Editoração: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
“O que está relatado em Gênesis nunca existiu.” Essa foi a declaração do professor de História Antiga, na graduação que iniciei em 2006. Para ele, tudo foi obra do acaso e não somos nada mais que poeira cósmica. O pensamento do professor, de que o livro de Gênesis contém informações inverídicas sobre a origem da humanidade, é fundamentado na premissa evolucionista. Essa premissa, do surgimento da humanidade sem a atuação de Deus, dominou a academia, a mídia, a indústria do entretenimento e, consequentemente, a arte e a cultura.
Embora o ensino da criação literal não seja um problema para os adventistas do sétimo dia, há uma porção significativa de pessoas ao redor do próprio cristianismo cedendo às pressões dos defensores do conceito de um relato evolucionista em Gênesis – o que é chamado de “evolucionismo teísta”. Nesse caso, seria a tentativa de validar a criação, porém sob a ótica da evolução. Se essa premissa estivesse correta, teríamos problemas significativos na teologia bíblica, que fragilizariam não apenas o relato da criação em Gênesis, mas toda a Escritura Sagrada. Esse problema, embora sutil, se tornaria devastador. Por quê?
1. Porque os três primeiros capítulos de Gênesis são fundamentais para a compreensão do restante das Escrituras;
2. Porque os principais ensinamentos ou doutrinas da Bíblia têm sua fonte nesses capítulos;
3. Porque neles encontramos a natureza da Divindade, que trabalha em harmonia como Pai, Filho (Jo 1:1-3; Hb 1:1, 2) e Espírito Santo (Gn 1:2; Jó 33:4), para criar o mundo e tudo o que nele há, culminando na obra-prima da criação – a humanidade (Gn 1:26-28).
Evolução x criação
A evolução darwiniana é contraditória às Escrituras em todos os aspectos, e a tentativa de alguns em harmonizá-la com a Bíblia constrói rotas capazes de levá-los diretamente ao ceticismo e à morte da razão e da fé. Por exemplo:
a) Deus criou tudo perfeito. Porém, para a evolução, nunca houve perfeição, apenas caos formado por gás, poeira, água e relâmpagos;
b) Não havia morte antes do pecado. Porém, para a evolução, a morte parece fazer parte da vida e contribui no processo de seleção natural;
c) O pecado passou a existir com a transgressão no Éden. Porém, para a evolução, não há pecado, apenas imperfeições derivadas do caos natural. Nesse caso, moralidade, certo ou errado não passariam de construções sociais ou culturais;
d) Gênesis é literal. Porém, para os evolucionistas, o livro não passa de um mito religioso ou simbólico;
e) O sofrimento e a morte são resultados do pecado e do afastamento de Deus. Porém, para a evolução, não passam de desordem natural de uma natureza em processo evolutivo;
f) Deus promete uma vida nova e redenção eterna. Porém, para a evolução, a vida eterna poderá ser realidade somente através do avanço tecnológico ou por evolução natural;
g) Temos valor e somos importantes para Deus. Porém, para a evolução, não somos mais importantes do que um animal, um protozoário ou uma poeira cósmica.
Como vimos, a evolução é incompatível com a Bíblia. A tentativa de unificação entre o Gênesis e a evolução traria resultados catastróficos. Nesse caso, ainda poderíamos perceber que:
1. O sábado e a família não teriam nenhum valor moral;
2. Por estabelecer a seleção natural, Deus não seria um Deus de amor;
3. O bem, o mal e o pecado seriam conceitos relativos;
4. Adão e Eva, assim como o Éden, seriam mitológicos;
5. A ideia de salvação através de Cristo seria dispensada;
6. A promessa de “novos céus e nova Terra” não mais teria nenhum sentido.
Dentre todos os problemas, os mais agravantes seriam estes:
I. Em um sistema de evolução teísta, a seleção natural revelaria Deus como tirano e não como Pai de amor;
II. Jesus seria um mito ou um farsante com promessas mentirosas;
III. Doutrinas como o matrimônio, o sábado, a salvação e a escatologia seriam meras construções religiosas. Nesse caso, nenhum movimento religioso seria tão afetado quanto a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Evidências da literalidade de Gênesis
Depois de observar a incompatibilidade entre a Bíblia e a evolução, é importante perceber as evidências da literalidade do livro de Gênesis. Compreender esse assunto é vital para a conservação dos valores, doutrinas e princípios das Escrituras. Vejamos, portanto, algumas notas importantes que ajudam a assimilar melhor esse tema:
A. Tarde e manhã, em Gênesis 1, revelam um dia comum astronômico;
B. Argumentos léxicos, semânticos, exegéticos, gramaticais e contextuais descrevem literalidade na narrativa de Gênesis. Por exemplo, a expressão “houve tarde e manhã”, precedida de “dia” (yõm), numeral, indica dia literal.
C. A composição hebraica, conforme relatado em Daniel 8:14, apresenta um dia literal. Nunca houve dúvidas na literatura hebraica quanto a esse posicionamento;
D. O quarto mandamento (Êx 20:8-11) reporta à semana da criação evidenciando sua literalidade;
E. Jesus e os apóstolos narraram de forma literal os eventos do conflito no Éden e a existência de Adão (Mt 19:4, 8; Mc 10:6; Lc 3:38; Rm 5:14; 1Co 15:22, 45; 1Tm 2:13-14; Jd 14; 2Pe 3:4);
F. Os dias atuais, com o nosso ciclo semanal, são evidências da descrição de Gênesis; um dia composto por tarde e manhã e uma semana constituída por sete dias.
Portanto, do ponto de vista bíblico/teológico, é inconcebível uma semana de criação simbólica. Os profetas e o próprio Jesus sempre discursaram sobre a criação apresentando-a como um fenômeno literal.
A imagem do Criador
O texto de Gênesis 1:27 é uma nota clássica no entendimento da origem, caráter e função do ser humano. A relevância dessa verdade pode ser notada em três aspectos:
1. A tríplice repetição do verbo “criar” (bara) deve ser observada como uma negação significativa das teorias da evolução moderna quanto à descendência do homem, sendo uma proclamação enfática de sua origem divina.
2. O homem, além de ser uma criação divina, foi criado com o objetivo de refletir a imagem e semelhança Desse Agente Criador.
3. Embora o substantivo “homem” (adam) apareça no singular, o contexto final do verso indica que tanto “homem” (zakar/macho) quanto “mulher” (nêqebah/fêmea) receberam de Deus Sua “imagem e semelhança”. Isso sugere que a mulher (fêmea) é tratada na “origem” como possuindo os mesmos atributos do homem (macho). Mas quais seriam esses atributos da imagem e semelhança divinas?
A imagem de Deus não é descrita como sendo concedida por prestação; em vez disso, é doada de forma imediata e inerente ao ser humano masculino e ao feminino. Embora os portadores da imagem divina tenham sido criados para exercer funções distintas, no cumprimento do mandato divino de administrar a Terra, não há distinção de status entre eles. Diversos reformadores não possuíam dúvidas a esse respeito. Lutero, por exemplo, via uma sugestão “de que a mulher também foi criada por Deus” para se tornar “participante da mesma imagem divina e do domínio sobre tudo”. Mas o que seria exatamente ter a imagem e semelhança de Deus? Ellen White considerou que “o pecado tem quase obliterado a imagem moral de Deus nos seres humanos”. Entretanto, no exemplo de Cristo, teríamos condições de assimilar o “belo e imaculado caráter” de Cristo. Copiando tal exemplo, ela afirma que “traremos para o nosso caráter a Sua amabilidade e beleza”. Assim, o amor de Deus, que é o Seu caráter, perdido no Éden, será conquistado de volta.
Outra verdade imprescindível é que, tendo sido feito à imagem de Deus, o ser humano adquiriu a capacidade de se parecer com Deus no aspecto moral, especialmente no que diz respeito a agir e tomar decisões de forma livre e inteligente, seguindo o imperativo do bem. Embora os primeiros seres humanos tenham sido criados com uma natureza com propensões naturais para o bem, eles usaram a liberdade para fazer a má escolha (Ec 7:29). Dessa maneira, Adão maculou a imagem de Deus em si e passou a todos os seus descendentes essa semelhança danificada (Rm 5:12). Hoje, mesmo que palidamente, ainda trazemos a imagem de Deus (Tg 3:9), mas também trazemos as cicatrizes do pecado que podem ser observadas no aspecto físico, mental e moral.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Gilberto Theiss é pastor, casado com Patrícia Vilela. Tem atuado por 9 anos como pastor distrital. Atualmente pastoreia o distrito Central de Fortaleza-CE. É graduado em Teologia e Filosofia. Pós-Graduado (especialista) em Ensino de Filosofia, Ciências da Religião, História e Antropologia, e Revisão Prática de Texto. Mestrando em Interpretação Bíblica e Pós-Graduando em História e Arqueologia do Oriente Próximo. Nas horas vagas, aprecia levar conteúdo bíblico para as redes sociais como o instagram @gilbertotheiss, o blog www.feoufideismo.com e o canal www.youtube.com/feoufideismo
PODCAST
https://spoti.fi/3cCQtLH
FFcast#ES01 - Este é o podcast da primeira lição da Escola Sabatina deste novo trimestre feito pelo Pr. Gilberto Theiss. Ouça e compartilhe. Tema: O que aconteceu? A origem da humanidade.
Este comentário, por escrito, pode ser baixado direto do site da CPB. O comentarista da lição para a CPB deste trimestre é o Pr. Gilberto Theiss.
https://mais.cpb.com.br/licao/o-que-aconteceu/