Jerry
A. Coyne é professor no Departamento de Ecologia e Evolução na Universidade de Chicago.
Em seu livro Why Evolution is True [Por que a Evolução
é Verdadeira], ele resume assim o darwinismo – a teoria moderna da evolução: “A
vida na Terra evoluiu gradualmente com uma espécie primitiva – talvez uma
molécula autorreplicante – que viveu há mais de 3,5 bilhões de anos; e depois
se ramificou ao longo do tempo, lançando muitas e novas espécies diversas; e o
mecanismo para a maior parte da (mas não toda) mudança evolucionária é a
seleção natural.”[1]
Coyne
explica mais adiante que a evolução “simplesmente significa que uma espécie sofre
mudança genética ao longo do tempo. Isto é, ao longo de muitas gerações, uma
espécie pode evoluir em algo bem diferente, e essas diferenças são baseadas em
mudanças no DNA, que se originam como mutações. As espécies de animais e
plantas vivendo hoje não estavam por aqui no passado, mas descendem daquelas
que viveram muito antes”.[2]
Segundo
Coyne, contudo, “se a evolução significasse somente mudança genética gradual
dentro de uma espécie, hoje nós teríamos somente uma espécie – um único
descendente altamente evoluído da primeira espécie. Mas temos muitas espécies…
Como que essa diversidade surgiu de uma forma ancestral?” Ela surge por causa
da “divisão, ou, mais exatamente, da especiação”, que “simplesmente significa a
evolução de grupos diferentes que não podem cruzar entre si”.[3]
Se
a teoria darwinista fosse verdadeira, “nós deveríamos ser capazes de encontrar
alguns casos de especiação no registro fóssil, com uma linhagem de descendência
se dividindo em duas ou mais. E nós deveríamos ser capazes de encontrar novas
espécies se formando na natureza”. Além disso, “deveríamos ser capazes de
encontrar exemplos de espécies que se conectariam com os principais grupos
suspeitos de terem uma ancestralidade comum, como as aves com os répteis, e os
peixes com os anfíbios”. Finalmente, existem fatos que “fazem sentido somente à
luz da teoria da evolução”, mas não fazem sentido à luz da criação ou do design. Isso inclui “os padrões de
distribuição das espécies sobre a superfície da Terra, as peculiaridades de
como os organismos se desenvolvem de embriões, e a existência de
características vestigiais que não são de nenhum uso aparente”. Coyne conclui
sua introdução com a afirmação ousada de que “toda a evidência – tanto velha quanto
nova – resulta inelutavelmente na conclusão de que a evolução é verdadeira”.[4]
Claro,
a “evolução” é inegavelmente verdadeira se ela simplesmente significar que as
espécies existentes podem mudar de modos pequenos ao longo do tempo, ou que
muitas espécies vivendo hoje não existiram no passado. Mas a asserção de Darwin
de que todas as espécies são descendentes modificados de um ancestral comum, e
a asserção de Coyne de que as mutações do DNA e a seleção natural produziram essas
modificações, não são assim tão inegavelmente verdadeiras. Coyne devota o resto
do seu livro a fornecer evidências para elas.
Fósseis
Coyne
se volta primeiro para o registro fóssil. “Devemos ser capazes”, ele escreveu,
“de encontrar alguma evidência para a mudança evolucionária no registro fóssil.
As camadas rochosas mais profundas (e mais antigas) conteriam os fósseis de
espécies mais primitivas, e alguns fósseis deveriam se tornar mais complexos à
medida que as camadas rochosas se tornam mais jovens, com os organismos
parecendo as atuais espécies encontradas nas camadas mais recentes. E nós
devemos ser capazes de ver algumas espécies mudando ao longo do tempo, formando
linhagens de ‘descendência com modificação’ (adaptação).” Em particular, “as espécies
posteriores devem ter traços que as tornam parecidas com os descendentes de
espécies mais antigas”.[5]
Em
seu livro A Origem das espécies,
Charles Darwin reconheceu que o registro fóssil apresentava dificuldades para
sua teoria. “Pela teoria da seleção natural”, ele escreveu, “todas as espécies
vivas foram conectadas com as espécies progenitoras de cada gênero, por
diferenças não maiores do que as que nós vemos entre as variedades naturais e
domésticas das mesmas espécies no presente dia.” Assim, no passado, “o número
de elos intermediários e transicionais, entre todas as espécies vivas e
extintas, deve ser inconcebivelmente grande”. Mas Darwin sabia que os
principais grupos de animais – que os biólogos modernos chamam de “filo” –
apareceram plenamente formados no que eram na ocasião as mais antigas rochas
fossilíferas conhecidas, depositados durante um período geológico conhecido
como o Cambriano. Ele considerava isso uma dificuldade “séria” para sua teoria,
pois “se a teoria for verdadeira, é incontestável que antes de o estrato
inferior do Cambriano ser depositado decorreram longos períodos… e que durante
esses vastos períodos o mundo foi enxameado com criaturas vivas”. E quanto “à
pergunta de por que não achamos ricos depósitos fossilíferos pertencentes a
esses períodos tidos como mais antigos anteriores ao sistema Cambriano, eu não
posso dar nenhuma resposta satisfatória”. Desse modo, “o caso no presente
momento deve permanecer inexplicável; e pode ser verdadeiramente levantado como
um argumento válido contra os pontos de vista aqui considerados”.[6]
Darwin
defendeu sua teoria citando a imperfeição do registro geológico. Em particular,
ele argumentou que os fósseis pré-cambrianos teriam sido destruídos pelo calor,
pressão e erosão. Alguns dos seguidores modernos de Darwin têm argumentado
dessa maneira que os fósseis pré-cambrianos existiram, mas foram destruídos
mais tarde, ou que os organismos pré-cambrianos eram pequenos demais ou moles
demais para serem fossilizados em primeiro lugar. Todavia, desde 1859, os
paleontólogos têm descoberto muitos fósseis pré-cambrianos, muitos deles
microscópicos ou de corpo mole. Como o paleontólogo Americano William Schopf
escreveu em 1994, “a noção há muito tempo defendida de que os organismos
pré-cambrianos deveriam ter sido pequenos demais ou delicados demais para terem
sidos preservados em materiais geológicos… [é] agora reconhecida como
incorreta”. Se isso significar alguma coisa, o surgimento abrupto dos
principais filos de animais há cerca de 540 milhões de anos – que os biólogos
modernos chamam de “Explosão Cambriana” ou o “Big Bang da biologia” – é muito mais
bem documentado agora do que no tempo de Darwin. De acordo com o paleontólogo
de Berkeley, James Valentine, e seus colegas, a “explosão é real, ela é grande
demais para ser mascarada por falhas no registro fóssil”. Na verdade, quanto
mais fósseis são descobertos, se torna claro que a explosão cambriana foi
“ainda mais abrupta e extensiva do que antes imaginado”.[7]
E
o que o livro de Coyne tem a dizer sobre isso?
“Cerca
de 600 milhões de anos atrás”, Coyne escreveu, “toda uma gama de organismos
relativamente simples, mas multicelulares, surgiu, inclusive minhocas, medusas
e esponjas. Esses grupos se diversificaram ao longo dos milhões de anos
seguintes, com as plantas terrestres e os tetrápodes (animais de quatro patas,
os mais antigos deles foram os peixes com nadadeiras lobadas) surgindo cerca de
400 milhões de anos atrás.”[8]
Em
outras palavras, o relato de Coyne da história evolucionária salta de 600 para
400 milhões de anos atrás, sem mencionar a explosão cambriana de 540 milhões de
anos. Nesse sentido, o livro de Coyne é como um livro-texto moderno de Biologia
que foi escrito para doutrinar os estudantes na evolução darwinista, em lugar
de lhes fornecer os fatos.
Coyne
prossegue discutindo diversas formas “transicionais”. “Um de nossos melhores
exemplos de uma transição evolucionária”, ele escreveu, é o registro fóssil das
baleias, “pois temos uma série de fósseis cronologicamente ordenada, talvez uma
linhagem de ancestrais e descendentes, mostrando seu movimento da terra para a
água.”[9]
“A
sequência começa”, Coyne escreveu, “com um fóssil recentemente descoberto de um
parente próximo das baleias, um animal do tamanho de um guaxinim chamado
Indohyus. Vivendo há 48 milhões de anos, o Indohyus foi… provavelmente muito
próximo do que parecia o ancestral da baleia.” No parágrafo seguinte, Coyne
escreveu: “O Indohyus não foi o ancestral da baleia, mas quase com certeza foi
seu primo. Mas se recuarmos mais quatro milhões de anos, para 52 milhões de
anos atrás, vemos o que pode muito bem ser aquele ancestral. É um crânio fóssil
de uma criatura do tamanho de um lobo chamada Pakicetus, que se parece muito
mais com uma baleia do que o Indohyus.” Na página que separa esses dois
parágrafos, há uma figura intitulada “Formas transicionais na evolução das
baleias modernas”, que mostra o Indohyus como o primeiro da série e o Pakicetus
como o segundo.[10]
Mas
o Pakicetus – como Coyne acabou de nos dizer – é quatro milhões de anos mais
velho do que o Indohyus. Para um darwinista, isso não importa: Pakicetus é
“muito mais parecido com uma baleia” do que o Indohyus, por isso deve ficar
entre o Indohyus e as baleias modernas, apesar da evidência fóssil.
(Coyne
usa o mesmo truque com os fosseis que, supostamente, são ancestrais das aves
modernas. O Archaeopteryx, o ícone dos livros didáticos, com suas asas com
penas como uma ave moderna, mas dentes e cauda como os de um réptil, é datado
em 145 milhões de anos. Mas o que Coyne chama de “fósseis de dinossauros não
voadores com penas” – que deveriam ter vindo antes do Archaeopteryx – são
milhões de anos mais novos. Como os cientistas darwinistas Kevin Padian e Luis
Chiappe oneze anos antes, Coyne simplesmente reorganiza a evidência para
encaixar a teoria darwinista.)[11]
Chega
da predição de Coyne que “as espécies posteriores deveriam ter características
que as fizessem parecer com os descendentes de espécies anteriores”. E chega
também com o seu argumento de que “se a evolução não fosse verdadeira, os
fósseis não ocorreriam numa ordem que faz sentido em termos evolucionários”.
Ignorando os fatos que ele mesmo acabou de apresentar, Coyne conclui descaradamente:
“Quando encontramos as formas transicionais, elas ocorrem no registro fóssil
exatamente onde deveriam ocorrer.” Se o livro de Coyne fosse feito filme, essa
cena deveria mostrar a frase de Chico Marx: “Em quem você vai acreditar, em mim
ou nos seus próprios olhos?”[12]
Há
outro problema com a série de fósseis de baleia (e com todas as demais séries
de fósseis) que Coyne deixou de abordar: nenhuma espécie na série poderia, possivelmente,
ser o ancestral de qualquer outra, porque todas elas possuem características
que elas primeiro teriam que perder antes de evoluir numa forma subsequente. É
por isso que a literatura científica, tipicamente, mostra cada espécie
ramificando de uma suposta linhagem.
Na
figura abaixo, todas as linhagens são hipotéticas. O diagrama à esquerda é uma
representação da teoria evolucionária: a espécie A é ancestral de B, que é
ancestral de C, que é ancestral de D, que é ancestral de E. Mas o diagrama à direita
é uma representação melhor da evidência: as espécies A, B, C e D não estão na
linhagem real que resulta na espécie E, que permanece desconhecida.
Acontece
que nenhuma série de fósseis pode fornecer evidência para a descendência
darwinista com modificação. Até mesmo no caso de espécies vivas, os restos
enterrados não podem, geralmente, ser usados para estabelecer relações de
ancestrais-descendentes. Imagine encontrar dois esqueletos humanos na mesma
cova, um trinta anos mais velho do que o outro. O indivíduo mais velho era pai
do mais novo? Sem registros genealógicos escritos e marcas de identificação (ou
em alguns casos o DNA), é impossível responder à questão. E nesse caso
estaríamos lidando com dois esqueletos da mesma espécie que estão distantes
apenas uma geração e na mesma localidade. Com fósseis de espécies diferentes
que agora estão extintas, e bem separadas no tempo e no espaço, não há como se
estabelecer que um é o ancestral do outro – não importa quantos fósseis
transicionais encontremos.
Em
1978, Gareth Nelson, do Museu Americano de História Natural, escreveu: “A ideia
que alguém possa ir ao registro fóssil e esperar recuperar empiricamente uma
sequência ancestral-descendente, seja de espécies, gênero, famílias, ou seja o
que for, tem sido, e continua sendo, uma ilusão perniciosa.”[13] Henry Gee,
escritor de ciência da Nature,
escreveu em 1999 que “nenhum fóssil é enterrado com sua certidão de nascimento”.
Quando chamamos novas descobertas de fósseis de “elos perdidos”, é como “se a
corrente de ancestralidade e descendência fosse um objeto real para nossa
contemplação, e não o que realmente é: uma invenção completamente humana criada
após o fato, modelada da acordo com os preconceitos humanos”. Gee concluiu:
“Pegar uma série de fósseis e afirmar que ela representa uma linhagem não é uma
hipótese científica que possa ser testada, mas uma afirmativa que carrega a
mesma validade de uma história para dormir – entretém, talvez até seja
instrutiva, mas não é científica.”[14]
(Dr. Jonathan Wells,
Discovery Institute, 18/5/2009; via Desafiando a Nomenklatura Científica)
Notas:
1. Jerry A. Coyne, Why Evolution Is True (New York: Viking,
2009), p. 3.
2. Coyne, Why Evolution Is True, p. 3, 4.
3. Coyne, Why Evolution Is True, p. 5, 6.
4. Coyne, Why Evolution Is True, p. 18, 19.
5. Coyne, Why Evolution Is True, p. 17-18, 25.
6. Charles Darwin, The Origin of Species, Sixth Edition
(London: John Murray, 1872), Capítulo X, p. 266, 285-288. Disponível online (2009) aqui.
7. J. William Schopf, “The
early evolution of life: solution to Darwin’s dilemma”, Trends in Ecology and Evolution 9 (1994): 375-377. James W.
Valentine, Stanley M. Awramik, Philip W. Signor & M. Sadler, “The
Biological Explosion at the Precambrian-Cambrian Boundary”, Evolutionary Biology 25 (1991): 279-356.
James W. Valentine e Douglas H. Erwin, “Interpreting Great Developmental
Experiments: The Fossil Record”, p. 71-107, in Rudolf A. Raff & Elizabeth
C. Raff (editores), Development as an
Evolutionary Process (New York: Alan R. Liss, 1987). Jeffrey S. Levinton,
“The Big Bang of Animal Evolution”, Scientific
American 267 (novembro 1992): 84-91. “The Scientific Controversy Over the
Cambrian Explosion”, Discovery Institute; disponível online (2009) aqui.
Jonathan Wells, Icons of Evolution (Washington,
DC: Regnery Publishing, 2002), Capítulo 3; mais informação disponível online (2009) aqui. Stephen C. Meyer, “The Cambrian Explosion: Biology’s
Big Bang”, p. 323-402, in John Angus Campbell & Stephen C. Meyer
(editores), Darwinism, Design, and Public
Education (East Lansing, MI: Michigan State University Press, 2003); mais
informação disponível online (2009) aqui.
8. Coyne, Why Evolution Is True, p. 28.
9. Coyne, Why Evolution Is True, p. 48.
10. Coyne, Why Evolution Is True, p. 49-51.
11. Kevin Padian e Luis M.
Chiappe, “The origin and early evolution of birds”, Biological Reviews 73 (1998): 1-42; disponível online (2009) aqui.
Wells, Icons of Evolution, p.
119-122.
12. Coyne, Why Evolution Is True, p. 25, 53. Chico
Marx in “Duck Soup” (Paramount Pictures, 1933); essa e outras citações do irmãos
Marx Brothers estão disponíveis online
(2009) aqui.
13. Gareth Nelson,
“Presentation to the American Museum of Natural History (1969)”, in David M.
Williams & Malte C. Ebach, “The reform of palaeontology and the rise of
biogeography – 25 years after “Ontogeny, phylogeny, palaeontology and the
biogenetic law” (Nelson, 1978)”, Journal
of Biogeography 31 (2004): 685-712.
14. Henry Gee, In Search of Deep Time (New York: Free
Press, 1999), p. 5, 32, 113-117. Jonathan Wells, The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design
(Washington, DC: Regnery Publishing, 2006); mais informação disponível online (2009) aqui.