Nota Gilberto Theiss: Prezados colegas
Embora seja apenas um simples
teólogo, apreciador da filosofia e com interesses diversos nas áreas cognitivas
acadêmicas, com um humilde currículo lattes,
gostaria de ofertar minha singela e moderada contribuição, nesta discussão,
levantando duas questões em consideração:
1ª – Todos, independente de serem
religiosos ou ateus, cientistas ou meros profissionais de áreas comuns,
intelectuais ou analfabetos, evolucionistas ou criacionistas, enfim, todos
temos a leve ou profunda tendência de observar as ideias contrárias como meras
inimigas da razão ou da fé, sejam elas materialistas, metafísicas ou
espiritualistas. Que mundo teríamos se soubéssemos dar espaço aos que pensam de
maneira diferente as nossas? Como seriam as relações humanas se houvesse
altruísmo intelectual e tolerância disciplinar cognitiva? Creio que, no âmago
das discussões, sejam elas dentro de um templo religioso ou de um templo
acadêmico, o chapéu de Voltaire caberia muito bem ao afirmar: “Posso não
concordar com nenhuma de tuas palavras, mas morrerei defendendo o teu direito
de dizê-las”.
No entanto, o que me parece, em
realidade, é que, a intolerância religiosa da idade média ou a intolerância
racionalista, observável de forma latente nos primórdios do iluminismo,
especialmente em algumas entranhas da revolução francesa, estão inseridas e
afloradas em muitas das emoções acadêmicas de nosso tempo. Me lembro bem da
humilhação que passei perante os demais amigos de classe quando, há muitos anos
atrás, em sala de aula, na faculdade de história, indaguei o professor, que era
profundamente evolucionista, sobre uma determinada e possível falha
naturalista. A intolerância à minha pergunta, que resultou à minha pessoa, foi
a única atitude correspondente que obtive naquela noite. Fui ridiculamente
censurado, envergonhado e calado em minha indagação com uma resposta grossa e
desinteligente. Tive a impressão que havia cometido um crime hediondo quando na
verdade estava, como aluno, buscando conhecimento e razões plausíveis para
tirar de debaixo do tapete as minhas dúvidas. Foi naquele dia que percebi que,
não existe diálogo quando Darwin é colocado à prova.
Portanto, é com alegria que afirmo, a intolerância
religiosa, daquela da idade média, por enquanto, parece cochilar, mas,
com tristeza afirmo também que, a intolerância racionalista/naturalista
demonstra estar bem acordada, bem enrijecida/engessada, em nossos dias. Com
certeza a Unicamp perdeu a honra ou privilégio de abrir caminho para o fim da
intolerância provendo abertura para discussões entre pensadores que veem as
origens com propriedades intelectuais, abstratas ou concretas. Perdeu a
oportunidade de permitir, de maneira substancialmente democrática, um diálogo
mais aberto daquilo que seus alunos, querendo ou não, mais cedo ou mais tarde,
se defrontarão no cotidiano. Aceitando ou não, querendo ou não, encontrando ou
não nas pesquisas, a inteligência, ordem sistemática, complexidade irredutível,
beleza magistral, e, não poderia deixar de citar, A VIDA, são claramente
e indesculpavelmente percebíveis em todas as direções.
Por esta razão é que, Antony Flew, um
dos mais nobres filósofos dos últimos 100 anos, que fora por quase toda a
vida um devoto e convicto ateu, quase no fim, resolveu ser coerente com
sua própria consciência ao afirmar:
“Minha jornada para a descoberta do
divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão. Segui o argumento até
onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um ser
auto-existente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente”. (Um ateu
garante, Deus existe, p. 144).
Até mesmo Paul Davies, embora
cético em um Deus pessoal, precisou reconhecer que estava atraído pela ideia de
que existe algum princípio racional por trás do cosmos que conduz a matéria em
direção a uma evolução para a vida e a inteligência. (Citado em: Ciência,
intolerância e fé, p. 64).
Bom, caberia ainda neste espaço,
dezenas de outros pensadores e cientistas reafirmando a mesma ideologia. No
entanto, meu objetivo não é construir uma dissertação, apenas uma singela
reflexão.
2º Infelizmente, assim como já
aconteceu no meio cristão, há muita desonestidade intelectual por parte de
muitos evolucionistas e ateus. É notório que, muitos fizeram das ideias de
Darwin sua substituta religião. A fé no darwinismo chega a ultrapassar a fé de
muitos religiosos. Lembrando que, é justamente o fanatismo o maior alimentador
da intolerância. Isto indica que, há, no meio acadêmico, muita ortodoxia
científica munida de profundo fanatismo materialista, consequentemente causando
profundas intolerâncias revestidas do verniz de uma suposta “proteção ao
cientificismo genuíno”. Abro um leque para perguntar, se é genuíno, por que não
abrir espaço para uma saudável discussão de ideias? Que eu saiba, no
academicismo informação nunca é demais, desde que sirva para o crescimento e maturidade
acadêmica. Neste caso, o design inteligente e o criacionismo se encaixam bem,
pois, não são pessoas fanáticas, sem fundamentações, irracionais ou que
desenvolvem um tipo de convicção fideística. São pessoas inteligentes,
estudadas, intelectuais, cientistas, filósofos e ocupam posições importantes e
estratégicas da ciência contemporânea, como por exemplo o Dr. Francis Collins,
um biólogo americano, considerado um dos mais notáveis cientistas da
atualidade. Diretor do Projeto Genoma, financiado pelo governo dos EUA,
que foi um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano, em 2001.
Este nobre cientista, inclusive,
lançou há pouco tempo nos Estados Unidos o livro “The Language of God” (A
Linguagem de Deus), contando como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos
27 anos. Para ele, religião e ciência não são incompatíveis, mas complementares.
Mas, nem todos pensam como Collins,
pois, são muitos os que militam a favor de uma origem sem Deus e sem
planejamento. O maior de todos os problemas é que, muitos destes militantes, se
utilizam de uma lente específica para observar somente aquilo que desejam
evidenciar. Por exemplo: em um determinado debate entre o dr. Nahor Neves, e o
dr. Mário Cesar, este último foi contundente ao afirmar que
“Para mim a visão materialista foi
uma grande libertação, eu me sentia grandemente desconfortável com a ideia de
um ser superior controlando tudo o que eu fazia, isto nunca me foi fonte de
gratificação e de felicidade.” (Debate na Sesc TV). Portanto, fica evidente
que, sua incredulidade em Deus é o que norteia seu ato de fazer ciência.
O Nietzcshe encarnado, Richard
Dawkins, também foi bem honesto ao dizer que, “Acho que Deus é muito improvável
e levo minha vida na predisposição de que ele não está lá” (Deus um
delírio, 2007).
“Predisposição”, segundo os
dicionários significa (A) Ato de predispor(-se). (B) Vocação, tendência,
pendor, inclinação, propensão: disposição, tendência natural para (algo);
inclinação. O que isto significa? Preciso ainda explicar? Creio que não, então
bola pra frente.
Agora, após a forte declaração
anti-Deus, nenhum pouco científica de Dawkins, fica difícil valorizar sua
afirmação de que, “Como amante da verdade, suspeito de crenças defendidas com
vigor que não sejam sustentadas pela evidência.” (O capelão do diabo, 2005).
Que evidências há em sua predisposição relatada acima?
Outro que dá bola fora é o
geneticista da Universidade de Harvard, Richard Lewontin, deixa muito claro que
suas convicções materialistas são a priori. Ele não apenas confessa
que seu materialismo não deriva de sua ciência, mas também admite, pelo
contrário, que é seu materialismo que de fato conscientemente determina a
natureza do que ele concebe ser ciência: “Nossa disposição de aceitar alegações
científicas que vão contra o senso comum é a chave para o entendimento da
verdadeira luta entre ciência e o sobrenatural”. Ele continua a afirmar que:
“Não é que os métodos e as instituições científicas de algum modo nos obriguem
a aceitar uma explicação material do mundo dos fenômenos, mas, ao contrário,
somos forçados, por nossa adesão a priori [conhecimento ou
justificação independente da experiência] a causas materiais, a criar um
aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações
materiais, por mais contraintuitivas que sejam, por mais difíceis de
compreender que sejam para os não iniciados”. (SAGAN, Carl. The Demon Haunted
World: Science as a Candle in the Dark, 9 de Janeiro de 1997). Em suma, sua fé
no materialismo, como ele mesmo confessa, não se origina de sua ciência, mas
sim de algo completamente diferente, como fica bem claro a partir do que ele
diz em seguida:
“Além disso, o materialismo é
absoluto, pois não podemos permitir um pé divino na porta”. (ibdem).
Contrariando a lógica de Lewontin,
como bem afirmou Lennox, matemático da oxford,
“O materialismo rejeita tanto o pé
divino quanto, pensando bem, a própria porta. Afinal, não existe um “lado de
fora” para o materialista – o “cosmos é tudo o que existe, ou existiu ou jamais
existirá”. [...] Lewontin não quer admitir um pé divino na porta – ponto
final”. (LENNOX, Por que a ciência não consegue enterrar Deus, p. 51).
Friedrich Nietzcshe também
exemplifica esse tipo de pessoa. Ele escreveu o seguinte:
“Se fosse preciso nos provar a
existência desse Deus dos cristãos, então devemos ser ainda menos capazes de
acreditar nele” (KAUFMANN, Walrer. The Antichrist,
seção 47 [publicado em português pela
Editora Centauro, O Anticristo], The Portable Nietzsche.
New York: Viking, 1968). E ainda escreveu que: “é nossa preferência que
decide contra o cristianismo, e não os argumentos”. (NIETZSCHE,
Friedrick. Apud Os GUINNESS, Timefor Truth. Grand Rapids, Mich.: Baker, 2000).
Me desculpe, mas, a lista é grande e
não poderia deixar de citar O imunologista George Klein afirmando que seu
ateísmo não se baseia na ciência, mas é um compromisso apriorístico de fé.
Comentando uma carta na qual um de seus amigos o descreveu como
agnóstico, ele escreve:
“Não sou agnóstico. Sou ateu. Minha
atitude não se baseia na ciência, mas sim na fé [...]. A ausência de um
Criador, a não existência de Deus é minha fé da infância, minha crença de
adulto, inabalável e santa”.
George Wald também foi contundente ao
afirmar:
“Não podemos aceitar essa
possibilidade [criação] por motivos filosóficos; portanto, optamos por
acreditar no impossível: que a vida surgiu espontaneamente por
acaso”. (The Orign of Life, Scientific American, 191:48. Mayo de 1954).
Wald foi contundente com esta declaração bombástica deixando claro que se trata
de uma questão filosófica a sua indigestão pela ideia de criação.
Paul Davies não deixou por menos:
“Não é necessário invocar nada
sobrenatural nas origens do Universo ou da vida. Jamais gostei da ideia de uma
intervenção divina: para mim é muito mais inspirador crer que um conjunto de
leis matemáticas possa ser tão engenhosa a ponto de fazer que todas as coisas
existam.” (Relatado por Clive Cookson, Scientists Who Glimpesed God,
Financial Times, 29 de abril de 1995, p. 20 – Citado por John Lennox, “Por que
a ciência não consegue enterrar Deus”, p. 90).
Enfim, como visto amigos, existe
muito mais indisposição filosófica que ciência propriamente dita. Há muito eu
acho, eu penso, eu digo do que empirismo contundente, experimentação fatídica
ou provas irredutíveis. As declarações que inseri acima, demonstram um
antagonismo puramente preconceituoso. Assim, me parece que, como bem expressou
Jonh Lennox
“O fato de existirem cientistas que
parecem estar em guerra contra Deus, não significa exatamente que a própria
ciência esteja em guerra contra Deus”. (Ibdem, p. 25).
Por este motivo que, Thomas Nigel,
professor de filosofia da New York University, ateu de carteirinha, escreveu um
livro intitulado “Mind and Cosmos”, onde afirma que a visão materialista e
naturalista do darwinismo está quase que certamente errada.
Assim, como discursou dr. Rodrigo
Silva, a microevolução é fato, no entanto, a macroevolução, até o presente
momento, mais se parece com a fada dos dentes citada por Dawkins em seu livro
“Deus um delírio”, do que um fato “elaboradamente” científico.
Ass: Gilberto Theiss
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