Itapajé-Ce.