Por Gilberto G. Theiss [1]
(Power Point deste artigo aqui)
Mesmo antes da publicação
do Desejado de Todas as Nações, e da influência das visões de Ellen White,
houve entre alguns pioneiros, um progressivo entendimento deste tema que
culminou em declarações extra-oficiais da crença da Igreja Adventista na
Divindade e Eternidade do Filho junto com o Pai e da natureza pessoal e divina
do Espírito Santo. E será exatamente isto que veremos a seguir.
A desmistificação da
palavra Trindade começa neste período com nenhuma contrariedade dos principais
pioneiros da igreja. É importante lembrar que, nos períodos entre 1846 e 1888,
a maioria dos adventistas haviam rejeitado o conceito da Trindade [4], e
apresentavam diversas divergências quanto a natureza da pessoa de Cristo, Sua
igualdade com o Pai e sua co-eternidade. Uns acreditavam que Jesus era
essencialmente Deus, porém
inferior ao Pai, enquanto que outros acreditavam que, em algum momento, na
eternidade, o Filho teria vindo à existência.
Analisaremos a partir de
aqui, algumas importantes considerações de alguns renomados pioneiros do
movimento, que nos darão a compreensão de que suas descrenças na divindade e
eternidade de Jesus não suportaram o tempo e a luz posterior que Deus lhes
daria através de diligente estudo. A progressiva compreensão poderá ser notada
nestas citações:
Uriah Smith – 1881 (Depois)
- “Mas a linguagem não implica necessariamente que ele foi
criado [...] ele próprio veio à existência de uma forma diferente.” [11] Ao
comentar a frase, “O princípio da criação” de Apocalipse 3:14.
Este argumento pode ser uma
referência plausível do desenvolvimento progressivo e teológico para os
pioneiros do movimento,
e especialmente para Smith, pelo fato dele devotar grande
confiança no ministério profético de Ellen White para a igreja remanescente.
De qualquer forma, temos
uma citação de 1896 onde Smith admitia louvar o Espírito Santo, pois estava
equiparado ao Pai e ao Filho em Mateus 28:19 [14].
Em 1903 Smith reconheceu
três seres ou três agentes para a nossa salvação [15].
Um ano mais tarde, em 1877,
James White declara abertamente sua crença na igualdade do Filho para com o
Pai, e ainda condenou qualquer ensinamento que faça Cristo inferior para com o
Pai”. [19]
Lee S. Wheeler, observou,
citando Efésios 4:4-5: “É digno de nota que nesta como em muitas outras partes
da Escritura, o Espírito como sendo um é mencionado como distinto do Pai e do
Filho.” [23]
D. Hildereth escreveu:
“Tire o Espírito Santo da Bíblia e ‘nada’ que reste é digno de ser falado.” [24]
Joseph Clark defendeu o
Espírito Santo como uma realidade em si mesmo, e um agente de Deus .[25]
P. Bollman escreveu: “O
Espírito Santo é divino e Criador de todas as coisas”. [26]
A.J. Morton declarou: “A
divindade do Espírito Santo, de Cristo e a do Pai e Cristo não pode ser
separada”. [27]
Alonzo T. Jones foi editor
da Reviewand Herald por muitos anos. Em sermão na Sessão da Conferência Geral
de 27 de fevereiro de 1895 defendeu que “O Espírito Santo é um representante
pessoal de Deus”. Também, que há uma unidade do Espírito Santo com o Pai e o
Filho. [28]
Stephen N. Haskel, no
artigo “O Espírito Santo” declara que a relação entre o Pai, Filho e Espírito
Santo é um mistério. [29]
G.C Tenny, que em 1883
usara “it” (“Isto”, em inglês, normalmente usado para coisas) para o Espírito
Santo declarou em 1896 que o Espírito Santo era inteligente, tinha existência independente e passou a suar o pronome
pessoal “he” (“ele”, normalmente para pessoas). [30]
S.M.I.Henry, escritor
denominacional declarou em 1898 que: “Os pronomes usados em conexão com o
Espírito devem levar-nos a concluir que ele é uma pessoa – uma
personalidade...”. [31]
R.A Underwood, que havia
sido antitrinitariano a princípio, expõe, segundo ele mesmo declara, a sua
mudança de compreensão, a partir do estudo da Bíblia.
Na revista Review de 3
demaior de 1898 ele diz que o Espírito é uma pessoa e que não deveríamos
permitir que Satanás destruísse nossa fé “na personalidade dessa pessoa da
Divindade – o Espírito Santo.”
Em relação à sua opinião
anterior Underwood declarou:
“Mas nós queremos a verdade
porque ela é a verdade, e nós rejeitamos o erro porque é o erro, apesar de
qualquer ponto de vista que nós possamos anteriormente ter sustentado ou
qualquer dificuldade que nós possamos ter tido ou possamos ter agora quando nós
vemos o Espírito Santo como uma pessoa”. [32]
Com o passar do tempo, assim como outras doutrinas que foram
incorporando ao quadro de crenças adventista, a trindade foi superando as
discussões contrárias, conquistando gradativamente espaço cognitivo entre os
principais pioneiros da igreja. As visões reveladoras
dadas a Ellen White sobre a Divindade de Cristo e do Espírito Santo, tendo como
marco a publicação do livro “O Desejado de Todas as Nações”, teve um impacto
importante para a fundamentação da crença no ano de 1898, que consequentemente levou
a igreja a se posicionar definitivamente no ano de 1931, onde expressou total
aceitação a esta doutrina. Muitos líderes e membros que viviam neste ano, foram
membros atuantes no período de Ellen White e mantiveram sua crença assim como
nos anos anteriores - a favor da Trindade. Portanto, em torno de 1900 a igreja
já desfrutava de consenso sobre o tema conforme os testemunhos da época
evidenciam clarificadamente. [33]
[1] Bacharel em Teologia pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (IAENE), e pastor na ACN. Ver Currículo Lattes de Gilberto Theiss.
[2] SHWARZ, Richard W. e GREENLEAF, Floyd, Portadores de luz, p. 161
[3] WHIDDEN, Woodrow, MOON, Jerry e REEVE, John
W. A Trindade, p. 223
[4] Ibdem, p. 217.
Ver também: MOON, Jerry. O debate adventista sobre a Trindade, Parousia ano 4,
nº 2, p. 21.
[5] W. W.
Prescott, educador e administrador. Em 1885 tornou-se diretor do Battle Creek College
e foi, durante algum tempo (1891-1892), simultaneamente, diretor de dois outros
colégios – Unio e WallaWalla. Ajudou a fundar o que hoje se conhece na
Austrália como Avondale College. Posteriormente trabalhou como erudito e
administrador, exerceu grande influência sobre a obra educacional mundial da
denominação. Nascido em 1855 e falecido em 1944. DOUGLAS, Herbert E. A
mensageira do Senhor, p. 250.
[6] PRESCOTT, W. W. Review and Herald, 14 de
Abril de 1896.
[7] Ibdem, p. 62,
1919
[8] Uriah Smith.
Pastor, escritor e redator. Tornou-se adventista observador do sábado em 1852,
unindo-se no ano seguinte à equipe da Review. Desde aquele tempo até sua morte,
seu nome apareceu no expediente da revista, a maior parte das vezes como
editor. Foi o primeiro instrutor bíblico do Battle Creek College e secretário
da Associação Geral. Escreveu alguns livros, dos quais o mais conhecido é
Thought son Daniel and the Revelation. Nascido em 1832 e falecido em 1903.
DOUGLAS, Herbert E. A mensageira do Senhor, p. 251.
[9] SMITH, Uriah. Thoughts Critical and
Patriarcal, on the Book of Revelation p. 59
[10] Ibdem
[11] Ibdem, p. 74
[12] WHITE, Ellen G..
O Desejado de Todas as Nações, p. 530
[13] Ibdem, p. 761.
[14] SMITH, U. In the Question chair, Adventist
Review and Sabbath Herald, doravante Review, 27/10/1896.
[15] SMITH, u.The Spirit of Profhecy.General
ConferenceBulletin, 14 de março de 1903.
[16] Tiago [James] Springer White. Um dos três
co-fundadores da igreja Adventista do Sétimo dia, sendo os outros dois sua
esposa Ellen e amigo José Bates. Foi professor durante dois anos, amas logo que
completou 21 anos de idade uniu-se ao movimento milerita e, empunhando um
diagrama, começou a pregar. Relata-se que, durante os meses de inverno de
1842-1843, Tiago levou mais de 1000 pessoas a Cristo. Depois do desapontamento
de 22 de outubro de 1844, associou-se a outros Cristãos no estudo da Bíblia, em
busca de maiores esclarecimentos. Em1846 aceitou a verdade o sábado e, em 1849,
começou a publicar a revista PresentTruth. À medida que crescia o número dos
adventistas guardadores do sábado, ele insistiu para que constituíssem uma
organização. Isso resultou na formação da Associação Geral , em 1863. Tiago
liderou o desenvolvimento da obra editorial, educacional e médica da igreja.
Durante muitos anos foi editor da Review and Herald. Atuou como presidente da
Associação Geral durante três mandatos (1865-1867-1871; 1874-1880). Nascido em
1821 e falecido em 1881. DOUGLAS, Herbert E. A mensageira do Senhor, p. 253.
[17] WHITE, James. The Day Star, Jan. 21
[18] Idem. Review and Herald, 12 de Out. De 1876.
[19] Ibdem, 29 de
Nov. de 1876, p. 72
[20] WAGGONNER, J.H. The Atonement, p. 173
[21] TAYLOR, 1953
[22] DOWNER, N. Review, 6 de abril de 1876
[23] WHEELER, L.S. The Communion of the Holy
Spirit, Review, 21 de abril de 1891, p. 244
[24] HILDERETH, D.
Review, 01 de abril de 1862
[25] CLARK, J.
Review, 10 de março de 1874
[26] BOLLMAN, P. Signes
of the Times, 04 de novembro de 1889.
[27] MORTON, A. J. Signes
of the Times, 26 de outubro de 1891.
[28] JONES, A. T.
General ConferenceBulletin, 27 de fevereiro de 1895.
[29] HASKELL, S. N.
Review, 28 de novembro de 1899.
[30] BOLLMAN, P. TENNY, G. C. Review and Herald, 9
de junho de 1896.
[31] HENRY, S. M. I. The Abindig Spirit, p. 271
[32] UNDERWOOD,
R.A. Review, 3 de maior de 1898.
[33] SILVA,
Demóstenes N. A Trindade, p.124.