O retrato da mãe desmasculinizante na orientação homossexual do filho

Como o tema homossexualidade e "transgêneros" tem surgido com frequência nos últimos dias, daremos continuidade à nossa série de publicações que visam ampliar o debate e oferecer outras perspectivas acerca dos conceitos de orientação sexual e identidade de gênero. No texto atual, faremos uma pequena reflexão sobre o retrato da "mãe desmasculinizante" no comportamento homossexual do filho, procurando destacar o que seria considerado uma "mãe desmasculinizante" e qual a sua influência sobre o desenvolvimento da identidade de gênero.

O que é uma mãe desmasculinizante?

Para Gerard J. van den Aardweg, escritor e Doutor em Psicologia pela Universidade de Amsterdã, na Holanda, diretor da revista científica europeia "Empirical Journal of Same-Sex Sexual Behavior", dedicada a publicação de estudos que visam compreender o comportamento sexual, uma mãe desmasculinizante possui as seguintes características:

01 - Mãe supercarinhosa ou superprotetora que se preocu­pou demais com a saúde do filho;

02 - Mãe dominadora que subjugou o menino e o reduziu ao papel de dominado ou de amigo favorito;

03 - Mãe sentimental ou autodramatizante, que inconscientemente viu o menino como a menina que ela gos­taria de  ter  tido  (por exemplo, depois da morte de um  bebê do sexo feminino antes do nascimento do menino);

04 - Mãe mais velha que não pôde ter filhos quando era mais jovem;

05 - A avó que sentiu a necessidade de proteger o menino depois que a mãe o abandonou ou morreu;

06 - Mãe da criança que viu em seu filho mais uma boneca do que um bebê;

07 - Mãe adoti­va que numa atitude excessiva tratou o menino como uma criança desprotegida e carente de amor. (AARDWEG, 1997, Pg 32)

Para Aardweg, as características de uma mãe desmasculinizante explicam, em parte, o comportamento aparentemente homossexual de alguns meninos. Aparentemente, apenas, porque para esse autor a orientação sexual, diferente do que muitos acreditam, não se fixa entre os dois e quatros anos, em média, mas durante a pré-adolescência e adolescência. Dessa forma, ele acredita que um estereótipo afeminado, por exemplo, não caracteriza necessariamente a orientação homossexual.

A falta de referencial masculino e o comportamento sexual

Aardweg, asssim como muitos Psicólogos, Psicanalistas e Psiquiatras, acredita que a identidade de gênero associada à identidade sexual é resultado, também, primeiramente da referência paterna e materna, assim como do contexto onde a criança se desenvolve e suas experiências relacionais.

 Para esse autor, que também atua como terapeuta familiar, essa necessidade de imitação dos modelos é algo inato e orientado de acordo com o sexo de nascimento. Isto é; meninos procuram imitar homens adultos e outros meninos. Meninas imitam mulheres adultas e outras meninas:

"Normalmente, o instinto de imitação de um menino, depois de cerca de três anos, 
es­pontaneamente se dirige para modelos masculinos:  pai, ir­mãos, tios, professores e, na puberdade, para outros heróis masculinos. A necessidade de imitação das meninas dirige-se para modelos femininos. Isso é visto como uma característica inata ligada ao sexo.", escreveu ele. 

Todavia, quando esse contexto de imitação com base nas diferenças e funções sexuais, primeiramente, do pai e da mãe, não estão presentes, ou estão presentes, porém, de forma desequilibrada, confusa e sem referencial sólido, a criança desenvolverá maior identificação com o modelo (referência) que lhe for mais próximo(a), constante e influente afetiva e psicologicamente sobre ela. É nesse momento que uma mãe de característica "desmasculinizante" pode influenciar o desenvolvimento da identidade de gênero do filho de forma oposta ao sexo, mesmo sem ter a intenção:

"Quem acreditaria que  um meni­no criado por sua mãe e sua tia,  sem nenhum pai presente,  e que, além disso,  é tratado por sua mãe solitária como uma "amiguinha", se torne  um tipo masculino, um tipo firme? Ana­lisando as relações de infância, evidencia-se que muitos efeminados (sic) homossexuais vivem em grande dependência de sua mãe, na falta do pai, física ou psicologicamente", questiona Aardweg.

Por fim, o autor não generaliza sua constatação. Ele explica que apesar dessa perspectiva ser observada em muitos casos, outros não correspondem, atribuindo o desenvolvimento da orientação homossexual a outros fatores. Todos, porém, relacionados majoritariamente ao ambiente.

Outro ponto a se destacar na explicação de Aardweg é o que ele se refere à ausência psicológica do pai. Para o autor, ausência e falta de referencial, seja ele do pai ou da mãe, não significa, necessariamente, a ausência física, mas também psicológica, no sentido afetivo, de proximidade e relação. Nesse caso, um pai que não serve de modelo para o filho, conquistando dele admiração e respeito, mas invés disso sendo afetivamente distante e pouco representativo dentro da família, poderá constituir um tipo de referencial negativo do qual o filho irá rejeitar, preferindo se associar e imitar mais a mãe (mulher) do que ao pai (homem).


Uma nota para mães de características "desmasculinizantes"

Aarweg não trata dos motivos pelos quais algumas mães se tornam "desmasculinizantes". Esse é outro assunto. Também não pretende julgar o que deva ser um modelo ideal de representatividade materna ou paterna, mas apenas apresentar o que é típico do desenvolvimento sexual humano, no que diz respeito à busca por identificação com base na necessidade de modelos sexuais definidos.

Certamente, muitas mães passam por dilemas familiares e de relacionamentos amorosos que dificultam muito a orientação dos seus filhos. Muitas, como diz o senso comum, conseguem ser "pai e mãe" ao mesmo tempo, ao que parece, sabendo como estabelecer as diferenças e orientar os filhos, cada qual em acordo com o sexo de nascimento. Outras, por outro lado, se esforçam o máximo que podem, mas outros elementos interferem nesse processo.

Na geração atual, especialmente, onde a cultura e a mídia têm servido como alternativa de referência comportamental dentro do ambiente familiar, ocupando muitas vezes o lugar de autoridade dos próprios pais, fica ainda mais difícil essas mães conseguirem estabelecer modelos sólidos para os filhos, especialmente quando eles (os filhos) encontram o reforço de modelos alternativos fora de casa.

Finalmente, o que vale ressaltar é que você deve compreender cada caso e ser humano como um contexto único, buscando compreender quais os fatores em seu ambiente relacional que resultam no que você considera bom ou ruim. Em todo caso, é importante ter em mente que o comportamento humano como um todo não é um produto "pronto", "fechado", mas um fenômeno em constante transformação.