A Influência do Materialismo

O relato da criação apresenta de forma clara e explícita a noção de que o homem deve cuidar do mundo, funcionando como seu administrador (Gen. 1:28-29, 2:5ss).  Neste plano ideal, o homem estaria em harmonia com o ambiente no qual viveria , beneficiando-se dos bens que o mundo produz segundo as ordens do Eterno e devolvendo ao Eterno em cuidado pelo mundo e reconhecimento pelas Suas bênçãos no mundo. Isto seria um ato de adoração. O pecado destruiu a unidade primordial, estabelecendo uma dicotomia entre o mundo a ser cuidado e o homem seu cuidador, iniciando quase um estado de beligerância entre os dois. 

O homem não mais administraria, mas batalharia neste mundo por seu sustento.  A busca  de submeter o mundo, dominá-lo pela força substituiu o plano original de governo e administração. A busca constante pela submissão do mundo engloba todos os aspectos da vida. Ela efetivamente transforma a visão e motivação do ser humano.  Todo o coração, força, tempo, inteligência e recursos são postos a dispor desta tarefa.  Se o todo do ser está envolvido nesta tarefa, com este foco, nada é deixado para a tarefa administrativa que D-us havia primordialmente pensado para o homem.

Esta forma de pensar e viver determina até mesmo a compreensão histórica e social da humanidade no presente.  O chamado materialismo histórico, defendido por Marx, Engels, Luxemburgo e Lenin, dentre outros, afirma que é a realidade da vida é a produção, o modo como as necessidades são supridas e as lutas de classes que surgem em decorrência do meio pelo qual este suprir  se dá. Desta forma, o homem se encontra preso a uma cadeia de eventos determinada pelo binômio necessidade/solução. Não há lugar para ações espirituais, que são vistas como o ópio do povo. Por isto, o  materialismo, groso modo, é ateu. Não pode permitir a existência de uma divindade, que não apenas provê  mas também limita ética e moralmente os meios da obtenção da riqueza, afirmando que ao fim e ao cabo, tudo a Ela pertence (Ag. 2:8).

O pensamento bíblico se contrapõe a este modo de pensar. Embora reconheça a existência de necessidades ao afirmar que o Eterno é o provedor e dará chuva e lavoura de o povo for fiel (Lev. 26 e seguintes, Deut. 28), as Escrituras convidam a colocar D-us em primeiro lugar (Deut. 6:4,; 1. Cro. 16:11;  Mt. 6:33, etc.) entendendo e afirmando que Ele proveria as necessidades restaurando a harmonia entre o homem como administrador da Terra e seus bens e a Terra como habitat e provedora de bens para o homem.

O reconhecimento de que vivemos no mundo e temos o dever de administrá-lo é em si mesmo o reconhecimento do senhorio divino sobre este mundo por Ele criado. É também o reconhecimento de que os fenômenos sociais não podem apenas se basear na ciclicidade de eventos e no binômio acima proposto. D-us precisa fazer parte desta equação. A existência de uma realidade maios precisa ser uma variável considerada.

Quando todos os elementos são postos na equação,  ela se torna equilibrada e impede que o materialismo seja a filosofia individual empregada e a avareza seja o resultado. Isto porque, considerando o disse o Rabino Saulo de Tarso (Paulo), o amor do dinheiro é a raiz de todos os males  (1. Tim. 6:10).  O dinheiro traz uma falsa sensação de poder e alegria. E esta sensação é traduzida em confiança exacerbada em si mesmo e em sua capacidade de fazer e obter o que quiser.

Não há problemas em se lutar para obter o que é necessário para si e sua família. De igual maneira, não há problema algum em se obter, pelo trabalho, riquezas, pois estas também são bênçãos de D-us. O problema está em envolver todo o seu “coração, toda a sua alma” para obter estas riquezas, dando a elas o lugar que é de D-us. A verdadeira alegria cristã, advém de um relacionamento com D-us e tem D-us como seu centro. John Piper escreveu um fantástico livro chamado Teologia da Alegria, no qual ele trata da forma correta de se relacionar com alegria, prazeres, dinheiro.  Piper afirma que se todas estas coisas  começarem em D-us e retornarem para Ele, o cristão pode delas usufruir.

De maneira interessante, o Shema (Deuteronômio 6:4-10), recitado todos os dias por milhões de judeus ao redor do mundo, diz, no hebraico, que devemos amara a D-us de toda a nossa alma, com todo o coração e com todas as posses (não é entendimento). O termo hebraico me’od se refere a abundância, posses, víveres. Ou seja, o texto capitl da fé bíblica, afirma que as posses que obtemos, as riquexas que tivermos deve ser utilizada para amara a D-us.

Isto não significa que D-us quer nossas posses. Ele quer a nós. E conosco o reconhecimento de que Ele é a Fonte das bênçãos e das posses que temos e das riquezas que recebemos.   E que nós somos administradores destas!  E como administradores,  devemos usá-las sabiamente, no processo de melhoria deste mundo, mas em preparo para o mundo vindouro.

Ao final, como usamos e nos relacionamos com o dinheiro, prazeres, poder e tudo o que o mundo oferece, determina como enchemos nosso celeiro, quem é o nosso Senhor, e a qual mundo pertencemos, a este (Olam hazê) ou ao mundo futuro e verdadeiro (Olam habá) .

Pastor Sérgio Monteiro (IASP)